sexta-feira, 9 de maio de 2014

Um tema social: ampliando o horizonte crítico do aluno!

Por Carla Micheli Carraro



São inúmeros os temas que podem servir de base para uma aula ou um conjunto de aulas. Dentre eles, uma esfera sempre propícia para discussões críticas é a social, ou seja, fazer o estudante refletir acerca do mundo real, preocupar-se com ele e pensar alternativas para transformá-lo.
A seguir, disponibilizamos algumas aulas com a temática social: o trabalho – quase escravo – na cana-de-açúcar.
A aula pode ser iniciada com a discussão desta imagem, utilizando questões como “O que vocês visualizam nesta imagem? Quais as características do homem que está realizando este trabalho? Em sua opinião, por que a imagem está em branco e preto? Qual a sensação que a imagem traz para vocês?”

 

IMAGEM I: 750×563 - Cortador de cana. Foto de Rubens T. Carvalho
(Disponível em:<http://br.olhares.com/cortador_de_cana_foto814090.html> acesso em 10 jun/2011)

Em seguida, apresentar aos alunos o poema:

O açúcar (Ferreira Gullar)

O branco açúcar que adoçará meu café
nesta manhã de Ipanema
não foi produzido por mim
nem surgiu dentro do açucareiro por milagre.

Vejo-o puro
e afável ao paladar
como beijo de moça, água
na pele, flor
que se dissolve na boca. Mas este açúcar
não foi feito por mim.

Este açúcar veio
da mercearia da esquina e tampouco o fez o Oliveira, dono da mercearia.
Este açúcar veio
de uma usina de açúcar em Pernambuco
ou no Estado do Rio
e tampouco o fez o dono da usina.

Este açúcar era cana
e veio dos canaviais extensos
que não nascem por acaso
no regaço do vale.

Em lugares distantes, onde não há hospital
nem escola,
homens que não sabem ler e morrem de fome
aos 27 anos
plantaram e colheram a cana
que viraria açúcar.

Em usinas escuras,
homens de vida amarga
e dura
produziram este açúcar
branco e puro
com que adoço meu café esta manhã em Ipanema.
(Ferreira Gullar. Toda poesia. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1980, p.227-228)

Após a leitura, observar que quase não há pontuação (forma); notar se há ou não rimas (forma); imaginar o eu-lírico da poesia (conteúdo); associar a compreensão da poesia para a realidade brasileira dos cortadores de cana (conteúdo). Poderão, ainda, ser trabalhadas questões de compreensão e interpretação do poema.

Depois do poema, apresentar o texto abaixo:

“O gosto amargo da cana-de-açúcar”, de João Ripper
Volta e meia, o suor fica vermelho quando a folha da cana corta a pele infantil. Sorte da criança: a dor faz parte do ofício, ela se acostuma. Pior é quando a foice escapa e fere. Aí, dói muito, o corte é profundo e às vezes mutila. Se isso ocorre, a criança perde parte do corpo e perde também o emprego.
Quando a criança pode crescer canavieira, quase sempre sofre de desnutrição e excesso de cansaço físico. Muitas vezes adquire hipertrofia cardíaca, artrose e enfisema pulmonar. Após 12 anos de profissão, um canavieiro pode ficar inutilizado para o mercado de trabalho. Para cada adulto existe uma criamnça ou adolescente trabalhando nos canaviais brasileiros. (Revista Sem Fronteiras. São Paulo, Editora Alô mundo, mar/1996. n. 238. p. 15. Internet)

Para dar sequência à aula poderá ser realizada uma pesquisa por parte dos alunos, por exemplo: pesquisar acerca do trabalho infantil nos canaviais; como se dá o processo de produção de açúcar; as condições de vida dos trabalhadores dos canaviais, entre outras possibilidades.

Enfim, esta é uma sugestão que pode gerar ótimas discussões com os alunos!

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