sexta-feira, 3 de maio de 2013

É sempre bom saber: O que é a concepção normativa de linguagem?

Por Carla Micheli Carraro


Pensar em uma concepção normativista de linguagem é pensar em uma atitude prescritiva, ou seja, na presença de regras indiscutíveis, observando, segundo Faraco (1997), a presença de uma divisão maniqueísta entre certo e errado para os fatos da língua. No normativismo, todos aqueles que não utilizam a língua “corretamente” estão cometendo um erro, assim, os falantes estão submetidos a esta língua. Então, “o normativismo concebe a língua como uma instituição pétrea: pronta, fixa, externa aos falantes” (FARACO, 1997, p. 49). Esta concepção traz uma visão estática da realidade linguística.
Embora se tenha hoje reflexões modernas acerca da língua, como a Linguística que postula a existência de variedades linguísticas conforme o contexto, o normativismo ainda continua fortemente no ensino e é por esta razão que podemos afirmar que a modernidade não chega à escola. O normativismo “continua arraigado no senso comum e a ele está presa a escola” (FARACO, 1997, p. 54). Sendo assim, a concepção normativa fecha os olhos para a modernidade, para a dinâmica da vida social e prega uma visão de linguagem estática.
Um aspecto importante em relação à modernidade e à escola é a democratização do ensino, em que a educação não é mais elitizada, mas um direito de todos. Neste sentido, passam a frequentar a escola falantes de todas as variedades do português, ocorrendo então um encontro entre a fala prestigiada e a fala de menos prestígio e junto a isso, há um choque de valores, uma vez que:

se alia, nas representações da escola, a depreciação da linguagem com a depreciação das capacidades intelectuais daqueles falantes. E, quando o lado mais poderoso no ambiente escolar acha o outro incapaz, pecebe-se que ele acaba por transformá-lo em incapaz, abrindo o rombo da repetência e da exclusão. (FARACO, 1997, p. 58)
 
Percebemos, então, a presença de um paradoxo: a escola diz ser democrática como exige a modernidade, mas com a postura normativista em vigor, ela acaba sendo um forte espaço de exclusão e preconceito linguístico.

Pensando em tudo isso, qual seria a concepção de linguagem coerente com a Modernidade?
Quando pensamos em modernidade, vem à tona a ideia de democratização. Assim, a concepção de linguagem coerente com a modernidade é aquela que respeita e constrói o aprendizado e a autonomia de todos os alunos, contribuindo para a cidadania. E no campo da educação linguística, Faraco (1997) comenta que é preciso de práticas que cessem com a visão fixa do normativismo, trabalhando com a linguagem oral ou escrita, não como algo descontextualizado e submetido ao falante, mas como um conjunto de atividades socioverbais, que considerem o contexto e as práticas sociais e o próprio falante.
    É importante destacar que a função da escola é ampliar o repertório linguístico do aluno, levando-o a conhecer cada vez mais a língua formal, mas não é função da escola julgar e mudar totalmente o repertório do aluno em bases normativas.
No normativismo não há contexto, mas a modernidade exige isso. Logo, as concepções precisam ser inovadas. Quando muda-se a concepção de linguagem, mudam-se os conteúdos, muda-se a visão do aluno e do professor mudando também a ideia que se tem a respeito de o que é aprender e o que é ensinar.

Texto de apoio:
FARACO, C. A. Linguagem, escola e modernidade. In: GHIRALDELLI Jr, P. (Org). Infância, escola e modernidade. São Paulo: Cortez; Curitiba: Editora UFPR, 1997.

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