sexta-feira, 25 de janeiro de 2013



GÊNEROS TEXTUAIS E O PROCESSO DA ESCRITA

       O estudo dos gêneros textuais é hoje um dos mais discutidos em trabalhos acadêmicos. O motivo talvez seja a “desvalorização” do estudo da gramática normativa. Quando falamos em desvalorização não nos referimos à sua depreciação, mas sim a uma transferência: a gramática normativa passou de prioridade a segundo plano. Hoje o objetivo maior em analisar um texto, é observar diversos critérios que vão muito além do estudo da gramática, isso porque o peso da avaliação em vestibulares e concursos está na clareza das ideias e na facilidade em expressá-las. Assim, é indispensável que o aluno tenha em seu acervo diversos modelos de textos dos quais poderá valer-se, assim como a perfeita consciência de quando poderá empregá-los.

            A Crônica como instrumento de trabalho

            As crônicas são narrações que possuem uma linguagem irônica, séria ou humorística e é o gênero preferido dos professores para trabalhar. Além de seu conceito ser de fácil assimilação, é realmente divertido e prende a atenção dos alunos, sendo que nesse momento eles estão absorvendo o máximo possível de informação.
            Para alunos que estão saindo do ensino fundamental, assim como os que já estão no ensino médio, a crônica é uma excelente opção de texto para influenciá-los principalmente a ler, já que os alunos que estão se preparando para o vestibular encontram-se imersos nas leituras fatigantes que lhes são propostas, o que resulta em uma diminuição no desempenho deles na escrita, além de, para muitos, tornar-se o estopim para o desgosto pela leitura. Por isso, qualquer aluno que tiver oportunidade de conhecer os gêneros textuais (principalmente as crônicas) tomará gosto pela leitura, além de ampliar seus horizontes na escrita, produzindo textos cada vez melhores, com bons argumentos, boa estrutura e que atrairão bons leitores.
            Graças ao PIBID, tivemos a oportunidade de  apresentar o conceito de crônica e alguns exemplos em duas turmas de 8° ano de um colégio estadual de Irati - PR, em que foi possível perceber o quão interessados os alunos ficaram, já que demonstraram não terem tido contato com esse gênero até então. Ao aplicar uma prática relacionada ao conceito exposto, os alunos empenharam-se de forma satisfatória para realizá-la. Entre os resultados obtidos com a exposição do gênero crônica, podemos destacar:

- Ampliação do vocabulário;
- Esclarecimento de ideias;
- Capacidade de identificar gêneros textuais;
- Momento de descontração para a turma, propiciado por atividades dinâmicas;
- Iniciativa dos alunos para discussão do tema e seu emprego na escrita;

Portanto, podemos afirmar que é possível trabalhar em equilíbrio dentro das salas de aula: ensinar aos alunos as normas e regras da nossa língua, assim como apresentá-los aos diversos tipos de textos e seu emprego nas produções textuais de modo a atraí-los à leitura e à escrita, tornando essa prática uma atividade cativante e precursora da ampliação dos horizontes desses alunos. 

TEXTO DO ALUNO: O APRENDIZADO NO PAPEL



Uma das práticas mais importantes nas aulas de Língua Portuguesa é a produção de textos. E nós, bolsistas-PIBID, temos consciência desta importância e, por isso, grande parte de nosso trabalho com os alunos volta-se para a produção textual.
Com o texto do aluno, podemos visualizar o que ele assimilou das aulas, ou seja, vemos o aprendizado do aluno no papel.
Uma das nossas produções textuais, realizada no 1° semestre de 2011, envolveu o seguinte comando de produção:
 Com base nos textos trabalhados: a fábula ‘A corrida dos sapinhos’; a letra da música ‘Tente outra vez’ e os filmes ‘Desafiando Gigantes’ (fragmentos) e ‘A procura da felicidade’, elabore um texto narrativo abordando a principal temática: determinação, persistência e confiança. Tente mostrar em seu texto que apesar das dificuldades podemos superar qualquer obstáculo.

E eis um ótimo texto produzido por um aluno do 1° ano do Ensino Médio de uma escola pública de Irati-PR, em 2011:

Quem persiste consegue o que quer

João era um rapazinho que desde pequeno sonhava em ser jogador de futebol, mas era impedido por uma série de fatores que o prejudicava em seus sonhos. Ele residia na favela, era adotado e não tinha bem material, a não ser uma velha chuteira de couro, abatida pelo tempo de uso.
            Sempre que começava a falar de futebol seu pai, um pedreiro, interrompia-o e exaltava a falta de recursos econômicos na residência. João sempre ia a sua cama e questionava silenciosamente a Deus se merecia isso.
            Passado alguns anos, João já Havaí adentrado no serviço como ajudante de seu pai, que cada vez mais ranzinza, sempre cortava seu sonho. Além de ajudante de pedreiro, fazia bicos como ‘barman’.
            Começou a acumular dinheiro para fazer o teste no Santo André e comprar um par de chuteiras. Embora bom de bola, nunca conseguia atingir a quantidade necessária de capital para a avaliação, até que no dia 20 de abril, um grande jogador de futebol foi até a favela fazer um ato beneficente e reparou na grande capacidade e talento de João para o futebol.
O profissional conversou com João e levou-o gratuitamente até o centro de treinamento de São Paulo, onde foi aprovado, retirando sua família da miséria, da favela, levando seus pais para residir no bairro Morumbi, e graças a sua persistência, mesmo com grandes dificuldades derrotou a miséria e “venceu na vida”, sendo um dos melhores jogadores de futebol do Brasil.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Dicas de Leitura


         A matemática é pop
         A nossa sugestão de leitura de hoje é voltada para uma entrevista  com a "Lady Gaga da matemática", apelido um tanto incomum para quem atua  nessa área "hard" da ciência, publicada na coluna Carta na Escola, da Revista Carta Capital. Trata-se da entrevista com Cédric Villani, professor da Universidade de Lyon e diretor do Instituto Henry Poincaré, bem como "da paixão que transmite pela Matemática e da facilidade com que prende a atenção do espectador mais leigo para questões e problemas que por anos intrigaram cientistas e pensadores".
         Villani nos faz pensar a respeito da importância de adotarmos em sala técnicas que cativem os alunos, bem como que é preciso desmistificar a ideia pré-concebida de muitos de que "a matemática é difícil" – fato que pode ser transferido ao ensino de português, também, e que nos faz perguntar: Cadê as 'Ladys Gagas da Língua Portuguesa'?
A entrevista pode ser conferida neste endereço:
http://www.cartacapital.com.br/carta-na-escola/a-matematica-e-pop/
Boa leitura!
Por Loremi Loregian

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Como você avalia as produções textuais de seus alunos?


Já pensou em dialogar com o aluno e seu texto?
Veja a nossa experiência: O bilhete em uma prática de avaliação dialógica
Nas aulas de Língua Portuguesa dos bolsistas do PIBID é realizado, com grande ênfase, o trabalho com a produção textual, envolvendo gêneros diversos. Sendo assim, é necessário também avaliar os textos produzidos. Logo, é preciso saber que avaliar não é somente caçar erros dos alunos, mas ser um professor-leitor, interessado no que o aluno tem a dizer, interagindo com o texto e seu autor.
Cabe aqui expor uma das experiências desenvolvidas com produções de textos narrativos e avaliação textual interativa por meio do bilhete em turmas do 1° ano do Ensino Médio de uma escola pública de Irati-PR, no ano de 2011.
 No decorrer de algumas aulas, foi proposto aos alunos a produção de uma narrativa, seguida da avaliação desses textos e de sua reescrita, a partir dos apontamentos (bilhetes) realizados na primeira escrita. Assim, após um longo trabalho com propostas de leituras de crônicas, fábulas, letras de música e filmes, foi destinado aos alunos a seguinte proposta de produção:
“Com base nos textos trabalhados: a fábula ‘A corrida dos sapinhos’; a letra da música ‘Tente outra vez’ e os filmes ‘Desafiando Gigantes’ (fragmentos) e ‘A procura da felicidade’, elabore um texto narrativo abordando a principal temática: determinação, persistência e confiança. Tente mostrar em seu texto que apesar das dificuldades podemos superar qualquer obstáculo.”
Após o término da primeira escrita, os textos foram recolhidos e foi dado início ao processo de avaliação textual: nós, bolsistas PIBID, atuamos como avaliadores-leitores e baseando-nos no dialogismo, construímos bilhetes nos textos dos alunos com o intuito de provocar e instigar a reescrita, na qual os estudantes observassem as dicas, as críticas, sugestões, elogios e indagações a respeito da narração e, a partir da interação com os bilhetes, refletissem e voltassem com uma nova versão muito mais elaborada do texto. 
Após a reescrita, foram realizadas comparações entre as duas versões textuais, analisando como os alunos responderam aos bilhetes na reescrita e que melhorias textuais floresceram dessas respostas. A maioria dos alunos respondeu de forma positiva aos bilhetes. A título de exemplo, seguem, abaixo, trechos de dois textos, mostrando a primeira produção escrita, bem como o bilhete escrito por uma bolsista PIBID e a reescrita desse texto pelos alunos, apontando aspectos que foram atendidos, principalmente no conteúdo textual.
TEXTO 1:
Escrita
(trecho da 1ª versão)
Bilhete
Reescrita
 (trecho da 2ª versão)
Superação (título)
(...) – Pedrinho, nunca desista de você, tenha confiança, persistência.
Então o menino cresceu e superou todos os obstáculos que encontrou no caminho, superou o preconceito na escola e na vida, conseguiu seu primeiro emprego e foi evoluindo, acreditando em si próprio, sempre com o apoio da mãe. (...)
- Seu texto está bom, porém, seria interessante você reescrevê-lo falando um pouco mais sobre este preconceito e a superação;
- Que tal dar um título mais interessante para a sua narração?
- Você poderia acrescentar mais emoção para sua história, pois parece que foi tão fácil Pedrinho ter conseguido superar as dificuldades. E mais, você esqueceu de falar quais foram estas dificuldades enfrentadas e depois vencidas por Pedrinho.

Uma vida de superação (título)
(...) – Pedrinho, nunca desista de você, tenha confiança, persistência.
E o menino ficava com os olhos estáticos e os ouvidos bem abertos para escutar o que sua mãe dizia.
Passados vários anos, ele cresceu, não só em estatura, ficou muito mais maduro e com sua autoestima reerguida. Passou a ignorar o preconceito, superando todos os obstáculos que encontrou na vida: o desrespeito, as diferenças sociais, físicas e econômicas.
Pedro conseguiu seu primeiro emprego em uma empresa e com muito suor e dedicação, foi prosperando nesta empresa. (…)

TEXTO 2:
Escrita
(trecho da 1ª versão)
Bilhete
Reescrita
 (trecho da 2ª versão)
(o aluno esqueceu de colocar um título)
(...) Em um dia ensolarado, iria acontecer um sacrifício de um homem na arena, ele iria ser jogado aos leões.
(...) Aquele leão havia morrido, mas havia mais um leão além daquele morto. Robert saltou nas costas do leão e deu uma facada. O leão não morreu, respondeu a facada com uma patada na perna de Robert, após alguns minutos o leão morreu e Robert não resistiu a patada em sua perna.
E o homem morre e Felícia fica traumatizada com a cena e se põe a chorar. E com aquela faca que estava na mão de Robert, Felícia  se mata.
- Você escreveu um bom texto, mas, principalmente no final, você fugiu da proposta de produção (que era a superação de um obstáculo). Reescreva seu texto elaborando um novo final, mostrando que Robert, com seu esforço, alcança um final feliz.
- Gostaria de saber por que ocorriam os sacrifícios na arena. Era um costume do povoado? Você poderia comentar isto no texto.
   - Coloque um título bem criativo em seu texto. Que tal?

Tudo por amor (título)
(...) Em um dia ensolarado, iria acontecer um sacrifício de um homem na arena, em que eram soltos alguns leões e nesses sacrifícios todos que moravam ali por perto, sempre iam ver, inclusive a pricesa e o homem apaixonado.
..  (...) Aquele leão havia morrido, mas havia mais um leão além daquele morto. Robert, muito corajoso, saltou nas costas do leão e deu uma facada. O leão não morreu e correspondeu  a facada com uma patada na perna de Robert. Após alguns minutos, o animal morreu e Robert com muita perseverança pegou a luva e entregou-a para Felícia e eles se casaram e foram felizes para sempre, como nos contos de fada.

            Nas reescritas textuais, constatou-se que os alunos interagiram, “responderam” às dicas e orientações presentes no bilhete: refletiram e modificaram o título da narração, acrescentaram mais detalhes em seu texto, organizando melhor as ideias e, principalmente, usaram mais criatividade em sua reescrita, mudanças essas resultantes do diálogo estabelecido com o professor-leitor, via bilhete.
É importante ressaltar que os bilhetes foram direcionados para que estes atuassem como uma “conversa” com o autor e seu texto, estabelecendo diálogos. Na elaboração dos bilhetes, foi tomado muito cuidado para que eles não tivessem o caráter de ordem. Para tanto, foram utilizadas expressões como: “seria interessante”; “que tal”; “você poderia”, que serviram como orientações e sugestões para mudanças textuais. E, ainda, antes de criar os bilhetes, a bolsista-PIBID se posicionou realmente como uma leitora dos textos, assumindo o papel de interlocutora, tentando compreender o raciocínio do aluno/locutor para poder intervir. Por isso foram citados nos bilhetes nomes de personagens, situações acontecidas na narração, demonstrando, de fato, interesse na história narrada. O bilhete orientativo pedia mudanças não só na estrutura da narrativa, mas principalmente no conteúdo, o que implicava na atenção para a revisão e à reescrita.

Para mais informações acerca deste trabalho de avaliação textual realizado pelos bolsistas PIBID acesse: <http://www.encontrosdevista.com.br/Artigos/Avalia%C3%A7%C3%A3o%20da%20produ%C3%A7%C3%A3o%20escrita.pdf>

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013


'Letramentos' e o 'Dia do leitor'
       Como deve ser de seu conhecimento, 07 de janeiro é considerado o "Dia do leitor".
       Para comemorar e refletir a respeito dessa data, nada como pensarmos a respeito do termo 'letramento'. Afinal, o que significa ser letrado? E, mais, em que grau de letramento eu, você, cada um se encaixa? Há letramento ou letramentos? Pensando nisso, segue a sugestão de um artigo da linguista, e uma das maiores estudiosas do assunto, Magda Soares, intitulado "Novas práticas de leitura e escrita: Letramento na cibercultura", disponível em: http://www.scielo.br/pdf/es/v23n81/13935.pdf
      No texto, Soares "busca uma melhor compreensão do conceito de letramento, confrontando tecnologias tipográficas e tecnologias digitais de leitura e de escrita, a partir de diferenças relativas ao espaço da escrita e aos mecanismos de produção, reprodução e difusão da escrita; argumenta que cada uma dessas tecnologias tem determinados efeitos sociais, cognitivos e discursivos, resultando em modalidades diferentes de letramento, o que sugere que a palavra seja pluralizada: letramentos, não letramento".

Boa leitura!

Liberdade para escrever


Nas aulas de Língua Portuguesa há a liberdade para escrever? 
Os professores de Língua Portuguesa possuem as suas missões, dentre elas está ensinar o aluno a produzir textos, mas como esta missão está sendo desenvolvida?
Muitas vezes nos prendemos a um livro didático que direciona as nossas escolhas, dentro dele encontramos quase tudo o que precisamos para desenvolver nossa aula de Língua Portuguesa, mas será que as aulas devem ser realizadas apenas com base em nosso "amigo" livro didático?
Não. O livro didático pode ser ótimo e oferecer várias ideias, mas você, professor, é um ser criativo e o seu papel é sempre despertar no aluno a curiosidade para aprender. No entanto, desperte primeiramente a sua criatividade.

Dicas para despertar a sua criatividade e depois o interesse de seu aluno:


- Desprenda-se do livro didático na hora de ensinar o seu aluno a produzir textos, quando o aluno possuir um objetivo ele escreverá melhor, este objetivo pode ser um jornal da escola ou um concurso literário.

- Tendo um objetivo, o aluno não estará escrevendo o texto apenas para uma pessoa ler que sempre é você, professor, ele estará escrevendo para outras pessoas, para interlocutores reais.

- Contendo um objetivo diferente daquele que sempre é proposto: aprender a escrever corretamente e tirar notas, o aluno irá dedicar-se de forma diferente também.


Quais são os temas propostos nas salas de aula para a produção textual? 
* Notícias diversas.
* Bullying.
* Tipos de violências.
* Textos narrativos.
* Uma narrativa baseada no tema da sua aula.

Ou seja, são temas já muito explorados e cansativos para os alunos, escrever deve ser um ato de expor suas  ideias, seus pensamentos e sua criatividade.
Quando o aluno perceber que escrever não é algo difícil e que pode ser realizado de forma prazerosa será mais fácil ensinar a gramática, coesão e coerência, entre outros.
Antes de estipular qualquer tema para o seu aluno produzir um texto dissertativo (que futuramente irá escrever em concursos e vestibulares) você, professor, deve pensar em mostrar ao aluno o verdadeiro significado de um texto.
Comece dando a liberdade da escrita, permita que seu aluno escreva algo de seu contexto e de sua vontade, isto porque, como nos ensina Paulo Freire:


"Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção."
Paulo Freire



sexta-feira, 4 de janeiro de 2013


A importância do professor-leitor

O aprendizado desperta vários processos internos de desenvolvimento, e o ser humano é extremamente capaz de absorver novos conhecimentos durante sua formação escolar, bem como durante toda sua existência.
Faz-se necessário verificar a realidade do ensino de leitura nas escolas, levantar hipóteses de onde pode estar o problema e do que pode ser feito, com o objetivo de melhorar a qualidade de formação dos alunos.
Podemos ressaltar que, na prática, é difícil nos depararmos com professores-leitores, o que dificulta o processo de leitura dos alunos, e levando em consideração o fato de o professor “dar” e ”ser” exemplo, podemos afirmar que o professor tem o dever de investir nos processos de leitura, criando novas estratégias, inovando a cada aula, porém sem fugir das expectativas dos alunos e sempre visando um melhor interesse e desempenho do aluno em relação à leitura. Conforme destaca Aguiar,
                         “A linguagem verbal é, dentre as formas de expressão e comunicação, a mais utilizada pelo homem [...]. Registrando a linguagem verbal através do código escrito, o livro é o documento que conserva a expressão do conteúdo da consciência humana individual e social de modo cumulativo. Ao decifrar-lhe o texto, o leitor estabelece elos com as manifestações sócio-culturais que lhe são distantes no tempo e no espaço” (Aguiar, 1988, p.09).
Em contrapartida, facilmente encontramos professores que não são leitores, valendo-se muitas vezes de resumos (fáceis de ser encontrados) e que cobram a leitura somente por obrigação, sem ao menos estabelecer um objetivo aos alunos.
Não podemos generalizar, porém existem professores que não têm clareza do processo de formação de alunos-leitores e acabam por não proporcionar ao aluno o prazer da prática de leitura. Prática essa que é de grande importância, visto que abre novos horizontes aos alunos.
Uma criança não nasce leitora e, em todas as fases da vida, tanto nos processos naturais quanto nos não tão naturais, precisam ser apresentadas oportunidades para que ela aprenda coisas novas, visando suprir essa necessidade que o ser humano tem de estar em constante desenvolvimento.
Algumas pessoas têm contato com material escrito ainda no “berço”, porém existem aquelas em que esse contato ocorre, apenas, na escola, sendo esse mais um motivo para que se ensine com qualidade, pois,
“Todas as pessoas, desde a infância, são  portanto, leitoras em formação, uma vez que estão constantemente atribuindo sentidos às mais diversas manifestações da natureza e da cultura” (Magnani, 1989, p.91).
 Com relação à leitura, o que pode ser feito é insistir na formação de professores-leitores, visando um melhor desempenho na sua prática.
Enfim, nas práticas leitoras é preciso “ser” e “dar” exemplo, pois assim possivelmente o aluno irá adquirir mais interesse em aprender.


Caros leitores,
A nossa primeira sugestão de leitura de 2013 segue, a seguir, na íntegra, e continua abordando a temática do Acordo Ortográfico. Trata-se de uma carta enviada ao Ministro da Educação pela linguista Stella Maris Bortoni-Ricardo, publicada em http://www.stellabortoni.com.br/, e da resposta do também linguista Carlos Alberto Faraco. A leitura e a divulgação dos argumentos ali postos são fundamentais. Vamos à leitura.

"Prezado Ministro da Educação,
Vejo que o MEC está novamente às voltas com o Acordo Ortográfico e é interessante constatar que hoje no Brasil há tantas pessoas palpitando sobre normas ortográficas quantos técnicos escalando a seleção brasileira de futebol. Muitos desses palpiteiros fazem lobby junto ao Congresso Nacional e cada um tem uma determinada regra que gostaria de ver alterada: acha esquisito escrever “ideia” sem acento e, pior ainda, suprimir o trema, temerosos de que as próximas gerações não saibam pronunciar “linguiça” ou “frequência”.
O Brasil transformou o Acordo Ortográfico em lei para honrar sua concordância com as novas normas no âmbito da Comunidade de Países de Língua Portuguesa _ CPLP _ em 1990. A intenção era terem os oito países dessa Comunidade um sistema unificado de representação escrita, de modo a facilitar o uso da Língua Portuguesa em organismos internacionais, bem como a incrementar intercâmbio de material impresso , em papel ou em meio eletrônico. Recentemente o Governo Federal resolveu ampliar o prazo de obrigatoriedade das normas acordadas. Agora estão falando em aproveitar esse prazo e modificar o conteúdo do referido Acordo. Senhor Ministro, assim que aprovado na forma da lei, o Acordo implicou um imenso conjunto de providências no Brasil, principalmente em relação ao material impresso no país. Isso tudo teve um custo alto, que seria desejável que fosse avaliado por órgãos da sociedade civil, como a ABI e o CBL . Todos os livros didáticos, por exemplo, adquiridos pelo MEC por meio do PNLD, adaptaram-se à nova ortografia. Também os cidadãos que desejam fazer concursos públicos, inclusive os vestibulares e o ENEM, correram atrás e fizeram cursinhos, o que também tem um custo alto , financeiro e em termos de horas de trabalho. Reformas ortográficas são de fato muito onerosas, por isso países mais industrializados do que o nosso, como os países de língua inglesa ou língua francesa não as fazem.
Senhor Ministro, temos ainda no Brasil 13,9 milhões de jovens, adultos e idosos que não sabem ler nem escrever – ou 9,6% da população de 15 anos ou mais, segundo o Censo 2010 –, e os governos e a sociedade brasileira terão de dobrar o ritmo de queda do analfabetismo para cumprir a meta assumida perante a ONU de chegar à taxa de 6,7% em 2015. Além disso temos o equivalente à população de dois Chiles de analfabetos funcionais. A superação desses problemas tem de ser a prioridade de seu Ministério, e não as minudências referentes a um Acordo Ortográfico, já aprovado e em vias de consolidação.
Feliz Ano Novo.
Stella Maris Bortoni
Professora Titular de Linguística, UnB".


Resposta de Carlos Alberto Faraco (publicada em http://www.stellabortoni.com.br/)
"Prezada Stella Maris:
Parabéns pela iniciativa. O governo brasileiro cometeu um erro enorme ao prorrogar o prazo de implantação das normas do Acordo de 1990. Abriu mão de uma liderança que construiu desde 2004, quando a diplomacia brasileira "ressuscitou" (com vistas a seus interesses nos organismos internacionais) o Acordo. Com a medida, instaurou uma incerteza no espaço lusófono em geral e, entre nós, instaurou incertezas no mundo editorial e escolar. Desrespeitou a Comissão técnica (de que nós fizemos parte) que assessorou o governo federal na implantação do Acordo. Por fim, deu oxigênio às mais estapafúrdias propostas de "acordar melhor" - bobagens de quem claramente não entende nada de ortografia e da construção histórica da nossa ortografia em particular.

O que justifica a prorrogação quando a ortografia do Acordo foi adotada em janeiro de 2009 por toda a imprensa brasileira e progressivamente pelas editoras do país? O que justifica a prorrogação quando o PNLD (o maior programa editorial do Brasil e um dos maiores do mundo) exigiu o uso da ortografia do Acordo a partir de 2010? O que justifica a prorrogação quando os sistemas de ensino divulgaram amplamente as (irrisórias) mudanças? O que justifica a prorrogação considerando os custos de implantação da ortografia do Acordo, já consolidada entre nós?

A prepotência burocrática dos nossos governantes e a total irresponsabilidade da medida são, de fato, impressionantes. Vou ajudar a divulgar a sua carta, muito oportuna.

Um abraço.
Faraco"