Por Cristiane Malinoski Pianaro Angelo e Loremi Loregian-Penkal
As
intensas
críticas,
motivadas
pelas
pesquisas
nas
áreas
da
linguagem,
ao
ensino
de
língua
materna,
centrado
em
atividades
de
repetição
e
reconhecimento
de
estruturas,
têm
provocado
um
redimensionamento
nas
práticas
escolares,
favorecendo
uma
visão
muito
mais
funcional
da
língua.
Hoje,
tenta-se
superar
a
rotina
tradicional
em
que
as
atividades
de
leitura,
produção
e
gramática
são
tratadas
como
compartimentos
estanques. Busca-se um
ensino
em
que
essas
práticas
se
inter-relacionem
de
forma
contextualizada
para
que,
assim,
possibilitem
ao
aluno
o
domínio
das
habilidades
de
uso
da
língua
em
situações
concretas
de
interação.
Essa
abordagem
requer
que
o
foco
principal
das
aulas
de
língua
portuguesa
seja
o
trabalho
com
a
língua.
Franchi (1988)
aponta
três
atividades
que
podem
ser
desenvolvidas
com
a
língua:
atividades
linguísticas,
epilinguísticas
e
metalinguísticas.
As
atividades
linguísticas
referem-se
ao
uso
da
língua
nos
processos
interlocutivos.
Pisciotta
(2001,
p.
94)
lembra
que
“o
aluno
chega
à
escola
com
vários
anos
de
atividade
linguística
vivenciada
na
família
e
na
comunidade,
e
as
aulas
de
língua
portuguesa
deveriam
incorporar
esses
conhecimentos
para,
a
partir
deles,
prosseguir
com
outras
atividades
de
fala,
escuta,
leitura
e
escrita”.
Sob
essa
perspectiva,
as
aulas
de
Língua
Portuguesa
devem
buscar
a
continuidade
do
uso
social
da
linguagem
já
iniciado
no
convívio
com
a
família
e
com
os
amigos.
As
atividades
epilinguísticas
evidenciam
a
exercitação
reflexiva
sobre
o
funcionamento
da
língua.
Aparecem
quando
o
aluno
experimenta
novos
modos
de
construções
linguísticas,
avalia
a
eficácia
ou
adequação
de
certas
expressões
no
uso
oral
ou
escrito,
procura
descobrir
a
intencionalidade
implícita
em
textos
lidos
ou
ouvidos,
reflete
sobre
os
diferentes
recursos
que
a
língua
oferece
para
a
construção
de
diferentes
efeitos
de
sentidos.
Isto
pode
ser
evidenciado
quando
o
aluno,
diante
de
um
texto
de
propaganda,
por
exemplo,
procura
questionar
por
que
se
empregam
verbos
no
imperativo,
adjetivos,
pronomes
de
segunda
pessoa;
por
que
aparecem
preferencialmente
períodos
simples
ao
invés
de
períodos
compostos;
por
que
o
autor
do
texto
usou
uma
expressão
humorística,
metáforas
ou
comparações.
As
atividades
metalinguísticas
referem-se
à
sistematização
e
à
descrição
da
língua
através
de
um
conjunto
de
elementos
linguísticos
próprios
para
se
falar
sobre
a
língua.
Têm-se
atividades
metalinguísticas
quando
se
exploram
conceitos
e
classificações
em
exercícios
como:
classifique
os
substantivos
em
simples
ou
compostos;
sublinhe
os
artigos
definidos
e
circule
os
artigos
indefinidos;
copie
do
texto
três
advérbios
de
tempo.
Consideramos
que
essas
atividades
devem
ser
instrumento
de
apoio
para
a
discussão
dos
aspectos
da
língua
que
o
professor
seleciona
no
curso
do
ensino-aprendizagem,
e
não
um
fim
em
si
mesmas.
Compreendemos
que
o
estudo
de
qualquer
conteúdo
gramatical
deve
ser
“surpreendido”
em
seu
uso,
dentro
do
texto,
pois
é
aí
que
ele
faz
sentido.
A
metodologia
de
abordagem
gramatical
aqui
defendida
parte,
portanto,
das
atividades
linguísticas
e
epilinguísticas,
pois
acreditamos
que
esse
seja
um
caminho
para
o
aluno
tomar
consciência
sobre
o
funcionamento
da
língua
e
aprimorar
o
controle
sobre
a
própria
produção
linguística.
Incluímos,
nas
atividades
de
análise
e
reflexão
da
língua,
os
seguintes
aspectos,
dentre
outros:
- o estudo das condições de produção do texto e das características específicas dos gêneros textuais. O conhecimento desses aspectos é o ponto de partida para a prática de análise linguística, pois é levando em conta o objetivo da comunicação, o interlocutor, o assunto, o gênero textual que o autor seleciona os recursos linguísticos a serem utilizados.
- a reflexão sobre o motivo da escolha de uma forma linguística ou outra. Dessa maneira, os elementos linguísticos não serão vistos como formas “congeladas”, mas como recursos que se prestam à eficiência comunicativa.
- a discussão sobre o emprego de relatores. Para que um texto se constitua como um texto, as informações devem ser “costuradas”, ou então será apenas um amontoado de frases sem sentido. Essas “costuras” são explicitamente reveladas através de marcas linguísticas, denominadas de relatores.
- o uso de verbos. No estudo das formas verbais, será importante destacar que a escolha dos termos não é feita ao acaso, pois há sempre um interlocutor, alvo das produções, para quem o texto se destina.
- a formulação de regras ortográficas. Ao construir e registrar com a criança as regras ortográficas, o professor estará possibilitando que ela compreenda melhor o funcionamento do sistema de escrita alfabética.
- a ampliação do léxico. As reflexões sobre os itens lexicais do texto (como se formam as palavras, por que o autor opta por determinadas palavras) são também fundamentais, pois possibilitam que o aluno amplie o repertório de recursos linguísticos a ser utilizado nas práticas de leitura e produção de textos.
Acreditamos
que o estudo dessas questões possibilitará que o aluno observe a
linguagem em seu funcionamento e, desse modo, amplie o domínio sobre
a sua língua, desenvolvendo novas habilidades e competências.
Referências
FRANCHI,
C. Criatividade e
gramática. São
Paulo: SE/ CENP, 1988.
PISCIOTTA,
H. Análise lingüstica: do uso para a reflexão. In: BRITO (org.)
PCN’s de Língua
Portuguesa: a prática
na sala de aula. São
Paulo: Arte & Ciência, 2001.
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