sexta-feira, 13 de março de 2015

Zeros do ENEM: parâmetros dos avaliadores e comentários acerca da tríade que deve existir entre pais, professores e estudantes

Por: Ana Caroline dos Santos





Há diversas especulações sobre os 529 mil zeros nas redações do ENEM, várias pessoas têm a deturpada visão de que isso se deve ao fato de o brasileiro não saber falar e muito menos escrever o português. Esse conceito ainda está muito arraigado na sociedade e muitos mitos a respeito de saber escrever e falar precisam ser derrubados, a maioria da população acredita que saber escrever está associado a usar a gramática que, por sua vez, é ensinada nas apostilas e livros didáticos como uma doutrina sagrada e aquele que se desvia dela merece o título de inculto.
Entretanto, os zeros do ENEM não advêm dos desvios gramaticais, o problema vai muito além disso. Existem alguns critérios de avaliação que se não forem seguidos pelo candidato o texto é anulado.
O primeiro parâmetro avaliado no ENEM é a fuga do assunto proposto na redação, o candidato terá nota zero se não tecer argumentos, no caso da dissertação-argumentativa, acerca do tópico textual pedido. O tema do ENEM de 2014 era “PUBLICIDADE INFANTIL EM QUESTÃO NO BRASIL”, ou seja, partindo desse dado não adiantaria escrever uma redação sobre a importância da contação de histórias para as crianças, por exemplo porque ela seria desconsiderada . Infelizmente a falta de criticidade faz com que muitos não tenham o que colocar no papel. Logo, precisa haver um trabalho da escola e também dos pais para que essas discussões sejam colocadas em voga e que façam parte do cotidiano dos indivíduos, a publicidade e seus artifícios para atrair consumidores é algo que envolve todas as pessoas.
        O segundo critério julgado para atribuir nota zero é se o candidato escrever em gênero discursivo que não é solicitado, no caso do ENEM o gênero pedido foi uma redação dissertativa-argumentativa isto significa que o candidato não pode fazer um desenho ou escrever uma notícia sobre o tema, por mais bem escrita que seja esta será desqualificada. Assim, cabe ao professor promover um trabalho sistematizado acerca dos diversos gêneros discursivos para que o estudante consiga perceber que todo texto tem uma finalidade, uma estrutura e um público-alvo.
Outro parâmetro que anula a redação é o fato dela ter menos de 8 linhas, se isso acontecer o texto é desconsiderado. Copiar do texto motivador também leva o sujeito a obter um zero na redação, porque se houve reprodução do texto disponibilizado na prova, a banca avaliadora não tem como avaliar a escrita do candidato.
O texto do aspirante a uma vaga no Ensino Superior não pode ferir os direitos humanos, isto é, não é aceito que aja discriminação racial e apologia à violência, por exemplo. Se for constatado que houve este tipo de "desvio" o candidato é penalizado com a anulação da redação.
Por fim, devido ao episódio da redação que continha a receita do miojo, o ENEM anula qualquer texto que apresente parte desconectada, ou seja, se ao longo da escrita o tema for modificado essa parte da prova será zerada.
Outro dado levado em consideração no momento da correção é que na redação precisa haver uma proposta de intervenção para o problema levantado. Se o candidato não souber desse fato sua redação terá 200 pontos a menos.
Muitos são os falsos especialistas em redações do ENEM que afirmam que a responsabilidade desses 529 mil zeros é apenas do professor ou do aluno ou mesmo dos pais. Mas e aí, de quem é a culpa?
Não temos como rastrear os "culpados" porque não conhecemos a realidade que circunda todos os sujeitos que fizeram a prova do ENEM. Não sabemos, por exemplo, se os candidatos levaram a sério esse exame e dedicaram seu tempo para o estudo, ou se não tiveram professores comprometidos com seu conhecimento.
Em virtude disso, afirmo que para mudar esses resultados encontrados não somente em redações do ENEM precisa haver uma tríade entre pais, professores e alunos. O pais precisam incentivar os indivíduos, desde a mais tenra idade, a questionar o mundo que os rodeia e estimular a leitura para que quando esses sujeitos cheguem à escola valorizem o conhecimento. Os professores (conforme é prática constante no PIBID português) têm a obrigação de mostrar caminhos para que o sujeito tenha autonomia para buscar aquilo que não aprendeu, para que o estudante leia, tire conceitos, perceba as intenções e o que está nas entrelinhas de textos informativos, explicativos e literários, por exemplo, que tenha alicerces para se comunicar em diferentes gêneros e para que saiba a influência que a linguagem exerce sobre as pessoas. E os discentes precisam estudar e levar a sério o que querem, assumindo as responsabilidades e dificuldades impostas e, acima de tudo, saber que o sujeito deve estudar ao longo da vida e não apenas para um vestibular.



Nenhum comentário:

Postar um comentário