sábado, 18 de outubro de 2014

A escola e seus muros

Por: Lorena Reck Portela Rebesco

O filme “Entre os muros da escola” (Direção: Laurente Cantet. Produção: Caroline Benjo e Carole Scott. Paris Imovision, 2008, DVD) descreve a realidade de uma escola francesa nos dias atuais. Embora se trate de um colégio francês, os fatos ali retratados poderiam ocorrer em qualquer escola brasileira.
O enredo aborda as dificuldades vividas na sala de aula em decorrência da diversidade cultural, econômica e social existente entre os alunos, professores, diretores e sua equipe. Na sala do professor Marin existem alunos imigrantes, chineses, africanos, etc. A maioria dos conflitos é decorrente da comunicação truncada que ali se estabelece, pois cada um, além de possuir uma língua, também possui um léxico diferente e, principalmente, culturas distintas. O professor fala francês e utiliza a variedade padrão para se comunicar com os alunos. Os adolescentes falam outras línguas e possuem seu próprio idioleto, cheio de gírias. Dessa forma, não fica difícil imaginar os conflitos que se instalam.
Também ocorrem conflitos relacionados à sexualidade, racismo e preconceitos de modo geral. O telespectador tem a impressão de que o cotidiano escolar é um vulcão prestes a entrar em erupção a qualquer momento, devido ao clima tenso estabelecido entre a equipe.
De um lado, os professores acreditam que a solução para esses problemas é aumentar a punição, criando um código com condutas e penalidades para os alunos. Entendem que assim estes terão mais interesse e respeito pela escola. Do outro lado, os alunos criticam a conduta dos professores, dizendo que estes não respeitam seus direitos e opiniões. Fatos embaraçosos corroboram essa argumentação, como, por exemplo, a ocasião em que o professor Marin quis obrigar uma aluna a fazer uma leitura, ou quando disse que outra aluna estava se comportando como uma “vagabunda”.
O interessante é que a história em nenhum momento é tendenciosa, pois não faz juízo de valor em relação aos alunos, professores ou diretores. Ora parece que estes cometem erros, ora aqueles. O que fica claro é o constante atrito e dificuldades na convivência e educação escolar.
Como já foi dito, embora o filme retrate o dia a dia de uma escola francesa, verifica-se que os fatos ali retratados também estão presentes na realidade das escolas brasileiras. Esses conflitos denunciam que há problemas estruturais em nosso sistema de ensino, principalmente em relação à qualidade deste.
Contudo, a constatação desses problemas já é um grande passo para que seja repensado o papel da escola. Afinal, a construção de uma instituição democrática que, acima de tudo, aceite as diferenças sociais, econômicas e culturais de seus integrantes, necessita de tempo e de uma análise minuciosa por parte dos professores e equipe. Cabe salientar que qualquer trabalho a ser desenvolvido após essa análise coletiva precisa levar em conta o respeito à história e à origem dos alunos, bem como os princípios contidos na Declaração Universal dos Direitos Humanos.



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