Já pensou em dialogar com o aluno
e seu texto?
Veja a nossa experiência: O
bilhete em uma prática de avaliação dialógica
Nas aulas de
Língua Portuguesa dos bolsistas do PIBID é realizado, com grande ênfase, o
trabalho com a produção textual, envolvendo gêneros diversos. Sendo assim, é
necessário também avaliar os textos produzidos. Logo, é preciso saber que
avaliar não é somente caçar erros dos alunos, mas ser um professor-leitor,
interessado no que o aluno tem a dizer, interagindo com o texto e seu autor.
Cabe aqui expor
uma das experiências desenvolvidas com produções de textos narrativos e
avaliação textual interativa por meio do bilhete em turmas do 1° ano do Ensino
Médio de uma escola pública de Irati-PR, no ano de 2011.
No decorrer de algumas aulas, foi proposto aos
alunos a produção de uma narrativa, seguida da avaliação desses textos e de sua
reescrita, a partir dos apontamentos (bilhetes) realizados na primeira escrita.
Assim, após um longo trabalho com propostas de leituras de crônicas, fábulas,
letras de música e filmes, foi destinado aos alunos a seguinte proposta de
produção:
“Com base nos textos trabalhados: a fábula
‘A corrida dos sapinhos’; a letra da música ‘Tente outra vez’ e os filmes
‘Desafiando Gigantes’ (fragmentos) e ‘A procura da felicidade’, elabore um
texto narrativo abordando a principal temática: determinação, persistência e
confiança. Tente mostrar em seu texto que apesar das dificuldades podemos
superar qualquer obstáculo.”
Após o término
da primeira escrita, os textos foram recolhidos e foi dado início ao processo
de avaliação textual: nós, bolsistas PIBID, atuamos como avaliadores-leitores e
baseando-nos no dialogismo, construímos bilhetes nos textos dos alunos com o
intuito de provocar e instigar a reescrita, na qual os estudantes
observassem as dicas, as críticas, sugestões, elogios e indagações a respeito
da narração e, a partir da interação com os bilhetes, refletissem e voltassem
com uma nova versão muito mais elaborada do texto.
Após a
reescrita, foram realizadas comparações entre as duas versões textuais,
analisando como os alunos responderam aos bilhetes na reescrita e que melhorias
textuais floresceram dessas respostas. A maioria dos alunos respondeu de forma
positiva aos bilhetes. A título de exemplo, seguem, abaixo, trechos de dois textos,
mostrando a primeira produção escrita, bem como o bilhete escrito por uma
bolsista PIBID e a reescrita desse texto pelos alunos, apontando aspectos que
foram atendidos, principalmente no conteúdo textual.
TEXTO 1:
Escrita
(trecho da
1ª versão)
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Bilhete
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Reescrita
(trecho da 2ª versão)
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Superação
(título)
(...) – Pedrinho, nunca desista de você,
tenha confiança, persistência.
Então o menino cresceu e superou todos os
obstáculos que encontrou no caminho, superou o preconceito na escola e na
vida, conseguiu seu primeiro emprego e foi evoluindo, acreditando em si
próprio, sempre com o apoio da mãe. (...)
|
- Seu texto está bom, porém, seria
interessante você reescrevê-lo falando um pouco mais sobre este preconceito e
a superação;
- Que tal dar um título mais interessante
para a sua narração?
- Você poderia acrescentar mais emoção
para sua história, pois parece que foi tão fácil Pedrinho ter conseguido
superar as dificuldades. E mais, você esqueceu de falar quais foram estas
dificuldades enfrentadas e depois vencidas por Pedrinho.
|
Uma vida de superação (título)
(...) – Pedrinho, nunca desista de você,
tenha confiança, persistência.
E o menino ficava com os olhos estáticos e
os ouvidos bem abertos para escutar o que sua mãe dizia.
Passados vários anos, ele cresceu, não só
em estatura, ficou muito mais maduro e com sua autoestima reerguida. Passou a
ignorar o preconceito, superando todos os obstáculos que encontrou na vida: o
desrespeito, as diferenças sociais, físicas e econômicas.
Pedro conseguiu seu primeiro emprego em
uma empresa e com muito suor e dedicação, foi prosperando nesta empresa. (…)
|
TEXTO 2:
Escrita
(trecho da
1ª versão)
|
Bilhete
|
Reescrita
(trecho da 2ª versão)
|
(o aluno
esqueceu de colocar um título)
(...) Em um dia ensolarado, iria acontecer
um sacrifício de um homem na arena, ele iria ser jogado aos leões.
(...) Aquele leão havia morrido, mas havia
mais um leão além daquele morto. Robert saltou nas costas do leão e deu uma
facada. O leão não morreu, respondeu a facada com uma patada na perna de
Robert, após alguns minutos o leão morreu e Robert não resistiu a patada em
sua perna.
E o homem morre e Felícia fica
traumatizada com a cena e se põe a chorar. E com aquela faca que estava na
mão de Robert, Felícia se mata.
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- Você escreveu um bom texto, mas,
principalmente no final, você fugiu da proposta de produção (que era a
superação de um obstáculo). Reescreva seu texto elaborando um novo final,
mostrando que Robert, com seu esforço, alcança um final feliz.
- Gostaria de saber por que ocorriam os
sacrifícios na arena. Era um costume do povoado? Você poderia comentar isto
no texto.
- Coloque um título bem criativo em seu
texto. Que tal?
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Tudo por amor
(título)
(...) Em um dia ensolarado, iria acontecer
um sacrifício de um homem na arena, em que eram soltos alguns leões e nesses
sacrifícios todos que moravam ali por perto, sempre iam ver, inclusive a
pricesa e o homem apaixonado.
.. (...) Aquele leão havia
morrido, mas havia mais um leão além daquele morto. Robert, muito corajoso,
saltou nas costas do leão e deu uma facada. O leão não morreu e
correspondeu a facada com uma patada
na perna de Robert. Após alguns minutos, o animal morreu e Robert com muita
perseverança pegou a luva e entregou-a para Felícia e eles se casaram e foram
felizes para sempre, como nos contos de fada.
|
Nas
reescritas textuais, constatou-se que os alunos interagiram, “responderam” às
dicas e orientações presentes no bilhete: refletiram e modificaram o título da
narração, acrescentaram mais detalhes em seu texto, organizando melhor as
ideias e, principalmente, usaram mais criatividade em sua reescrita, mudanças
essas resultantes do diálogo estabelecido com o professor-leitor, via bilhete.
É importante
ressaltar que os bilhetes foram direcionados para que estes atuassem como uma
“conversa” com o autor e seu texto, estabelecendo diálogos. Na elaboração dos
bilhetes, foi tomado muito cuidado para que eles não tivessem o caráter de
ordem. Para tanto, foram utilizadas expressões como: “seria interessante”; “que
tal”; “você poderia”, que serviram como orientações e sugestões para mudanças
textuais. E, ainda, antes de criar os bilhetes, a bolsista-PIBID se posicionou
realmente como uma leitora dos textos, assumindo o papel de interlocutora,
tentando compreender o raciocínio do aluno/locutor para poder intervir. Por
isso foram citados nos bilhetes nomes de personagens, situações acontecidas na
narração, demonstrando, de fato, interesse na história narrada. O bilhete
orientativo pedia mudanças não só na estrutura da narrativa, mas principalmente
no conteúdo, o que implicava na atenção para a revisão e à reescrita.
Para mais informações acerca deste
trabalho de avaliação textual realizado pelos bolsistas PIBID acesse: <http://www.encontrosdevista.com.br/Artigos/Avalia%C3%A7%C3%A3o%20da%20produ%C3%A7%C3%A3o%20escrita.pdf>