RESENHA
Entre os Muros da Escola. Direção: Laurent Cantet. Produção: Caroline
Benjo e Carole Scotta. Paris: Imovision, 2008.
Elizandra Feld
O filme Entre os
muros da escola, do diretor Laurent Cantet,
traz a história de François, professor de uma escola da periferia
parisiense. Com boas intenções, François e seus colegas se apoiam
para tentar manter vivo o estímulo de dar a melhor educação a seus
alunos.
Na sala de aula, na França contemporânea, há um choque entre as
diferentes vivências e culturas dos jovens. Nesse contexto,
os professores têm
dificuldade de manter o domínio de turma, devido às frequentes
conversas e atritos entre os estudantes.
O
filme nos faz refletir sobre nosso papel de professores, faz pensar
as dificuldades e limitações do nosso trabalho. Como ensinar em
uma turma que, aparentemente, não se interessa em aprender os
conteúdos propostos? Ou, ainda, como ensinar aqueles alunos que não
respeitam aos professores? Essas e outras questões vêm a nossa
mente, quando analisamos as salas de aula da atualidade.
É
necessário pensar no nosso comportamento diante dos alunos, visto
que eles, muitas vezes, espelham-se nos seus professores. Sendo
assim, aquilo que dizemos pode atuar de forma decisiva para a
formação dos alunos. No filme, temos um mau posicionamento do
professor François, quando se refere as suas alunas com o termo
pejorativo de “vagabundas”. Tal fato corroborou para que a
relação professor-aluno ficasse ainda mais complicada. Analisando
esse comportamento do professor em relação as suas alunas,
entende-se que enfrentar o aluno nem sempre é a melhor solução a
ser adotada, mas é o caso de propor conversas, diálogos com os
alunos.
Além
de tudo, é necessário reconhecer que o aluno sempre tem algum
conhecimento e que nenhum ser humano é desintegrado do saber, isto
é, todo e qualquer indivíduo é dotado de algum conhecimento, não
importa se é científico, empírico ou do senso comum, todos possuem
sua validade. Muitos professores atuam ainda no modelo de educação
bancária, criticado por Paulo Freire, grande contribuinte para os
estudos na área da educação. Nesse modelo, os alunos são meros
recipientes que precisam ser “enchidos” e aqueles que mais se
permitirem serem preenchidos são considerados os melhores. Não
existe a preocupação de fazer do aluno um ser pensante, mas sim
aquele que deve apenas decorar e assimilar datas e conteúdos.
François
tinha grandes desafios. Um deles era o ensinar a língua francesa de
forma a fazer os alunos falar fluentemente. Além disso, o desafio de
atingir todos os alunos na mesma proporção, visto que vinham de
diferentes países e, assim, carregavam diferentes culturas. Isso se
torna também um desafio para nós, visto que no Brasil também temos
um pluralismo de culturas. Precisamos, enquanto professores,
reconhecer a cultura, valorizar o aluno, sua língua e,
principalmente, integrar esse aluno no meio social em que vive.
Nós,
professores, necessitamos estar preparados para enfrentar as
diferentes realidades vivenciadas em cada escola. Cada aluno é
singular naquele meio, apresentando diferentes histórias, qualidades
e necessidades. É imprescindível, também, atuar de forma
imparcial, sem olhar a classe social dos nossos alunos, adotando uma
postura adequada diante deles.
O
filme Entre os muros da escola
é recomendado aos professores da atualidade, tanto de Língua
Portuguesa, quanto de outras licenciaturas, já que apresenta as
dificuldades vivenciadas por um professor numa escola de periferia,
bem como a dificuldade dos alunos em relação aos métodos aplicados
pelo professor. Serve, também, para que possamos fazer uma
auto-avaliação, ou seja, refletir acerca de nossas práticas de
ensino e nosso papel enquanto mediador do conhecimento.
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