sábado, 20 de dezembro de 2014

DISCUSSÕES SOBRE O FILME ENTRE OS MUROS DA ESCOLA

Por: Ana Caroline dos Santos

O filme Entre os muros da Escola (Direção: Laurente Cantet. Produção: Caroline Benjo e Carole Scott. Paris Imovision, 2008, DVD) conta a história da rotina de uma escola na periferia de uma cidade francesa. São mostradas reuniões pedagógicas em que muitos professores apresentam opiniões diversas sobre comportamento e avaliação; alguns são mais inovadores e outros mais conservadores. É amplamente enfatizado o ritmo de sala de aula, que apresenta conflitos entre os alunos oriundos de várias etnias e do posicionamento do professor de francês François Marin.

Com relação à história desse reflexivo filme, temos uma classe bastante agitada, com rivalidades e opiniões diversas sobre os fatos. No decorrer dessa obra, há uma cena que desencadeia todo um conflito: duas representantes da turma frequentam uma reunião dos professores. Entretanto, não aproveitam essa oportunidade para defender os interesses da turma, demonstrando um comportamento totalmente inadequado: conversam entre elas, dão muitas risadas.

Em aula, posterior a essa reunião, o professor bastante irritado repreende as garotas e afirma que elas se comportaram como "vagabundas". Nesse momento, as meninas contam o que foi falado na reunião e isso desencadeia uma grande briga. Souleymane, que não traz o material e tinha conflitos com o educador e com seus colegas, briga mais uma vez e Marin o acompanha para que conversar com a pedagoga.



Em seguida, é elaborado um documento que contém o relato do episódio citado acima. Porém, o professor omite que chamou as alunas de "vagabundas" e quando é chamado pelas pedagogas, após as meninas contarem o que o docente havia dito, ele não justifica a circunstância, nem o que realmente disse e muito menos o contexto em falou essa expressão. O filme mostra, especialmente nessa cena, que na escola não existem vilões ou heróis e sempre há os dois lados: os alunos se comportam do modo como foram educados em suas casas e eles muitas vezes estão revoltados em virtude do que passam: violência, desigualdade social; o professor está estressado porque há um desinteresse total da turma. Fica evidente o alerta para que os educadores sempre analisem o que acontece em sala de aula e tenham discernimento na hora de agir, pensando sempre nas consequências.

Outro fato de bastante relevância é de uma cena em que o educador aborda as meninas, no pátio da escola, na hora do recreio, e afirma que sabe que elas contaram sobre o que foi dito por ele em sala de aula. Nesse momento os expectadores do filme são conduzidos a pertinentes reflexões acerca da relação de respeito mútuo que deve acontecer entre professor e aluno. 

O primeiro grau de respeito exige que o docente não ceda a provocações e muito menos tire satisfações com seus alunos por algum motivo, pois deve enxergar os fatos de cima, mas para isso precisa de momentos de silêncio para que meça e pense em seus atos. O segundo grau de respeito é percebido quando as aulas são preparadas com conteúdos que realmente somarão na vida dos sujeitos. No caso de professores de língua-materna, isso implica em não ensinar norma padrão fora de um contexto específico como Marin ensinava – percebemos esse método nas cenas em que ele passava as atividades no quadro. Ressaltamos também que o docente não tentava valorizar as respostas que os alunos davam; se elas não eram as esperadas, eram desconsideradas, quebrando o vínculo que poderia ser criado entre o docente e os discentes.

Posteriormente, o aluno que foi direcionado à sala da pedagoga é expulso da escola. Esse fato aponta para uma grande realidade presente em algumas escolas em que o problema é tirado de seu campo de visão, mas não é acionada a ajuda de psicólogos, família ou mesmo um encaminhamento do jovem para outra atividade, a fim de estimulá-lo e conhecê-lo. E, com isso, o sujeito permanece à mercê de seus problemas e frustrações.

Com relação aos conflitos existentes em sala de aula, podemos transpor essa realidade para o Brasil em plena era contemporânea. Vivemos em um imenso multiculturalismo, pois temos diversos imigrantes nos municípios desse país, com culturas diferentes e se analisarmos também os choques entre as classes sociais, veremos que a tolerância e o respeito à opinião do outro devem ser amplamente discutidas e praticadas.

Indicamos "Entre os muros da escola" a todos os futuros professores, aos pais de alunos e àquelas pessoas que querem refletir sobre o dia a dia de um colégio, pois entendemos que antes de criticar uma realidade é preciso conhecê-la e esse filme consegue fazer uma aproximação do que realmente acontece nas escolas.


sábado, 13 de dezembro de 2014

NOVA REFORMA ORTOGRÁFICA: ORDEM OU DESORDEM?

Por: Elizandra Feld


      Há alguns meses estamos ouvindo que alguns representantes governamentais e professores de Língua Portuguesa famosos como Pasquale Cipro Neto, por exemplo, estão promovendo uma nova reforma ortográfica. O principal motivo alegado para a tal reforma é o de que facilitaria o ensino-aprendizagem da língua e, consequentemente, teríamos menos gastos com o ensino, pois a língua seria aprendida em menos tempo. Contudo, a questão é: será que essa nova reforma traria ordem para a escrita ou uma mera desordem? 
Partamos do conceito de ortografia. A palavra vem do grego orthographia (ortho = correta, graphia = escrita, logo “escrita correta”). De acordo com Cezar e Romualdo (2010), a escrita é a representação gráfica que permite a leitura e a unidade básica é a palavra. Assim, a ortografia serve para facilitar a leitura do texto, serve também para neutralizar a variação linguística, que as línguas variam devido ao processo de transformação.
A escrita é um meio permanente de registro da fala, ou seja, embora as palavras variem na fala, na escrita não variam. Ela foi criada como forma de registro das vivências humanas, a história e, acima de tudo, como meio de comunicação entre os seres humanos. Sendo assim, entendemos a escrita como uma convenção humana. Além disso, a escrita é construída também, historicamente, pois tem mudado muito com o passar dos anos.
No ano de 2009 ocorreu o Primeiro Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. Foi um grande acontecimento para as Letras. Esse acordo foi realizado entre todos os países que possuem a Língua Portuguesa como língua oficial. A partir desse novo acordo ortográfico muitas mudanças ocorreram, por exemplo, o alfabeto ganhou mais três letras k, w e y, passando então a ser constituído por 26 letras. Outra mudança foi a queda do trema em palavras como linguiça, Linguística. Houve também o desuso do acento nos ditongos abertos éi e ói das palavras paroxítonas, por exemplo, assembleia, heroico, joia etc. para citar alguns exemplos.
Entretanto, essas novas regras ainda não foram assimiladas por todos os falantes e escreventes da Língua Portuguesa, foi exigida somente para os escritores mais renomados que publicam cotidianamente, mas para os falantes em geral, estabeleceu-se o prazo para assimilação até o ano de 2016. Sendo assim, se alguém num concurso público, eventualmente escrever “idéia”, esse candidato não será punido ou desclassificado por isso, pois ainda está no tempo permitido para o contato com a nova forma “ideia”.
Pois é, até tudo bem, falantes tendo que se acostumar ao novo acordo ortográfico, tendo um tempo até considerável para a adaptação. Mas de repente surge a ideia de uma NOVA REFORMA ORTOGRÁFICA. Como assim? De novo? A notícia tem causado desagrados aos profissionais e professores da área das Letras, que seriam os primeiros afetados com a nova “onda”. Mas, se pensarmos bem, todos seríamos afetados se essa “moda pega”.
Sem sombra de dúvidas essa nova reforma, nesse momento, virá atrapalhar o nosso sistema de escrita, suas regras e as famosas exceções, pois fomos alfabetizados até agora dessa forma, ao longo de anos e, simplesmente, inventam essa moda desconstruindo tudo o que foi escrito e assimilado até hoje.





De acordo com o professor Ernani Pimentel:
Quase ninguém sabe a ortografia em nosso País. Encontrar quem saiba usar hífen, j, g, x, ch, s, z, é algo raro. Até professores precisam recorrer a dicionários para confirmar como se escreve uma palavra ou outra, de tão complexo que é o nosso sistema.” (Ernani Pimentel)

Assim, a "solução" para o problema elencado acima estaria, de acordo com o site do Senado, na promoção de algumas  mudanças:
Reforma ortográfica: o que mudaria?
Veja abaixo uma lista de palavras que sofreriam mudanças com a nova reforma ortográfica proposta, dados retirados do site do Senado:

Homem – Omem
Hotel – Otel
Hoje – Oje
Humor – Umor
Harpia – Arpia
Harpa – Arpa
Guerra – Gerra
Guitarra – Gitarra
Chá – Xá
Flecha – Flexa
Macho – Maxo
Analisar – Analizar
Blusa – Bluza
Exemplo – Ezemplo
Exuberante – Ezuberante
Êxito – Êzito
Exigente – Ezigente
Exame – Ezame
Executar – Ezecutar
Existir – Ezistir
Amassar – Amasar
Açúcar – Asúcar
Moço – Moso
Pescoço – Pescoso
Auxílio – Ausílio
Asa – Aza
Brasília – B razília
Base – Baze
Paralisar – Paralizar
Avisar – Avizar
Música – Múzica
Meses – Mezes
Deuses – Deuzes
Pegajoso – Pegajozo
Como podemos analisar nos exemplos acima, o que está proposto é que na escrita utilizemos a letra para o seu respectivo som, ou seja, se falamos [muzika], [peskizar], por que então escrevemos "música" e "pesquisar"?. Sendo assim, a proposta que os idealizadores da nova reforma têm é de neutralizar as regras da Língua Portuguesa, não admitindo mais as exceções.
Na concepção desses líderes do novo projeto, tal reforma contribuiria para um ensino mais produtivo e sairia mais barato para o governo, pois os indivíduos seriam alfabetizados mais rapidamente, assimilando apenas as regras, esquecendo-se das exceções que deixariam de existir.
Essa discussão ainda vai longe: de um lado está o Senado, tendo como consultores os professores Ernani Pimentel e Pasquale Cipro Neto com seus argumentos e para o governo é de extremo interesse cortar gastos com a educação; de outro, por sua vez, estão os linguistas que veem mais essa mudança como inoportuna e desnecessária.
A questão que fica é: devemos nos munir de informações e de argumentos para sabermos conscientemente de que lado ficaremos. E você, já sabe de que lado vai ficar?

Referências:



CEZAR, K. P. L; ROMAULDO, E. C. Ortografia nas séries iniciais do ensino fundamental. In: SANTOS, Annie Rose dos; GRECO, Eliane Alves; GUIMARÃES, Tânia Braga (orgs.). A produção textual e o ensino. Maringá: Eduem, 2010.


sábado, 6 de dezembro de 2014

Ensino de ortografia

Por: Elizandra Feld

Base teórica principal:
ROMUALDO, E. C.; CEZAR, K. P. L. Ortografia nas séries iniciais do ensino fundamental. In: SANTOS, A. R. dos; ROMUALDO, E. C.; RITTER, L. C. B. Letramento e escrita. Maringá: Eduem, 2010.


Sem sombra de dúvidas, o textoOrtografia nas séries iniciais do ensino fundamental, de Romualdo e Cezar (2010), é de grande relevância para o professor de Língua Portuguesa em formação, visto que aborda o tema de forma ampla, exemplificando como se pode trabalhar ortografia em sala de aula.
Dentre tantas coisas importantes ressaltadas no texto, uma delas é a forma como o professor de Língua Portuguesa está dirigindo o ensino de ortografia em sala de aula, ou seja, muitas vezes o professor supervaloriza o erro ou não a devida atenção a esses erros, o que também é um problema. vem a questão: como equilibrar?
De acordo com Morais (2003), citado por Romualdo e Cezar (2010), os erros ortográficos funcionam como fonte de discriminação na sala de aula, que muitos professores confundem o desempenho textual do aluno com o seu rendimento ortográfico. Tal fato corrobora para que nasça o preconceito contra alguns usuários da Língua Portuguesa, pois os inteligentes escrevem bem.
Além disso, o conhecimento ortográfico, segundo os autores, é algo que o aluno não pode descobrir por si mesmo, sem o auxílio e a intervenção do professor de Português. Assim, cabe ao professor conduzir o aluno nessa descoberta, visto que a abordagem da ortografia não deve ser simples memorização de regras, mas sim um trabalho de reflexão que envolve professor e alunos.
Partindo do significado de ortografiaa palavra ortografia vem do grego ortographia (ortho = correta, graphia = escrita, logo escrita correta). De acordo com Cagliari (2009), apud Cezar e Romualdo (2010), uma das funções da escrita é permitir a leitura. Além disso, a escrita é a representação gráfica que define a unidade básica, a palavra.
Outra utilidade da ortografia é o de neutralizar a variação linguística. As línguas variam devido ao processo dinâmico de transformação; a escrita por outro lado, é um meio permanente de registro da fala, ou seja, embora as palavras variem na fala, na escrita são invariáveis, isto é, constituem sempre a mesma grafia. Ademais, a escrita poderia perder-se caso se adaptasse à fala de cada falante.
De acordo com os PCNs (BRASIL, 1997), a intervenção pedagógica na aprendizagem da ortografia tem muito a contribuir, pois ainda que exista um forte apelo à memorização, esse aprendizado não é um processo passivo, mas uma construção individual. Para tanto, é preciso distinguir o que é produtivo do que é reprodutivo, ou seja, no primeiro é possível identificar as regularidades do sistema ortográfico. Assim, o professor deve fazer com que os alunos explicitem suas suposições de como se escrevem as palavras, refletindo sobre possíveis alternativas de grafia.
Cabe ao professor, também, direcionar o aluno a determinar as regras da escrita das palavras, de forma a abrir espaço para que reflita acerca das suas suposições de como se escrevem as palavras. Além disso, o fato de a criança conhecer a palavra oralmente não garante que ela tenha a mesma facilidade para escrevê-la.
Outro ponto interessante a ressaltar é o fato de existirem regularidades e irregularidades na ortografia. Partindo do pressuposto de que os erros ortográficos possuem naturezas diferentes, algumas regras os alunos precisam memorizar, outras simplesmente compreender (MORAIS, 2003; ROMUALDO e CEZAR, 2010).
Dentre o quadro das regularidades, podemos considerar três grupos: as diretas, as contextuais e as morfológico-gramaticais. As regularidades diretas consistem no grupo das relações em que não existe outra letra competindo para grafar determinado som, por exemplo, /p/, /b/, /t/, /d/ etc.
Nas regularidades contextuais, a palavra é o contexto que vai determinar qual letra ou dígrafo deverá ser usado. Por exemplo, R ou RR em palavras comorato,porta,honra,prato,guerra. Ou ainda, o uso do G ou GU em palavras comogaroto,guerra.
E, por fim, as regularidades morfológico-gramaticais que são aquelas ligadas a aspectos da categoria gramatical da palavra. Nessa se adotam regras específicas para cada classe gramatical, por exemplo: por que escrevoportuguesaefrancesacom /s/ e não com /z/? Utilizamos /esa/ por se tratar de adjetivos que indicam origem ou procedência, o /eza/ indica substantivos abstratos a parir de adjetivos, por exemplo,certo” – “certeza;belo” – “belezaetc. No caso dos verbos, marca-se pelas desinências, por exemplo, brincasse/ partisse indicados pelo pretérito perfeito do modo subjuntivo.
Contudo, não se deve exigir que os alunos memorizem as nomenclaturas das classes gramaticais, mas sim o uso das regras. A nomenclatura gramatical pode ser introduzida pelo professor aos poucos, que deve, também, fazer com que o aluno reflita sobre a regularidade. Cabe ressaltar que as estratégias didático-pedagógicas variam de acordo com a turma. Assim, o que pode dar certo numa, pode não dar certo em outra.
Além disso, para as regularidades existem regras que norteiam a abordagem, quanto às irregularidades não existem regras que facilitem o trabalho para o aprendiz, que deverá consultar dicionários, gramáticas e, principalmente, fazer uso da memória.
Para Morais (2003), citado por Cezar e Romualdo (2010), existem três princípios gerais que guiam o trabalho didático com ortografia:
IA criança necessita conviver com modelos nos quais apareça a norma ortográfica; precisa ter um grande convívio com materiais impressos.
Partindo desse pressuposto, é necessário que os alunos tenham contato com modelos de textos que sejam ricos em forma de escrita, a fim de internalizar as regras. O contato com textos bem escritos é de extrema importância, contudo, a exposição ao material não garante o aprendizado da ortografia.
II – O professor precisa promover situações de ensino-aprendizagem que levem à explicitação dos conhecimentos infantis sobre a ortografia.
O professor precisa levar em consideração o conhecimento que o aluno possui. Deve, assim, propor atividades de reflexão ao invés de atividades de memorização.
III – O professor precisa definir metas ou expectativas para o rendimento ortográfico de seus alunos ao longo da escolaridade.
Morais (2003) lança três questões, que procura responder:

Quando começar a ensinar ortografia?



De acordo com o autor, deve-se ensinar ortografia a partir do momento que a criança estiver compreendendo o sistema de escrita alfabética. Para isso, o professor precisa compreender que nessa fase erros aparecerão e que devem ser tratados como algo natural. E é preciso estimular a curiosidade das crianças sobre a ortografia e discutir o tema.
Que metas estabelecer para cada turma, para cada série?
De acordo com Morais (2003), o estabelecimento das metas feitas pelo professor deve partir da formulação de sondagens, isto é, realizar um diagnóstico prévio com a turma para saber quais são as principais dificuldades dos alunos.
Como sequenciar o ensino de ortografia?
Depois do domínio da base alfabética, a tendência é a de que os alunos apresentem mais dúvidas em relação às regras do tipo contextual (R ou RR; G ou GU). Nas irregularidades, a dúvida sempre paira em qualquer fase, sendo assim, precisam ser memorizadas. Ademais, a reflexão acerca da ortografia deve estar presente em todos os momentos da escrita e, não somente, nas atividades ortográficas.
Depois de tantas contribuições para o ensino de ortografia exposto pelos autores no texto, podemos compreender a importância desta abordagem no ensino de Língua Portuguesa, bem como a postura que deve ser adotada pelo professor e o seu papel que exige muita responsabilidade, ou seja, não cabe a ele somente apontar o erro do aluno, mas também direcionar esse aluno para que reflita acerca de seus erros e possa não somente memorizar as regras, mas sim compreendê-las. É esta a postura que seguimos no PIBID-Português da UNICENTRO/Irati.