O ensino de língua materna compreende
uma série de aspectos diferentes, todos igualmente relevantes para o processo
de letramento. Leitura, escrita e oralidade são práticas que precisam ser
desenvolvidas e aprimoradas continuamente. Tais práticas contribuirão para a
formação integral do indivíduo, auxiliando-o no aprendizado das diversas áreas
do conhecimento.
O aprimoramento da tecnologia nos
meios de comunicação e a heterogeneidade linguística, consequentemente cada vez
mais evidente, podem constituir empecilhos ou gerar dúvidas quanto ao modo mais
adequado do professor proceder, mas ao mesmo tempo em que os novos recursos de
mídia digital afetam de maneira direta na comunicação diária, estes mesmos
recursos podem ser incorporados à sala de aula e às práticas pedagógicas.
A relevância dessas práticas no âmbito
escolar são apontadas e explicadas com clareza nos documentos oficiais que
norteiam o ensino no país, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) e, mais
especificamente no Estado do Paraná, as Diretrizes Curriculares do Ensino de
Língua Portuguesa.
Os PCN’s chamam a atenção para o fato
de que, com do domínio da linguagem, o indivíduo se insere no contexto
social ao mesmo tempo em que se reconhece como agente ativo no mundo e
possuidor de sua própria maneira de posicionar-se diante dos demais.
A linguagem, portanto, apresenta um
caráter multidimensional, influenciando e sendo influenciada pelo espaço social
onde se dá, levando o indivíduo a ser visto em relação ao seu interlocutor e
adequando a ele a escolha dos códigos verbais para a produção de sentido.
Dessa forma, cabe à escola o papel de
promover a reflexão e a análise do caráter multidimensional da linguagem,
“contribuindo para a formação geral do aluno e possibilitando-o a aprender a
optar pelas escolhas, limitadas por princípios sociais” (PCNs, 2000).
As Diretrizes Curriculares para o
Ensino de Língua Portuguesa no Estado do Paraná também afirmam que: “[...] é
preciso que a escola seja um espaço que promova, por meio de uma gama de textos
com diferentes funções sociais, o letramento do aluno, para que ele se envolva
nas práticas de uso da língua – sejam de leitura, oralidade e escrita” (Paraná,
2008, p. 50).
Metodologia
O trabalho de análise de gêneros e
produção de texto aqui idealizado está em conformidade com as propostas das
Diretrizes Curriculares do Estado, onde se lê: “O professor é quem tem o
contato direto com o aluno e com as suas fragilidades linguístico-discursivas,
seleciona os gêneros (orais e escritos) a serem trabalhados de acordo com as
necessidades, objetivos pretendidos, faixa etária bem como os conteúdos, sejam
eles de oralidade, leitura, escrita e/ou análise linguística” (Paraná, 2008:
p. 64). Cada etapa esta pautada em uma prática defendida pelas Diretrizes.
Nesse primeiro momento, o professor
selecionará e apresentará aos alunos um determinado número de textos, todos do
gênero a ser trabalhado com temáticas diversificadas.
Esta etapa fundamenta-se na prática de
leitura: “Praticar a leitura em diferentes contextos requer que se compreendam
as esferas discursivas em que os textos são produzidos e circulam, bem como se
reconheçam as intenções e os interlocutores do discurso. É nessa dimensão
dialógica, discursiva que a leitura deve ser experienciada, desde a
alfabetização. O reconhecimento das vozes sociais e das ideologias presentes no
discurso, tomadas nas teorizações de Bakhtin, ajudam na construção de sentido
de um texto e na compreensão das relações de poder a ele inerentes”. (Paraná,
2008: p. 57).
É importante que cada texto
previamente escolhido seja devidamente contextualizado. Data de produção e/ou
veiculação na imprensa, situação sociopolítica do momento da produção, espaço
de circulação, função do texto e interlocutor devem ser compreendidos pelo
aluno após cada leitura, dessa forma ele fará as inferências pertinentes para
considerar os aspectos comuns a todas as leituras trazidas pelo professor naquela
aula, compreendendo com mais clareza o conceito de gênero ao mesmo tempo em que
associa aquelas marcas formais como sendo características do gênero trabalhado.
O próprio aluno fará um exercício de reconhecimento e interpretação, como
sugerem as Diretrizes: “A forma composicional dos gêneros será analisada pelos
alunos no intuito de compreenderem algumas especificidades e similaridades das
relações sociais numa dada esfera comunicativa. Para essa análise, é preciso
considerar o interlocutor do texto, a situação de produção, a finalidade, o
gênero ao qual pertence, entre outros aspectos.”
“É preciso que o aluno se envolva com os
textos que produz e assuma a autoria do que escreve, visto que ele é um sujeito
que tem o que dizer. Quando escreve, ele diz de si, de sua leitura de mundo”.
(Paraná, 2008: p. 56).
Após a realização da leitura dos
diversos textos, o aluno deverá produzir uma carta endereçada ao professor.
Nela os alunos relatarão ao professor que características comuns a todos os
textos conseguiram depreender, quais temáticas foram abordadas nos textos que
leu e com qual mais se identificou. O gênero textual “carta” foi escolhido para
este momento de primeira produção pelas seguintes razões de ordem prática:
A)
Adequando
o texto às características da carta, o aluno exercitará a habilidade de
encadeamento de ideias em uma sequência lógica.
B)
Exercitará
a concisão e objetividade
C)
Trabalhará
no texto com a ideia de um leitor específico (o professor), adequando a escolha
dos códigos verbais de acordo com a posição de cada interlocutor (no caso a
relação aluno-professor).
D)
Colocará
no corpo do texto suas próprias impressões das leituras feitas, de modo a
identificar-se como autor que expõe sua visão.
E)
A
utilização de um gênero textual quase em desuso, substituído pela forma
eletrônica e-mail estimulará a
reflexão sobre a relação entre os gêneros textuais e as funções que possuem no
espaço-tempo onde circulam.
Sobre outras atividades
escritas precedentes à atividade principal as Diretrizes orientam: “Ressalta-se
que, no percurso da produção de texto do aluno, outras práticas de escrita
podem acontecer para, então, chegar ao gênero pretendido, por exemplo: se a
proposta for produzir uma notícia, o professor poderá encaminhar leituras de
notícias, solicitar comentários escritos sobre o fato para os alunos ou
resumos, a fim de trabalhar com a síntese de um assunto”. (Paraná, 2008:
p.70).
O professor ao término das
atividades escritas deverá corrigir os textos dos alunos comentando em sua
correção os aspectos em que o aluno apresentou falhas, orientando-o para
saná-las em uma próxima atividade.
Neste momento, serão
trabalhadas as práticas de oralidade e escrita.
“A acolhida democrática da
escola às variações linguísticas toma como ponto de partida os conhecimentos linguísticos
dos alunos, para promover situações que os incentivem a falar, ou seja, fazer
uso da variedade de linguagem que eles empregam em suas relações sociais,
mostrando que as diferenças de registro não constituem, cientifica e
legalmente, objeto de classificação e que é importante a adequação do registro
nas diferentes estâncias discursivas.”
Após os alunos terem
produzido um texto na etapa interior sobre as características do gênero
trabalhado, o professor promoverá através de suas explicações um debate entre
os alunos discutindo o gênero, em seus aspectos formais e funcionais.
Aqui se faz pertinente uma
nova produção textual, onde os alunos abordarão aspectos funcionais do gênero,
a proposta da carta pode ser mantida ou substituída por outra forma escolhida
pelo professor de acordo com as necessidades de cada turma.
Esta etapa não será comum
a todos os gêneros visto que o trabalho objetiva que o aluno conheça os
aspectos funcionais e formais de elaboração dos gêneros mais complexos,
portanto, a proposta de produção a ser feita neste momento não caberá a fotos,
imagens virtuais e outros de natureza não-verbal, o que não deve impedir que
estes gêneros deixem de ser trabalhados, pois mesmo que o aluno não venha a
produzir um texto propriamente dito, o reconhecimento destes gêneros e de suas
funções está implícito na leitura de mundo necessária ao indivíduo letrado.
“[...] A leitura de imagens, como: fotos, cartazes, propagandas, imagens
digitais e virtuais, figuras que povoam com intensidade crescente nosso
universo cotidiano, deve contemplar os multiletramentos mencionados nestas
Diretrizes.” (Paraná, 2008: p. 71).
Esse é o momento em que o
aluno produzirá um texto adequado ao gênero com base nos conhecimentos que
possuía e que adquiriu entre as atividades desenvolvidas.
Após a correção do texto,
o professor indicará as necessárias adequações a serem feitas para que o aluno
o revise, possibilitando a realização da quinta e última etapa.
Compreende-se
que a proposta das produções textuais realizadas na escola, correspondam às
condições em que são realizadas, o processo de reescrita, portanto, é o momento
em que o aluno orientado pelo professor fará as devidas adequações sendo
propício também para a tentativa de sanar quaisquer dificuldades discursivas encontradas
nos alunos. Sobre a atividade de reescrita, as Diretrizes defendem: “Por meio
desse processo, que vivencia a prática de planejar, escrever, revisar e
reescrever seus textos, o aluno perceberá que a reformulação da escrita não é
motivo para constrangimento. O ato de revisar e reformular é antes de mais nada
um processo que permite ao locutor refletir sobre seus pontos de vista, sua
criatividade, seu imaginário.
O refazer textual pode ocorrer de forma individual ou em grupo, considerando a intenção e as circunstâncias da produção e não a mera ‘higienização’ do texto do aluno, para atender apenas aos recursos exigidos pela gramática. O refazer textual deve ser, portanto, atividade fundamentada na adequação do texto às exigências circunstanciais de sua produção.” (Paraná, 2008: p. 70).
O refazer textual pode ocorrer de forma individual ou em grupo, considerando a intenção e as circunstâncias da produção e não a mera ‘higienização’ do texto do aluno, para atender apenas aos recursos exigidos pela gramática. O refazer textual deve ser, portanto, atividade fundamentada na adequação do texto às exigências circunstanciais de sua produção.” (Paraná, 2008: p. 70).
Conclusões
O trabalho com gêneros
textuais enfatizando as peculiaridades de forma e função se mostra eficaz no
trabalho com alunos do 3º ano do ensino médio, as reflexões sobre forma e
função dos textos estimulam os alunos a produzirem textos nos quais se
reconhecem e defendem sua visão de mundo, contribuindo para a formação de
indivíduos críticos em busca do multiletramento.
Obs.: Trabalho apresentado no II Fórum das Licenciaturas e IV Encontro PIBID, realizado na Unicentro em 2012
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