sexta-feira, 17 de maio de 2013

Afinal, o que é a produção escrita?

Por Carla Micheli Carraro


Um dos eixos do ensino de Língua Portuguesa está pautado na produção escrita.
Como solicitar uma produção escrita para seus alunos, professor?
Antes de mais nada, é necessário destacar que a concepção que o professor tem sobre o que é escrever e como escrever implicará na maneira como este professor irá proceder o ensino de produção escrita e em como o aluno vai entender o que é e como escrever seu texto.
Segundo Antunes (2003), o trabalho com a escrita, na escola, tendo por base a concepção tradicional, não considera o papel do aluno na condição de sujeito do que escreve e do que diz. Além disso, a escrita é entendida como sendo mecânica, para reproduzir sinais gráficos e verificar se houve a memorização e aprendizado das regras de ortografia, observando se não ocorreram erros ortográficos, que são, na maioria dos casos, os únicos aspectos corrigidos nas produções escritas dos alunos pelo professor.
Na visão tradicional em relação à produção escrita (ou como é mais conhecida: a redação) trabalha-se com uma escrita artificial, sem ligação com um determinado contexto, fazendo o aluno escrever uma redação sem função e finalidades, sem interlocutor, sem contexto, sem interação, sem condição de produção, concebendo o texto apenas como um espaço para palavras e frases soltas. Neste caso, o aluno escreve porque lhe pediram para escrever, sem nenhum porquê, é a redação do tipo “Minhas férias”. Assim, o aluno escreverá somente para o professor, visando alcançar uma nota. Portanto, vemos uma escrita sem planejamento, totalmente improvisada e sem vinculação com a prática. Além disso, a correção do professor muita vezes é esta: passa os olhos na folha, coloca um “V” de visto e encerra a atividade de escrita desta forma.
Veremos agora a produção escrita pelo viés interacionista, que é o indicado pelos documentos oficiais de ensino:
A concepção interacionista, segundo Antunes (2003), concebe a escrita sob o prisma da interação, da relação entre sujeitos e dos diálogos que surgem desta relação. Assim, toda escrita pressupõe um interlocutor, um alguém para estabelecer a interação e para dividir o momento da escrita, ainda que, na escola, este outro alguém seja fictício, mas é de grande relevância a sua presença nas produções textuais dos alunos.
O professor deve fazer o aluno compreender que se escreve para cumprir uma função comunicativa, isto é, a escrita tem um porquê. E, assim, há uma diversidade de textos circulando socialmente, os gêneros discursivos.
Escrever também implica em etapas:
1ª. planejar (“ter o que dizer”): pesquisar sobre o tema, estipular objetivo, o gênero, organizar ideias, pensar no leitor do texto;
 2ª. operar/escrever: por as ideias no papel, escolher palavras, estrutura das frases, pontuação, coerência, coesão;
3ª. reescrever: fazer uma autoavaliação, revisar o que foi escrito, melhorar as ideias, rever conteúdo e forma, é neste processo que se visualizam adequações textuais que levam a melhorias da escrita. Contudo, nem sempre a reescrita é trabalhada no espaço escolar.

Assim, na abordagem interacionista o aluno é sujeito do que escreve; os textos trabalhados são diversificados e têm funções sociais; há interlocutores; há um contexto para a escrita; há a presença das etapas de planejamento, escrita e revisão; há a preocupação com o conteúdo, forma e coerência global, resultando, enfim, em melhorias relacionadas à produção escrita.

Nas aulas realizadas por nós, professores em formação pelo PIBID, buscamos sempre trabalhar com produções escritas (pautadas na concepção interacionista) com os alunos. Estas produções são realizadas após um período de leituras com os alunos, de debates, de conhecimento da temática e do gênero a ser produzido.

Referência
ANTUNES, Irandé. Aula de português: encontro e interação. São Paulo: Parábola Editorial, 2003.

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