Pensar em uma concepção normativista de linguagem é
pensar em uma atitude prescritiva, ou seja, na presença de regras
indiscutíveis, observando, segundo Faraco (1997), a presença de uma
divisão maniqueísta entre certo e errado para os fatos da língua. No
normativismo, todos aqueles que não utilizam a língua “corretamente” estão
cometendo um erro, assim, os falantes estão submetidos a esta língua. Então, “o
normativismo concebe a língua como uma instituição pétrea: pronta, fixa,
externa aos falantes” (FARACO, 1997, p. 49). Esta concepção traz uma visão
estática da realidade linguística.
Embora se tenha hoje reflexões modernas acerca da
língua, como a Linguística que postula a existência de variedades linguísticas
conforme o contexto, o normativismo ainda continua fortemente no ensino e é por
esta razão que podemos afirmar que a modernidade não chega à escola. O
normativismo “continua arraigado no senso comum e a ele está presa a escola”
(FARACO, 1997, p. 54). Sendo assim, a concepção normativa fecha os olhos para a
modernidade, para a dinâmica da vida social e prega uma visão de linguagem
estática.
Um aspecto importante em relação à modernidade e à escola é a democratização do ensino, em que a educação não é mais elitizada,
mas um direito de todos. Neste sentido, passam a frequentar a escola falantes
de todas as variedades do português, ocorrendo então um encontro entre a fala
prestigiada e a fala de menos prestígio e junto a isso, há um choque de valores,
uma vez que:
se
alia, nas representações da escola, a depreciação da linguagem com a depreciação
das capacidades intelectuais daqueles falantes. E, quando o lado mais poderoso
no ambiente escolar acha o outro incapaz, pecebe-se que ele acaba por
transformá-lo em incapaz, abrindo o rombo da repetência e da exclusão. (FARACO,
1997, p. 58)
Percebemos, então, a presença de um paradoxo: a escola
diz ser democrática como exige a modernidade, mas com a postura normativista em
vigor, ela acaba sendo um forte espaço de exclusão e preconceito linguístico.
Pensando em tudo isso, qual seria a
concepção de linguagem coerente com a Modernidade?
Quando pensamos em modernidade, vem à tona a ideia
de democratização. Assim, a concepção de linguagem coerente com a modernidade é
aquela que respeita e constrói o aprendizado e a autonomia de todos os alunos, contribuindo para a
cidadania. E no campo da educação linguística, Faraco (1997) comenta que é
preciso de práticas que cessem com a visão fixa do normativismo, trabalhando
com a linguagem oral ou escrita, não como algo descontextualizado e submetido
ao falante, mas como um conjunto de atividades socioverbais, que considerem o
contexto e as práticas sociais e o próprio falante.
É
importante destacar que a função da escola é ampliar o repertório linguístico
do aluno, levando-o a conhecer cada vez mais a língua formal, mas não é função
da escola julgar e mudar totalmente o repertório do aluno em bases normativas.
No normativismo não há contexto, mas a modernidade
exige isso. Logo, as concepções precisam ser inovadas. Quando muda-se a
concepção de linguagem, mudam-se os conteúdos, muda-se a visão do aluno e do
professor mudando também a ideia que se tem a respeito de o que é aprender e o que é
ensinar.
Texto
de apoio:
FARACO,
C. A. Linguagem, escola e modernidade. In: GHIRALDELLI Jr, P. (Org). Infância, escola e modernidade.
São Paulo: Cortez; Curitiba: Editora UFPR, 1997.
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