Por: Lorena Reck Portela Rebesco
Os gêneros textuais fazem parte
do dia a dia de qualquer pessoa, sendo
intrínsecos às
atividades comunicativas. Assim, os gêneros podem ser definidos como
as diferentes formas que podemos utilizar para interagirmos, ou seja,
desempenharmos nossa capacidade linguística.
Podemos destacar as seguintes
características dos gêneros: a) surgem naturalmente a partir das
necessidades históricas, culturais, econômicas e sociais, sendo que
podem nascer, sofrer mudanças e até desaparecer); b) são infinitos
(é impossível dizer a quantidade de gêneros existentes); c) são
relativamente estáveis (os gêneros estão em constante
transformação, pois a criatividade humana não se esgota; cada
pessoa que retoma um gênero em seu discurso, acaba contribuindo para
perpetuá-lo como também para mudá-lo)
Os gêneros ocorrem em diferentes
esferas, como, por exemplo, a jornalística, a escolar, a jurídica,
a política, a religiosa, etc. Na esfera jornalística, temos o
gênero editorial, classificados, reportagens, entrevistas, notícias,
horóscopo, charges, propagandas; na esfera escolar, existem os
gêneros aula, exercícios, provas; na esfera jurídica, temos os
gêneros petição inicial, contestação, sentença, despachos; na
política, há os gêneros debate, pronunciamento, reunião; e na
esfera religiosa, os gêneros: sermão, oração, cânticos, etc.
De outro ponto de vista, temos as
tipologias textuais. De acordo com Greco (2010, p. 18), os tipos
textuais são “sequências linguísticas, ou seja, são as
palavras, as frases e os parágrafos que organizam internamente o
gênero discursivo”. Diferentemente dos gêneros, os tipos textuais
são artificiais, ou seja, não cumprem funções sociocomunicativas,
e também são estáveis, pois suas características principais não
mudam. Também são finitos, uma vez que temos apenas cinco tipos:
descritivo, narrativo, expositivo, argumentativo e injuntivo.
Assim, verifica-se que não existe
uma dicotomia entre gênero e tipo textual, mas há entre os dois uma
relação de harmonia e complementaridade. Enquanto os tipos textuais
são compostos por critérios linguísticos e formais, os gêneros
são sociocomunicativos e discursivos (GRECO, 2010, p. 17-18).
Após essas breves explanações
sobre a questão dos gêneros e tipos textuais, passamos a tecer
algumas considerações sobre a ocorrência da intertextualidade e
intergêneros nas propagandas publicitárias.
De acordo com Greco (2010,
p. 22) a
intertextualidade intergêneros “é a hibridização ou mescla de
gêneros na qual um gênero assume a função e/ou a forma de outro.
O resultado é uma mistura de funções e formas de gêneros
diferentes em um determinado gênero. Os gêneros híbridos podem
confundir o leitor, porém, o gênero deve ser definido pela função
e não pela forma, visto que a função supera a forma na
determinação do gênero”.
Em outras palavras, é muito comum
que os gêneros se misturem, ou seja, um esteja contido no outro.
Quando isso acontece, devemos analisar a função do texto ou da
mensagem para então definirmos qual gênero será predominante. Vale
dizer, para identificarmos corretamente o gênero, o que importa é a
função e não a forma.
Para uma melhor compreensão do
tema, são analisadas a seguir algumas propagandas publicitárias em
que ocorre a intertextualidade intergêneros.
Esse texto possui as
características formais
do gênero cartaz de
cinema, mas na verdade cumpre a função do gênero propaganda, a
qual foi veiculada pela empresa de alimentos Hotifruti. Verifica-se
que a expressão “E o Coentro Levou” estabelece um diálogo com o
filme “E o vento Levou”. Dessa forma, embora existam dois
gêneros, cartaz de cinema e propaganda, é preciso observar que a
função do texto foi fazer a publicidade de uma marca de alimentos,
de modo que se pode concluir que o gênero predominante é a
propaganda.
Nesse texto, há a impressão de
que o gênero é uma carta de alforria (gênero já extinto), em
virtude de suas características formais. Contudo, a empresa que
veiculou esse texto, o utilizou com a função publicitária, de modo
que podemos dizer que o gênero predominante é a propaganda. O
objetivo da Caixa Econômica foi incutir a ideia de que, ao utilizar
os serviços bancários da empresa, o consumidor estaria garantindo a
sua liberdade, assim como os escravos fizeram antigamente.
Nesse exemplo, verificamos a
estrutura composicional do gênero comunicado, uma vez que o intuito
da empresa de carros Volkswagen foi comunicar o problema ocorrido nos
carros da família Fox. Contudo, também houve a intenção de fazer
uma propaganda ao ser reforçado o compromisso da empresa quanto à
fabricação de produtos de alta qualidade e ao pleno atendimento aos
seus clientes. Assim, verifica-se a ocorrência da superposição dos
gêneros comunicado e propaganda e, ao que parece, aquele se sobrepõe
a este.
Diante do exposto, pudemos
verificar que os gêneros textuais não são estáveis ou rígidos.
Pelo contrário, possuem plasticidade e mudam de acordo com o tempo e
com a intencionalidade do interlocutor. No meio publicitário, essa
possibilidade de mistura e superposição de gêneros é um material
muito rico para o exercício da criatividade e intencionalidade.
Nesse sentido, a função do gênero textual deve se sobrepor à
forma, isso porque a mistura de gêneros pode, muitas vezes,
transformar ou valorizar duas formas composicionais para fazê-las
funcionarem concomitantemente sobrepostas uma a outra.
REFERÊNCIAS
GRECO,
Eliana Alves. Gêneros Discursivos e Tipologias Textuais. In: SANTOS,
Annie Rose dos; GRECO, Eliane Alves; GUIMARÃES, Tânia Braga
(orgs.). A
produção textual e o ensino.
Maringá: Eduem, 2010.
BOTELHO,
Lilian de Pinho. Intertextualidade
Intergêneros na Publicidade
(Pontifícia Universidade Católica de São Paulo). Disponível em: http://alb.com.br/arquivo-morto/edicoes_ anteriores/anais17/txtcompletos/sem16/COLE_355.pdf. Acesso em 21/10/2014.
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