sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Conversando a respeito de variações linguísticas em sala de aula

                             
Segundo Bagno (2009), há uma tendência muito forte no ensino da língua de querer obrigar o aluno a pronunciar “do jeito que se escreve”, como se essa fosse a única maneira “certa” de falar português. Partindo desta afirmação, observamos que as variações linguísticas raramente são trabalhadas em sala de aula, o que ocorre com frequência é o ensino exagerado de gramática, não havendo espaço para a reflexão sobre a língua. Desta forma, nós, integrantes do PIBID, trabalhamos com turmas do Ensino Médio, o tema  variações linguísticas.
Para a realização desta aula, trouxemos uma dinâmica inicial com o texto:
Assaltante Nordestino
Ei, bichim...
Isso é um assalto... Arriba os braços e num se bula nem se cague e nem faça bagunça...
Arrebola o dinheiro no mato e não faça pantim senão enfio o peixeira no teu bucho e boto teu pra fora!”
Perdão meu Padim Ciço, mas é que eu tô com uma fome de moléstia...

Assaltante Mineiro
Ô sô, prestenção... Isso é um assalto, uai...
Levanta os braços e fica quetin que esse trem na minha mão tá cheio de bala...
Mió passá logo os troado que eu num tô bão hoje.
Vai andando, uai! Tá esperando o que uai!

Assaltante Gaúcho
Ô guri, ficas atento... Báh, isso é um assalto.
Levantas os braços e te quieta, tchê.
Não tentes nada e cuidado que esse facão corta uma barbaridade, tchê.
Passa as pilas prá cá! E te manda a la cria, senão o quarenta e quatro fala.

Assaltante Carioca
Seguiiinnte, bicho ... Tu te ferrô. Isso é um assalto...
Passa a grana e levanta os braço rapá... Não fica de bobeira que eu atiro bem...
Vai andando e se olhar pra trás vira presunto...

Assaltante Baiano
Ô meu rei... ( longa pausa)
Isso é um assalto... (longa pausa)
Levanta os braços, mas não se avexe não... (longa pausa)
Se num quiser nem precisa levantar, pra num ficar cansado... Vai passando a grana, bem devagarinho... (longa pausa)
Num repara se o berro está sem bala, mas é pra não ficar muito pesado... Não esquenta, meu irmãozinho, (longa pusa)
Vou deixar teus documentos na encruzilhada...

Assaltante Paulista
Ôrra, meu... Isso é um assalto, meu... alevanta os braços, meu.
Passa a grana logo, meu...
Mais rápido, meu, que eu ainda preciso pegar a bilheteria aberta pra comprar o ingresso do jogo do Curintia, meu... Pô, se manda, meu...
(Disponível em:
http://crv.educacao.mg.gov.br/sistema_crv/escolaintegral/pdf/Oficina3_VariacaoLinguistica.pdf)

Em seguida, conversamos com os alunos a respeito das variações linguísticas (o que são, por que ocorrem, como ocorrem), também discutimos a questão do preconceito linguístico, temas, até então, por eles desconhecidos.
Para ilustrar e completar ainda mais a discussão, trouxemos a melodia e a letra das canções:

Deixando o pago (Vitor Ramil)
Alcei a perna no pingo
E saí sem rumo certo
Olhei o pampa deserto
E o céu fincado no chão
Troquei as rédeas de mão
Mudei o pala de braço
E vi a lua no espaço
Clareando todo o rincão

E a trotezito no mais
Fui aumentando a distância
Deixar o rancho da infância
Coberto pela neblina
Nunca pensei que minha sina
Fosse andar longe do pago
E trago na boca o amargo
Dum doce beijo de china

Sempre gostei da morena
É a minha cor predileta
Da carreira em cancha reta
Dum truco numa carona
Dum churrasco de mamona
Na sombra do arvoredo
Onde se oculta o segredo
Num teclado de cordeona

Cruzo a última cancela
Do campo pro corredor
E sinto um perfume de flor
Que brotou na primavera.
À noite, linda que era,
Banhada pelo luar
Tive ganas de chorar
Ao ver meu rancho tapera

Como é linda a liberdade
Sobre o lombo do cavalo
E ouvir o canto do galo
Anunciando a madrugada
Dormir na beira da estrada
Num sono largo e sereno
E ver que o mundo é pequeno
E que a vida não vale nada [...]
(Disponível em: http://letras.mus.br/vitor-ramil/200615/)


Assum preto (Luíz Gonzaga)
Tudo em vorta é só beleza
Sol de Abril e a mata em frô
Mas Assum Preto, cego dos óio
Num vendo a luz, ai, canta de dor (bis)
Tarvez por ignorança
Ou mardade das pió
Furaro os óio do Assum Preto
Pra ele assim, ai, cantá de mió (bis)
Assum Preto veve sorto
Mas num pode avuá
Mil vez a sina de uma gaiola
Desde que o céu, ai, pudesse oiá (bis)
Assum Preto, o meu cantar
É tão triste como o teu
Também roubaro o meu amor
Que era a luz, ai, dos óios meus
Também roubaro o meu amor
Que era a luz, ai, dos óios meus.
(Diponível em: http://letras.mus.br/luiz-gonzaga/47082/)


Saudosa Maloca  (Adoniran Barbosa)
Si o senhor não "tá" lembrado
Dá licença de "contá"
Que aqui onde agora está
Esse "edifício arto"
Era uma casa véia
Um palacete assombradado
Foi aqui seu moço
Que eu, Mato Grosso e o Joca
Construímo nossa maloca
Mais, um dia
Nóis nem pode se alembrá
Veio os homi c'as ferramentas
O dono mandô derrubá
Peguemo todas nossas coisas
E fumos pro meio da rua
Aprecia a demolição
Que tristeza que nóis sentia
Cada táuba que caía
Duia no coração
Mato Grosso quis gritá
Mas em cima eu falei:
Os homis tá cá razão
Nós arranja outro lugar
Só se conformemo quando o Joca falou:
"Deus dá o frio conforme o cobertor"
E hoje nóis pega a páia nas grama do jardim
E prá esquecê nóis cantemos assim:
Saudosa maloca, maloca querida,
Dim dim donde nóis passemos os dias feliz de nossas vidas
Saudosa maloca,maloca querida,
Dim dim donde nóis passemo os dias feliz de nossas vidas.
(Disponível em: http://letras.mus.br/adoniran-barbosa/43969/)


Podemos afirmar que as aulas tiveram êxito. Os alunos demonstraram interesse e participaram nas atividades propostas. Além disso, nós, pibidianos, também nos sentimos gratificados de ter a oportunidade de trabalhar com variações e preconceito linguístico, tema amplamente discutido no âmbito universitário do curso de Letras. Assim, pudemos ver laços entre teoria e prática.

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