Por: Rosana Taís Rossa
É muito comum
encontrarmos os termos “tipos” e “gêneros” textuais
empregados como sinônimos. No entanto, sabemos que a diferença
entre os dois elementos existe e é visível. Ao analisarmos a esfera
jornalística, podemos ilustrar as características de um gênero
textual e das tipologias que o compõem. A notícia abaixo relata o
rumo tomado pelas manifestações ocorridas em junho de 2013 nas
grandes capitais do país.
Os já
habituais protestos do 7 de Setembro ganharam força neste ano, quase
três meses após a onda de manifestações que varreu o país. Rio
de Janeiro, Brasília e São Paulo foram palco dos protestos mais
violentos. Houve confronto com a polícia e dezenas de detenções.
O
protesto teve os manifestantes habituais, como os movimentos sociais
em torno do Grito dos Excluídos (de inspiração católica). Mas,
neste ano, foi engrossado por muitos dos manifestantes que em junho
foram à ruas pela primeira vez, durante os protestos dos 20
centavos. E cenas de confronto voltaram a se repetir.
No
Rio, manifestantes entraram na avenida do desfile cívico-militar
pela manhã. Houve confronto, bombas de águas e feridos, entre
manifestantes e público. À tarde, manifestantes, incluindo black
blocks, seguiram ao monumento Zumbi dos Palmares, na avenida
Presidente Vargas, e queimaram a bandeira do Brasil. O grupo seguiu
depois ao palácio da Guanabara, sede do governo. Segundo informações
oficiais, 27 manifestantes foram detidos.
Na
capital de São Paulo, manifestantes chocaram-se com a polícia no
centro antigo. Um grupo, com black blocks, tentou depredar a Câmara
Municipal e seguir depois para a Sé. Ainda não há balanço oficial
sobre o número de detidos.
Em
Brasília, manifestantes se enfrentaram e foram dispersos pela
polícia nos arredores do Congresso, do estádio Mané Garrincha e no
Museu da República. Segundo informações oficiais, foram detidos 35
adultos e 15 adolescentes.
O
protesto teve início em frente ao Congresso Nacional, com cerca de 3
mil manifestantes. A concentração se deu a pouca distância da
tribuna onde a presidente Dilma Rousseff acompanhava o desfile
cívico-militar em comemoração aos 191 anos da independência.
Parte
do grupo dirigiu-se depois ao entorno do estádio Mané Guarrincha,
onde a Seleção Brasileira enfrentou a Austrália em jogo amistoso.
A
Polícia Militar do Distrito Federal bloqueou o acesso, com a tropa
de choque e a cavalaria. Manifestantes entraram em confronto e a cena
seguinte foi de corre corre em meio ao gramado seco da capital
federal.
Bombas
de gás lacrimogênio e spray de pimenta foram usados na dispersão
dos manifestantes, que voltaram a se enfrentar com os policiais na
rodoviária.
Os
manifestantes seguiram pelo eixo monumental em direção ao
Congresso. Foram contidos pela polícia, deram meia volta e seguiram
ao Museu da República, onde se deram outras cenas de confronto.
Disponível
em:
http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/bbc/2013/09/07/black-blocks-cativam-e-assustam-manifestantes-mundo-afora.htm.
Acesso em: 17/09/2013.
A partir desse
texto, podemos observar que gênero e tipo se mesclam para que o
conteúdo seja completo. O gênero discursivo “notícia” consiste
no resumo de um acontecimento. Portanto, as informações nela
impressas devem ser um tanto superficiais, sem muita riqueza de
detalhes. Entre as características desse gênero podemos apontar que
a notícia deve comunicar o fato e não traçar argumentos sobre ele,
devendo responder algumas questões, como: qual é o acontecimento?
Onde ele ocorreu: em que cidade, estado, país? Quando aconteceu: que
dia, mês, ano? Por que aconteceu: o que está por trás? Quais foram
as possíveis consequências?
Como estrutura
composicional do gênero, vemos que ela é composta por duas partes,
sendo elas a manchete e o texto. A manchete resume a notícia em
poucas linhas (2 a 3) e tem o objetivo de atrair o leitor para ler o
conteúdo como um todo, ao passo que o texto narra os acontecimentos
em questão. A diferença entre notícia e reportagem é que a
primeira informa fatos de maneira mais objetiva e aponta as razões e
efeitos. A segunda vai mais a fundo, faz investigações, tece
comentários, levanta questões, discute, argumenta.
Agora, ao pensarmos
nas tipologias textuais, observamos que esse texto apresenta duas
delas:
Narrativa:
“No Rio, manifestantes entraram na avenida do desfile
cívico-militar pela manhã.” (...) “À tarde, manifestantes,
incluindo black blocks, seguiram ao monumento Zumbi dos Palmares, na
avenida Presidente Vargas, e queimaram a bandeira do Brasil.”
(…)
“A Polícia Militar do Distrito Federal bloqueou o acesso, com a
tropa de choque e a cavalaria.”
A
narração consiste no relato de um fato, um acontecimento. Para que
esse fato ocorra, é necessário que existam seres executando ações,
em determinado tempo e espaço. Os verbos aparecem predominantemente
no passado e expressando ações. No excerto acima, percebemos que o
texto está contando aos leitores que os manifestantes entraram em
determinada avenida, queimaram a bandeira do nosso país e, em
seguida, foram acuados pela tropa de choque.
Portanto,
podemos considerar esse trecho como narrativo, já que temos:
-
Seres que executam as ações: manifestantes, black blocks e
policiais;
-
Tempo e espaço: 7 de setembro (a data não aparece nesse trecho, mas
o leitor tem essa informação ao ler a manchete da notícia),
avenida Presidente Vargas;
-
Verbos no passado que indicam ação: entraram, seguiram, queimaram e
bloqueou.
Expositiva:
“Na capital de São Paulo, manifestantes chocaram-se com a polícia
no centro antigo. Um grupo, com black blocks, tentou depredar a
Câmara Municipal e seguir depois para a Sé. Ainda não há balanço
oficial sobre o número de detidos. Em Brasília, manifestantes se
enfrentaram e foram dispersos pela polícia nos arredores do
Congresso, do estádio Mané Garrincha e no Museu da República.
Segundo informações oficiais, foram detidos 35 adultos e 15
adolescentes. O protesto teve início em frente ao Congresso
Nacional, com cerca de 3 mil manifestantes. A concentração se deu a
pouca distância da tribuna onde a presidente Dilma Rousseff
acompanhava o desfile cívico-militar em comemoração aos 191 anos
da independência.”
Na
tipologia textual exposição, temos a transmissão de uma informação
ao leitor. Uma das características desse tipo é que ele apresenta
as informações em uma sequência. Outra característica importante
é que ele pode trazer dados, mas sem expressar o posicionamento do
autor.
Então,
definimos esse trecho como expositivo, pois apresenta:
-
O fato como ele aconteceu;
-
Os acontecimentos estão narrados em sequência: Em São Paulo,
manifestantes chocam-se com a polícia; Black blocks tentam depredar
locais públicos; Não se sabe ao certo quantos foram detidos; Em
Brasília, manifestantes iniciam tumultos, mas são dispersados por
policiais etc.
-
Dados são apresentados: Foram detidos 35 adultos e 15 adolescentes;
O protesto teve início em frente ao Congresso Nacional, com cerca de
3 mil manifestantes.
Retomando
o conceito de notícia, vemos que ela não apresenta argumentos,
centrando-se apenas em relatar os fatos. A tarefa de argumentar,
opinar e se posicionar diante de um acontecimento cabe à reportagem,
o que acarreta no aparecimento da tipologia argumentativa no decorrer
no texto, elemento esse que não é comportado aqui. Portanto, vemos
que dentro de um gênero discursivo específico, a notícia, temos
duas tipologias textuais diferentes, sendo elas a narrativa e
expositiva.
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