sábado, 29 de agosto de 2015

Revisão textual: qual seu objetivo?

Por: Rosana Taís Rossa

Para abrir a discussão acerca das concepções de escrita, nada é mais pertinente do que uma referência a Bakhtin (1997), que define o discurso como um espécie de ponte que liga locutor e interlocutor. A partir dessa colocação, podemos perceber a importância que a linguagem tem para unir as pessoas. Considerando que a língua se apresenta também na escrita, é preciso expô-la nas quatro concepções que subsistem atualmente.
A primeira concepção de escrita, e uma das mais comuns, é a escrita com foco na língua. Nessa concepção, o que é considerado em um texto são os erros ortográficos, os desvios na concordância e os problemas com a sintaxe. É dado muito valor às regras gramaticais, o que faz com que os alunos tenham que decorar nomenclaturas e fórmulas prontas para construir frases, orações ou períodos.
Outra concepção de escrita também bastante frequente é a escrita como dom/inspiração divina. Aqui, o aluno recebe uma frase qualquer a partir da qual ele deve produzir um texto. O problema principal dessa concepção é que o aluno não tem nenhum respaldo, ou seja, o tema não foi explorado com ele, portanto, o discente não tem o que escrever. Embora ele possa ter algum conhecimento do tema, sem a devida abordagem do assunto e do gênero discursivo solicitado, o estudante não tem como construir um texto criativo e de qualidade.
A escrita como consequência ocorre em diversos âmbitos, inclusive no acadêmico, e faz com que os alunos sintam medo e desprezo pela escrita. Essa concepção ocorre quando o professor realiza alguma atividade diferenciada, como um passeio, a exibição de um filme, a realização de uma gincana ou de uma pesquisa e, posteriormente, o docente solicita uma produção textual sobre a atividade. Esse tipo de prática representa, para os alunos, uma espécie de castigo por ter participado da dinâmica. Em muitos casos, o tempo destinado para a produção de texto é muito curto, o que faz com que o texto fique truncado e sem muito sentido, o que decepciona ainda mais os estudantes.
Por fim, temos a concepção mais aceita e adequada para o trabalho em sala de aula: a escrita como trabalho. A produção textual não é mais uma atividade sem sentido e inútil, apenas para matar o tempo. Agora ela tem objetivo e a escrita é vista como um processo contínuo de ensino/aprendizagem, que vem como consequência de um trabalho prévio, em que diversos elementos são discutidos.
Nessa concepção, o aluno passa pelos quatro processos essenciais, que são o planejamento (momento de estudo e discussão do gênero discursivo e tema), produção textual, revisão (volta ao texto, lê as sinalizações feitas pelo professor e as discute em sala de aula) e a reescrita.
A revisão textual é um procedimento que tem por objetivo aprimorar o texto do aluno, oferecendo condições para que ele alcance os resultados esperados. A principal vantagem da revisão é o retorno que o aluno tem por parte do professor, por meio dos apontamentos feitos e que permitem que o aluno observe quais foram seus acertos e quais pontos podem ser melhorados.
Entre os elementos que o aluno pode rever no seu texto, salientamos os argumentos e ideias e a maneira como eles foram organizados. Devem ser considerados também os erros ortográficos, mas estes ficam em segundo plano. O mais importante é fazer com que o texto tenha sentido tanto para o autor como para o leitor.
Uma das melhores formas de sinalizar os pontos que precisam de ajuste, inclusive mencionada no texto, é a prática de deixar bilhetes para os alunos. Seja ao final do texto, seja no verso da folha, é de grande relevância que o professor escreva, começando pelo nome do estudante, um pequeno bilhete destacando os pontos positivos do texto, as boas ideias, a letra bonita, o capricho com a folha, entre outros elogios que podem ser pertinentes. É também nesse bilhete que o professor aponta as falhas do aluno, os trechos que ficaram confusos, dificuldades na compreensão da letra, ideias soltas e desvios ortográficos, além de sugestões para melhorias, pois não basta apenas apontar que existe um problema, é preciso oferecer soluções.
Depois que o aluno lê as anotações do professor, é importante que este esteja à disposição para possíveis questões levantadas pelo discente. Se houver qualquer dúvida ela deverá ser sanada e o estudante deve compreender por que determinada palavra ou trecho do seu texto foi destacado.
É possível afirmar, portanto, que a atividade de revisão textual é essencial e deve ser prática constante nas aulas de Língua Portuguesa, permitindo que os alunos visualizem e reconheçam suas falhas, criando um espaço para refacção de seus textos.


Referências
BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
MENEGASSI, R. J. A revisão de textos na formação docente inicial. In: GONÇALVES, A. V. (orgs.). Interação, gêneros e letramento: a (re)escrita em foco. Campinas, SP: Pontes Editores, 2013.


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