sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Projeto: O uso da carta no ensino dos diversos gêneros textuais

Por Otávio Martini


O ensino de língua materna compreende uma série de aspectos diferentes, todos igualmente relevantes para o processo de letramento. Leitura, escrita e oralidade são práticas que precisam ser desenvolvidas e aprimoradas continuamente. Tais práticas contribuirão para a formação integral do indivíduo, auxiliando-o no aprendizado das diversas áreas do conhecimento.
O aprimoramento da tecnologia nos meios de comunicação e a heterogeneidade linguística, consequentemente cada vez mais evidente, podem constituir empecilhos ou gerar dúvidas quanto ao modo mais adequado do professor proceder, mas ao mesmo tempo em que os novos recursos de mídia digital afetam de maneira direta na comunicação diária, estes mesmos recursos podem ser incorporados à sala de aula e às práticas pedagógicas.
A relevância dessas práticas no âmbito escolar são apontadas e explicadas com clareza nos documentos oficiais que norteiam o ensino no país, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) e, mais especificamente no Estado do Paraná, as Diretrizes Curriculares do Ensino de Língua Portuguesa.
Os PCN’s chamam a atenção para o fato de que, com do domínio da linguagem, o indivíduo se insere no contexto social ao mesmo tempo em que se reconhece como agente ativo no mundo e possuidor de sua própria maneira de posicionar-se diante dos demais.
A linguagem, portanto, apresenta um caráter multidimensional, influenciando e sendo influenciada pelo espaço social onde se dá, levando o indivíduo a ser visto em relação ao seu interlocutor e adequando a ele a escolha dos códigos verbais para a produção de sentido.
Dessa forma, cabe à escola o papel de promover a reflexão e a análise do caráter multidimensional da linguagem, “contribuindo para a formação geral do aluno e possibilitando-o a aprender a optar pelas escolhas, limitadas por princípios sociais” (PCNs, 2000).
As Diretrizes Curriculares para o Ensino de Língua Portuguesa no Estado do Paraná também afirmam que: “[...] é preciso que a escola seja um espaço que promova, por meio de uma gama de textos com diferentes funções sociais, o letramento do aluno, para que ele se envolva nas práticas de uso da língua – sejam de leitura, oralidade e escrita” (Paraná, 2008, p. 50).



Metodologia

O trabalho de análise de gêneros e produção de texto aqui idealizado está em conformidade com as propostas das Diretrizes Curriculares do Estado, onde se lê: “O professor é quem tem o contato direto com o aluno e com as suas fragilidades linguístico-discursivas, seleciona os gêneros (orais e escritos) a serem trabalhados de acordo com as necessidades, objetivos pretendidos, faixa etária bem como os conteúdos, sejam eles de oralidade, leitura, escrita e/ou análise linguística” (Paraná, 2008: p. 64). Cada etapa esta pautada em uma prática defendida pelas Diretrizes.
Nesse primeiro momento, o professor selecionará e apresentará aos alunos um determinado número de textos, todos do gênero a ser trabalhado com temáticas diversificadas.
Esta etapa fundamenta-se na prática de leitura: “Praticar a leitura em diferentes contextos requer que se compreendam as esferas discursivas em que os textos são produzidos e circulam, bem como se reconheçam as intenções e os interlocutores do discurso. É nessa dimensão dialógica, discursiva que a leitura deve ser experienciada, desde a alfabetização. O reconhecimento das vozes sociais e das ideologias presentes no discurso, tomadas nas teorizações de Bakhtin, ajudam na construção de sentido de um texto e na compreensão das relações de poder a ele inerentes”. (Paraná, 2008: p. 57). 
É importante que cada texto previamente escolhido seja devidamente contextualizado. Data de produção e/ou veiculação na imprensa, situação sociopolítica do momento da produção, espaço de circulação, função do texto e interlocutor devem ser compreendidos pelo aluno após cada leitura, dessa forma ele fará as inferências pertinentes para considerar os aspectos comuns a todas as leituras trazidas pelo professor naquela aula, compreendendo com mais clareza o conceito de gênero ao mesmo tempo em que associa aquelas marcas formais como sendo características do gênero trabalhado. O próprio aluno fará um exercício de reconhecimento e interpretação, como sugerem as Diretrizes: “A forma composicional dos gêneros será analisada pelos alunos no intuito de compreenderem algumas especificidades e similaridades das relações sociais numa dada esfera comunicativa. Para essa análise, é preciso considerar o interlocutor do texto, a situação de produção, a finalidade, o gênero ao qual pertence, entre outros aspectos.”
 “É preciso que o aluno se envolva com os textos que produz e assuma a autoria do que escreve, visto que ele é um sujeito que tem o que dizer. Quando escreve, ele diz de si, de sua leitura de mundo”. (Paraná, 2008: p. 56).
Após a realização da leitura dos diversos textos, o aluno deverá produzir uma carta endereçada ao professor. Nela os alunos relatarão ao professor que características comuns a todos os textos conseguiram depreender, quais temáticas foram abordadas nos textos que leu e com qual mais se identificou. O gênero textual “carta” foi escolhido para este momento de primeira produção pelas seguintes razões de ordem prática:
A)   Adequando o texto às características da carta, o aluno exercitará a habilidade de encadeamento de ideias em uma sequência lógica.
B)   Exercitará a concisão e objetividade
C)   Trabalhará no texto com a ideia de um leitor específico (o professor), adequando a escolha dos códigos verbais de acordo com a posição de cada interlocutor (no caso a relação aluno-professor).
D)   Colocará no corpo do texto suas próprias impressões das leituras feitas, de modo a identificar-se como autor que expõe sua visão.
E)   A utilização de um gênero textual quase em desuso, substituído pela forma eletrônica e-mail estimulará a reflexão sobre a relação entre os gêneros textuais e as funções que possuem no espaço-tempo onde circulam.
Sobre outras atividades escritas precedentes à atividade principal as Diretrizes orientam: “Ressalta-se que, no percurso da produção de texto do aluno, outras práticas de escrita podem acontecer para, então, chegar ao gênero pretendido, por exemplo: se a proposta for produzir uma notícia, o professor poderá encaminhar leituras de notícias, solicitar comentários escritos sobre o fato para os alunos ou resumos, a fim de trabalhar com a síntese de um assunto”. (Paraná, 2008: p.70). 
O professor ao término das atividades escritas deverá corrigir os textos dos alunos comentando em sua correção os aspectos em que o aluno apresentou falhas, orientando-o para saná-las em uma próxima atividade.        
Neste momento, serão trabalhadas as práticas de oralidade e escrita.
“A acolhida democrática da escola às variações linguísticas toma como ponto de partida os conhecimentos linguísticos dos alunos, para promover situações que os incentivem a falar, ou seja, fazer uso da variedade de linguagem que eles empregam em suas relações sociais, mostrando que as diferenças de registro não constituem, cientifica e legalmente, objeto de classificação e que é importante a adequação do registro nas diferentes estâncias discursivas.”
Após os alunos terem produzido um texto na etapa interior sobre as características do gênero trabalhado, o professor promoverá através de suas explicações um debate entre os alunos discutindo o gênero, em seus aspectos formais e funcionais.
Aqui se faz pertinente uma nova produção textual, onde os alunos abordarão aspectos funcionais do gênero, a proposta da carta pode ser mantida ou substituída por outra forma escolhida pelo professor de acordo com as necessidades de cada turma.
Esta etapa não será comum a todos os gêneros visto que o trabalho objetiva que o aluno conheça os aspectos funcionais e formais de elaboração dos gêneros mais complexos, portanto, a proposta de produção a ser feita neste momento não caberá a fotos, imagens virtuais e outros de natureza não-verbal, o que não deve impedir que estes gêneros deixem de ser trabalhados, pois mesmo que o aluno não venha a produzir um texto propriamente dito, o reconhecimento destes gêneros e de suas funções está implícito na leitura de mundo necessária ao indivíduo letrado. “[...] A leitura de imagens, como: fotos, cartazes, propagandas, imagens digitais e virtuais, figuras que povoam com intensidade crescente nosso universo cotidiano, deve contemplar os multiletramentos mencionados nestas Diretrizes.” (Paraná, 2008: p. 71). 
Esse é o momento em que o aluno produzirá um texto adequado ao gênero com base nos conhecimentos que possuía e que adquiriu entre as atividades desenvolvidas.
Após a correção do texto, o professor indicará as necessárias adequações a serem feitas para que o aluno o revise, possibilitando a realização da quinta e última etapa.
Compreende-se que a proposta das produções textuais realizadas na escola, correspondam às condições em que são realizadas, o processo de reescrita, portanto, é o momento em que o aluno orientado pelo professor fará as devidas adequações sendo propício também para a tentativa de sanar quaisquer dificuldades discursivas encontradas nos alunos. Sobre a atividade de reescrita, as Diretrizes defendem: “Por meio desse processo, que vivencia a prática de planejar, escrever, revisar e reescrever seus textos, o aluno perceberá que a reformulação da escrita não é motivo para constrangimento. O ato de revisar e reformular é antes de mais nada um processo que permite ao locutor refletir sobre seus pontos de vista, sua criatividade, seu imaginário.
O refazer textual pode ocorrer de forma individual ou em grupo, considerando a intenção e as circunstâncias da produção e não a mera ‘higienização’ do texto do aluno, para atender apenas aos recursos exigidos pela gramática. O refazer textual deve ser, portanto, atividade fundamentada na adequação do texto às exigências circunstanciais de sua produção.” (Paraná, 2008: p. 70).


Conclusões

O trabalho com gêneros textuais enfatizando as peculiaridades de forma e função se mostra eficaz no trabalho com alunos do 3º ano do ensino médio, as reflexões sobre forma e função dos textos estimulam os alunos a produzirem textos nos quais se reconhecem e defendem sua visão de mundo, contribuindo para a formação de indivíduos críticos em busca do multiletramento.

Obs.: Trabalho apresentado no II Fórum das Licenciaturas e IV Encontro PIBID, realizado na Unicentro em 2012

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