sexta-feira, 4 de julho de 2014

As mudanças do acordo ortográfico serão boas para o Brasil?

Por: Lorena Reck P. Rebesco

Questiona-se até que ponto a nova mudança nas regras ortográficas da língua portuguesa beneficiou os países signatários.
Tudo começou com a ideia de tentar unificar as regras ortográficas entre os países que utilizam o Português como idioma oficial, entre eles Brasil, Portugal, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe.
Os que defendem a unidade linguística apresentaram diversos argumentos para defender sua opinião: a) a língua espanhola, apesar das diferenças de pronúncia e vocabulário entre Espanha e os países da América, é regida por uma só norma ortográfica; b) a dupla grafia entre países que utilizam o Português como língua oficial também acabaria limitando a dinâmica do idioma, pois dificultaria não só a divulgação de informações e as relações comerciais, como também a difusão cultural entre os países de língua portuguesa, de modo a enfraquecer a língua; c) na esfera internacional, a dupla grafia diminuiria o prestígio do idioma, já que este acabaria sendo tratado não como uma única língua, mas como línguas diferentes, necessitando de mais de uma tradução a depender do lugar de veiculação da obra literária.
Diante de todos estes argumentos, desde 1º de janeiro de 2009 os brasileiros já começaram a usar as novas regras, contudo de forma opcional. É que a nova grafia só se tornará obrigatória a partir de 1º de janeiro de 2016. 
As principais mudanças para o português escrito no Brasil são a inclusão das letras K, W e Y no alfabeto, a abolição do trema, a supressão de alguns acentos nas palavras paroxítonas e ainda a alteração nas regras de uso do hífen.
Contudo, questiona-se até que ponto esta unificação é salutar ou benéfica para nosso país.
Em primeiro lugar pode-se indagar se há nisso tudo um interesse econômico das empresas editoriais que, com a unificação da língua, poderiam comercializar os seus produtos (livros) em diversos países, já que a publicação de exemplares em uma única língua é muito mais rentável.
Outra dúvida é: o que fazer com todo material didático utilizado em nossas escolas, os quais certamente poderiam ser reaproveitados nos anos subsequentes? A resposta é fácil. Podem-se comprar novos materiais das editoras, claro. Utilizando-se o dinheiro público, certamente. Mas será que este não anda meio escasso ultimamente?
Na condição de aluna do PIBID, verifico que os professores de ensino fundamental e médio reclamam diariamente que não há verba orçamentária nem para fazer fotocópias e que, quando eles precisam fornecer cópias de algum material interessante para seus alunos, precisam custear as despesas com o seu próprio salário. 
Fora a questão econômica, o próprio acordo, com relação ao hífen, parece um pouco obscuro. Fica a impressão de que sua utilização se tornou mais complicada do que antes da reforma. Segundo os críticos (http://www.jurisway.org.br/cursos/curso.asp?id_curso=1096, acessado em 05/06/2014 às 16h) 

o acordo ortográfico não fala explicitamente de todos os prefixos. Um dos problemas é o prefixo 're', de reescrever e reeditar. Palavras como girassol e passatempo não tinham hífen, enquanto porta-retrato, guarda-louça e tira-teima possuíam o hífen. O problema é que, apenas baseando-se no texto atual, não é possível concluir se essas palavras terão hífen ou não.

Mas a questão crucial consiste no fato de que as línguas são organismos vivos. Elas estão na “boca do povo”, como bem disse Veríssimo. As línguas estão sujeitas à transformação, expansão, crescimento e até às morte, a exemplo do Latim. A forma como a língua será utilizada dependerá de vários fatores como, por exemplo, local, cultura, escolaridade, poder aquisitivo, origem e características pessoais de seus falantes.
Tentar unificar as regras de uma língua falada por pessoas que estão separadas pelo Oceano Atlântico constitui uma tarefa inócua.
Precisamos valorizar a nossa língua portuguesa, a falada por nós brasileiros. Ela não é melhor e nem pior que o português falado na Europa ou na África, é apenas diferente, única. É apropriada à nossa cultura, ao nosso contexto social, enfim, ao nosso povo.
Portanto, projetos que visem tornar nossa língua mais adequada e organizada serão bem-vindos. Mas desde que estejam voltados para nossas necessidades e peculiaridades linguísticas, e não para as de outros países.  


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