sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Entre os muros da escola

RESENHA

Entre os Muros da Escola. Direção: Laurent Cantet. Produção: Caroline Benjo e Carole Scotta. Paris: Imovision, 2008.

Elizandra Feld


O filme Entre os muros da escola, do diretor Laurent Cantet, traz a história de François, professor de uma escola da periferia parisiense. Com boas intenções, François e seus colegas se apoiam para tentar manter vivo o estímulo de dar a melhor educação a seus alunos.
   Na sala de aula, na França contemporânea, há um choque entre as diferentes vivências e culturas dos jovens. Nesse contexto, os professores têm dificuldade de manter o domínio de turma, devido às frequentes conversas e atritos entre os estudantes.
O filme nos faz refletir sobre nosso papel de professores, faz pensar as dificuldades e limitações do nosso trabalho. Como ensinar em uma turma que, aparentemente, não se interessa em aprender os conteúdos propostos? Ou, ainda, como ensinar aqueles alunos que não respeitam aos professores? Essas e outras questões vêm a nossa mente, quando analisamos as salas de aula da atualidade.
É necessário pensar no nosso comportamento diante dos alunos, visto que eles, muitas vezes, espelham-se nos seus professores. Sendo assim, aquilo que dizemos pode atuar de forma decisiva para a formação dos alunos. No filme, temos um mau posicionamento do professor François, quando se refere as suas alunas com o termo pejorativo de “vagabundas”. Tal fato corroborou para que a relação professor-aluno ficasse ainda mais complicada. Analisando esse comportamento do professor em relação as suas alunas, entende-se que enfrentar o aluno nem sempre é a melhor solução a ser adotada, mas é o caso de propor conversas, diálogos com os alunos.
Além de tudo, é necessário reconhecer que o aluno sempre tem algum conhecimento e que nenhum ser humano é desintegrado do saber, isto é, todo e qualquer indivíduo é dotado de algum conhecimento, não importa se é científico, empírico ou do senso comum, todos possuem sua validade. Muitos professores atuam ainda no modelo de educação bancária, criticado por Paulo Freire, grande contribuinte para os estudos na área da educação. Nesse modelo, os alunos são meros recipientes que precisam ser “enchidos” e aqueles que mais se permitirem serem preenchidos são considerados os melhores. Não existe a preocupação de fazer do aluno um ser pensante, mas sim aquele que deve apenas decorar e assimilar datas e conteúdos.
François tinha grandes desafios. Um deles era o ensinar a língua francesa de forma a fazer os alunos falar fluentemente. Além disso, o desafio de atingir todos os alunos na mesma proporção, visto que vinham de diferentes países e, assim, carregavam diferentes culturas. Isso se torna também um desafio para nós, visto que no Brasil também temos um pluralismo de culturas. Precisamos, enquanto professores, reconhecer a cultura, valorizar o aluno, sua língua e, principalmente, integrar esse aluno no meio social em que vive.
Nós, professores, necessitamos estar preparados para enfrentar as diferentes realidades vivenciadas em cada escola. Cada aluno é singular naquele meio, apresentando diferentes histórias, qualidades e necessidades. É imprescindível, também, atuar de forma imparcial, sem olhar a classe social dos nossos alunos, adotando uma postura adequada diante deles.
O filme Entre os muros da escola é recomendado aos professores da atualidade, tanto de Língua Portuguesa, quanto de outras licenciaturas, já que apresenta as dificuldades vivenciadas por um professor numa escola de periferia, bem como a dificuldade dos alunos em relação aos métodos aplicados pelo professor. Serve, também, para que possamos fazer uma auto-avaliação, ou seja, refletir acerca de nossas práticas de ensino e nosso papel enquanto mediador do conhecimento.



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