sexta-feira, 5 de junho de 2015

A revisão textual

Por: Franciane Lava


Nós professores de língua portuguesa devemos sempre nos preparar e possuir um grande embasamento teórico para trabalhar questões que envolvem a linguagem oral e escrita em sala de aula.
O processo de ensino da escrita modificou-se com o passar dos anos e várias concepções de escrita foram adotadas. De acordo com Menegassi (2013), são conhecidas quatro concepções de escrita: a) escrita com foco na língua; b) escrita como dom/inspiração; c) escrita como consequência e d) escrita como trabalho.

A escrita com foco na língua é aquela em que o professor, ao se deparar com o texto do aluno, corrige diretamente os erros de grafia e a concordância do texto. Seus alunos aprendem regras gramaticais por meio de exercícios, para que seu texto esteja dentro da norma padrão da escrita.
A escrita como dom/inspiração divina é a produção que tem por base um título ou uma frase que expõe o tema ao aluno. Consiste em propor atividades para passar o tempo, sem haver uma exploração do assunto e sem levar em conta as experiências e os conhecimentos do leitor ou a interação que envolve esse processo.
A escrita como consequência como o próprio nome diz, a escrita é uma consequência de um trabalho realizado na sala ou extraclasse, ou seja, se os alunos assistirem a um filme, ou realizarem um passeio, a consequência será escrever um texto, rápido para que se atribua nota e seja avaliado.
Por fim, há a escrita como trabalho, nessa concepção, a escrita torna-se um trabalho contínuo de ensino e aprendizagem, ou seja, há a realização prévia de atividades que são essenciais para desencadear uma proposta de escrita. Para produzir o texto escrito, o autor passa pelas etapas de: planejamento, execução do texto escrito, revisão e a reescrita. Essas etapas precisam ser realizadas sempre com o auxílio do professor como coprodutor do texto, mostrando ao seu aluno a finalidade da produção que está sendo realizada, o interlocutor e o gênero a ser produzido.
O trabalho com a escrita, nessa última concepção, é planejado, pois os alunos passam por diversas etapas para aprimorar seus textos, como o processo da reescrita que é fundamental. Esta concepção ainda é pouco utilizada, embora seja encontrada como diretriz em todos os documentos norteadores do ensino de Língua Portuguesa. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa, PCNs, é preciso “apontar metas de qualidade que ajudem o aluno a enfrentar o mundo atual como cidadão participativo, reflexivo e autônomo, conhecedor de seus direitos e deveres (1997, apud MENEGASSI, 2013, p. 4).
Assim, o trabalho de revisão e reescrita auxiliam para melhorar os textos, deixando-os mais claros e objetivos. Esse trabalho de refacção ajuda o autor a melhorar seus textos, ampliando seu desempenho na escrita, pois, dessa forma, percebe-se que a escrita é uma atividade de construção de conhecimento, ou seja, o autor no trabalho de revisão torna-se leitor crítico do seu próprio texto. Professor e aluno trabalham juntos para solucionar as possíveis falhas de um texto.
Neste trabalho de revisão o professor deve valorizar o que tem de bom no texto do aluno, cuidar para não jogar tantas advertências, que poderão desmotivar o seu aluno a escrever, mas deve realizar uma correção adequada à capacidade do aluno, respeitando o estilo, a linguagem, as ideias e o enfoque escolhido pelo aluno.
Dependendo da correção que o professor realiza no texto do seu aluno, pode levá-lo a substituir ou ao deslocamento de alguma frase, e, até mesmo, a eliminar alguma coisa. Como as correções realizadas pelos professores são muitas Serafini (1998, apud MENEGASSI, 2013), esclarece que as intervenções podem se apresentar sob três classificações: Indicativa, Resolutiva e Classificatória.
Algumas intervenções textuais realizadas nas correções nos textos dos alunos podem ser mal interpretadas, como no caso da correção indicativa, que apenas indica alguma falha, não deixando claro para o aluno o que deve ser revisto. O revisor apenas aponta ou sublinha, não dá esclarecimentos do por quê.
O mesmo fato ocorre na correção classificatória, em que o professor faz uma marcação, ou utiliza algum símbolo para mostrar que há um erro a ser revisto, como, por exemplo, colocar um símbolo para indicar a falta de parágrafo. Sem compreender o que o professor queria dizer, muitos alunos acabam ignorando a revisão. A correção resolutiva é aquela que o professor acaba corrigindo o texto do aluno, ignorando totalmente suas ideias. Essa abordagem de correção não incentiva o aluno a refletir sobre a sua escrita e sobre a importância da revisão.
Como contraponto de todas essas correções temos a revisão textual-interativa, que Ruiz explica que “Tratam-se de comentários mais longos dos que os da margem, razão pela qual são geralmente escritos em sequência do texto do aluno [...]. Tais comentários realizam-se na forma de pequenos ‘bilhetes’ [...]” (2001, apud MENEGASSI, p. 47).
Esse tipo de revisão, por ser um recurso interativo, possibilita ao professor elogiar e também fazer o seu aluno refletir sobre os problemas encontrados no texto. Nesse diálogo escrito, o professor explica, esclarece, instrui e estimula a reescrita. Assim, o aluno não vê a correção como um fator ruim, mas como algo positivo para melhorar o seu texto.
Cabe ao professor de Língua Portuguesa adotar essa metodologia. O professor deve procurar sempre elogiar os textos dos alunos,  pois dessa forma ocorre uma aproximação muito maior entre professor e aluno e a interação é muito importante em sala de aula. O bilhete orientador aparece para resolver as possíveis dúvidas dos alunos e os faz refletir sobre o texto escrito e sobre a importância da reescrita.

Referência
MENEGASSI, R. J. A revisão de textos na formação docente inicial. In: GONÇALVES, A. V. (Org.). Interação, gêneros e letramento: a (re)escrita em foco. Campinas, SP: Pontes Editores, 2013.



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