Por: Lorena Reck Portela Rebesco
O filme “Entre os muros da
escola” (Direção: Laurente Cantet. Produção: Caroline Benjo e
Carole Scott. Paris Imovision, 2008, DVD) descreve a realidade de uma
escola francesa nos dias atuais. Embora se trate de um colégio
francês, os fatos ali retratados poderiam ocorrer em qualquer escola
brasileira.
O enredo aborda as dificuldades
vividas na sala de aula em decorrência da diversidade cultural,
econômica e social existente entre os alunos, professores, diretores
e sua equipe. Na sala do professor Marin existem alunos imigrantes, chineses, africanos, etc. A maioria dos conflitos é decorrente da comunicação truncada que ali se estabelece, pois
cada um, além de possuir uma língua, também possui um léxico
diferente e, principalmente, culturas distintas. O professor fala francês e utiliza a variedade padrão
para se comunicar com os alunos. Os adolescentes falam outras
línguas e possuem seu próprio idioleto, cheio de gírias. Dessa
forma, não fica difícil imaginar os conflitos que se instalam.
Também ocorrem conflitos
relacionados à sexualidade, racismo e preconceitos de modo geral. O
telespectador tem a impressão de que o cotidiano escolar é um
vulcão prestes a entrar em erupção a qualquer momento, devido ao
clima tenso estabelecido entre a equipe.
De um lado, os professores
acreditam que a solução para esses problemas é aumentar a punição,
criando um código com condutas e penalidades para os alunos.
Entendem que assim estes terão mais interesse e respeito pela
escola. Do outro lado, os alunos criticam a conduta dos professores,
dizendo que estes não respeitam seus direitos e opiniões. Fatos
embaraçosos corroboram essa argumentação, como, por exemplo, a
ocasião em que o professor Marin quis obrigar uma aluna a fazer uma
leitura, ou quando disse que outra aluna estava se comportando como
uma “vagabunda”.
O interessante é que a história
em nenhum momento é tendenciosa, pois não faz juízo de valor em
relação aos alunos, professores ou diretores. Ora parece que estes
cometem erros, ora aqueles. O que fica claro é o constante atrito e
dificuldades na convivência e educação escolar.
Como já foi dito, embora o filme
retrate o dia a dia de uma escola francesa, verifica-se que os fatos
ali retratados também estão presentes na realidade das escolas
brasileiras. Esses conflitos denunciam que há problemas estruturais
em nosso sistema de ensino, principalmente em relação à qualidade
deste.
Contudo, a constatação desses
problemas já é um grande passo para que seja repensado o papel da
escola. Afinal, a construção de uma instituição democrática que,
acima de tudo, aceite as diferenças sociais, econômicas e culturais
de seus integrantes, necessita de tempo e de uma análise minuciosa
por parte dos professores e equipe. Cabe salientar que qualquer
trabalho a ser desenvolvido após essa análise coletiva precisa levar em conta o respeito à história e à origem dos alunos, bem como os
princípios contidos na Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário