sábado, 13 de dezembro de 2014

NOVA REFORMA ORTOGRÁFICA: ORDEM OU DESORDEM?

Por: Elizandra Feld


      Há alguns meses estamos ouvindo que alguns representantes governamentais e professores de Língua Portuguesa famosos como Pasquale Cipro Neto, por exemplo, estão promovendo uma nova reforma ortográfica. O principal motivo alegado para a tal reforma é o de que facilitaria o ensino-aprendizagem da língua e, consequentemente, teríamos menos gastos com o ensino, pois a língua seria aprendida em menos tempo. Contudo, a questão é: será que essa nova reforma traria ordem para a escrita ou uma mera desordem? 
Partamos do conceito de ortografia. A palavra vem do grego orthographia (ortho = correta, graphia = escrita, logo “escrita correta”). De acordo com Cezar e Romualdo (2010), a escrita é a representação gráfica que permite a leitura e a unidade básica é a palavra. Assim, a ortografia serve para facilitar a leitura do texto, serve também para neutralizar a variação linguística, que as línguas variam devido ao processo de transformação.
A escrita é um meio permanente de registro da fala, ou seja, embora as palavras variem na fala, na escrita não variam. Ela foi criada como forma de registro das vivências humanas, a história e, acima de tudo, como meio de comunicação entre os seres humanos. Sendo assim, entendemos a escrita como uma convenção humana. Além disso, a escrita é construída também, historicamente, pois tem mudado muito com o passar dos anos.
No ano de 2009 ocorreu o Primeiro Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. Foi um grande acontecimento para as Letras. Esse acordo foi realizado entre todos os países que possuem a Língua Portuguesa como língua oficial. A partir desse novo acordo ortográfico muitas mudanças ocorreram, por exemplo, o alfabeto ganhou mais três letras k, w e y, passando então a ser constituído por 26 letras. Outra mudança foi a queda do trema em palavras como linguiça, Linguística. Houve também o desuso do acento nos ditongos abertos éi e ói das palavras paroxítonas, por exemplo, assembleia, heroico, joia etc. para citar alguns exemplos.
Entretanto, essas novas regras ainda não foram assimiladas por todos os falantes e escreventes da Língua Portuguesa, foi exigida somente para os escritores mais renomados que publicam cotidianamente, mas para os falantes em geral, estabeleceu-se o prazo para assimilação até o ano de 2016. Sendo assim, se alguém num concurso público, eventualmente escrever “idéia”, esse candidato não será punido ou desclassificado por isso, pois ainda está no tempo permitido para o contato com a nova forma “ideia”.
Pois é, até tudo bem, falantes tendo que se acostumar ao novo acordo ortográfico, tendo um tempo até considerável para a adaptação. Mas de repente surge a ideia de uma NOVA REFORMA ORTOGRÁFICA. Como assim? De novo? A notícia tem causado desagrados aos profissionais e professores da área das Letras, que seriam os primeiros afetados com a nova “onda”. Mas, se pensarmos bem, todos seríamos afetados se essa “moda pega”.
Sem sombra de dúvidas essa nova reforma, nesse momento, virá atrapalhar o nosso sistema de escrita, suas regras e as famosas exceções, pois fomos alfabetizados até agora dessa forma, ao longo de anos e, simplesmente, inventam essa moda desconstruindo tudo o que foi escrito e assimilado até hoje.





De acordo com o professor Ernani Pimentel:
Quase ninguém sabe a ortografia em nosso País. Encontrar quem saiba usar hífen, j, g, x, ch, s, z, é algo raro. Até professores precisam recorrer a dicionários para confirmar como se escreve uma palavra ou outra, de tão complexo que é o nosso sistema.” (Ernani Pimentel)

Assim, a "solução" para o problema elencado acima estaria, de acordo com o site do Senado, na promoção de algumas  mudanças:
Reforma ortográfica: o que mudaria?
Veja abaixo uma lista de palavras que sofreriam mudanças com a nova reforma ortográfica proposta, dados retirados do site do Senado:

Homem – Omem
Hotel – Otel
Hoje – Oje
Humor – Umor
Harpia – Arpia
Harpa – Arpa
Guerra – Gerra
Guitarra – Gitarra
Chá – Xá
Flecha – Flexa
Macho – Maxo
Analisar – Analizar
Blusa – Bluza
Exemplo – Ezemplo
Exuberante – Ezuberante
Êxito – Êzito
Exigente – Ezigente
Exame – Ezame
Executar – Ezecutar
Existir – Ezistir
Amassar – Amasar
Açúcar – Asúcar
Moço – Moso
Pescoço – Pescoso
Auxílio – Ausílio
Asa – Aza
Brasília – B razília
Base – Baze
Paralisar – Paralizar
Avisar – Avizar
Música – Múzica
Meses – Mezes
Deuses – Deuzes
Pegajoso – Pegajozo
Como podemos analisar nos exemplos acima, o que está proposto é que na escrita utilizemos a letra para o seu respectivo som, ou seja, se falamos [muzika], [peskizar], por que então escrevemos "música" e "pesquisar"?. Sendo assim, a proposta que os idealizadores da nova reforma têm é de neutralizar as regras da Língua Portuguesa, não admitindo mais as exceções.
Na concepção desses líderes do novo projeto, tal reforma contribuiria para um ensino mais produtivo e sairia mais barato para o governo, pois os indivíduos seriam alfabetizados mais rapidamente, assimilando apenas as regras, esquecendo-se das exceções que deixariam de existir.
Essa discussão ainda vai longe: de um lado está o Senado, tendo como consultores os professores Ernani Pimentel e Pasquale Cipro Neto com seus argumentos e para o governo é de extremo interesse cortar gastos com a educação; de outro, por sua vez, estão os linguistas que veem mais essa mudança como inoportuna e desnecessária.
A questão que fica é: devemos nos munir de informações e de argumentos para sabermos conscientemente de que lado ficaremos. E você, já sabe de que lado vai ficar?

Referências:



CEZAR, K. P. L; ROMAULDO, E. C. Ortografia nas séries iniciais do ensino fundamental. In: SANTOS, Annie Rose dos; GRECO, Eliane Alves; GUIMARÃES, Tânia Braga (orgs.). A produção textual e o ensino. Maringá: Eduem, 2010.


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