Há diversas especulações sobre os 529 mil zeros nas redações
do ENEM, várias pessoas têm a deturpada visão de que isso se deve
ao fato de o brasileiro não saber falar e muito menos escrever o
português. Esse conceito ainda está muito arraigado na sociedade e
muitos mitos a respeito de saber escrever e falar precisam ser
derrubados, a maioria da população acredita que saber escrever está
associado a usar a gramática que, por sua vez, é ensinada nas
apostilas e livros didáticos como uma doutrina sagrada e aquele que
se desvia dela merece o título de inculto.
Entretanto, os zeros do ENEM não advêm dos desvios gramaticais, o
problema vai muito além disso. Existem alguns critérios de
avaliação que se não forem seguidos pelo candidato o texto é
anulado.
O primeiro parâmetro avaliado no ENEM é a fuga do assunto proposto
na redação, o candidato terá nota zero se não tecer argumentos,
no caso da dissertação-argumentativa, acerca do tópico textual
pedido. O tema do ENEM de 2014 era “PUBLICIDADE INFANTIL EM QUESTÃO
NO BRASIL”, ou seja, partindo desse dado não adiantaria escrever
uma redação sobre a importância da contação de histórias para
as crianças, por exemplo porque ela seria desconsiderada .
Infelizmente a falta de criticidade faz com que muitos não tenham o
que colocar no papel. Logo, precisa haver um trabalho da escola
e também dos pais para que essas discussões sejam colocadas em voga
e que façam parte do cotidiano dos indivíduos, a publicidade e seus
artifícios para atrair consumidores é algo que envolve todas as
pessoas.
O segundo critério julgado para atribuir nota zero é se o
candidato escrever em gênero discursivo que não é solicitado, no
caso do ENEM o gênero pedido foi uma redação
dissertativa-argumentativa isto significa que o candidato não pode
fazer um desenho ou escrever uma notícia sobre o tema, por mais bem
escrita que seja esta será desqualificada. Assim, cabe ao
professor promover um trabalho sistematizado acerca dos diversos
gêneros discursivos para que o estudante consiga perceber que todo
texto tem uma finalidade, uma estrutura e um público-alvo.
Outro parâmetro que anula a redação é o fato dela ter menos de 8
linhas, se isso acontecer o texto é desconsiderado. Copiar do texto
motivador também leva o sujeito a obter um zero na redação,
porque se houve reprodução do texto disponibilizado na prova, a
banca avaliadora não tem como avaliar a escrita do candidato.
O texto do aspirante a uma vaga no Ensino Superior não pode ferir os
direitos humanos, isto é, não é aceito que aja discriminação
racial e apologia à violência, por exemplo. Se for constatado que
houve este tipo de "desvio" o candidato é penalizado com a
anulação da redação.
Por fim, devido ao episódio da redação que continha a receita do
miojo, o ENEM anula qualquer texto que apresente parte desconectada,
ou seja, se ao longo da escrita o tema for modificado essa parte da
prova será zerada.
Outro dado levado em consideração no momento da correção é que
na redação precisa haver uma proposta de intervenção para o
problema levantado. Se o candidato não souber desse fato sua redação
terá 200 pontos a menos.
Muitos são os falsos especialistas em redações do ENEM que afirmam
que a responsabilidade desses 529 mil zeros é apenas do professor ou
do aluno ou mesmo dos pais. Mas e aí, de quem é a culpa?
Não temos como rastrear os "culpados" porque não
conhecemos a realidade que circunda todos os sujeitos que fizeram a prova
do ENEM. Não sabemos, por exemplo, se os candidatos levaram a sério esse exame e
dedicaram seu tempo para o estudo, ou se não tiveram professores
comprometidos com seu conhecimento.
Em virtude disso, afirmo que para mudar esses resultados encontrados
não somente em redações do ENEM precisa haver uma tríade entre
pais, professores e alunos. O pais precisam incentivar os indivíduos, desde a mais tenra idade, a questionar o mundo que os rodeia e
estimular a leitura para que quando esses sujeitos cheguem à
escola valorizem o conhecimento. Os professores (conforme é prática constante no PIBID português) têm a obrigação de
mostrar caminhos para que o sujeito tenha autonomia para buscar
aquilo que não aprendeu, para que o estudante leia, tire conceitos,
perceba as intenções e o que está nas entrelinhas de textos
informativos, explicativos e literários, por exemplo, que tenha
alicerces para se comunicar em diferentes gêneros e para que saiba a
influência que a linguagem exerce sobre as pessoas. E os discentes
precisam estudar e levar a sério o que querem, assumindo as
responsabilidades e dificuldades impostas e, acima de tudo, saber que o
sujeito deve estudar ao longo da vida e não apenas para um
vestibular.
Nenhum comentário:
Postar um comentário