Há alguns meses estamos ouvindo que alguns representantes governamentais e professores de Língua Portuguesa famosos como Pasquale Cipro Neto, por exemplo, estão promovendo uma nova reforma ortográfica. O principal motivo alegado para a tal reforma é o de que facilitaria o ensino-aprendizagem da língua e, consequentemente, teríamos menos gastos com o ensino, pois a língua seria aprendida em menos tempo. Contudo, a questão é: será que essa nova reforma traria ordem para a escrita ou uma mera desordem?
Partamos
do
conceito
de
ortografia.
A
palavra
vem
do
grego
orthographia
(ortho
=
correta,
graphia
=
escrita,
logo
“escrita
correta”).
De
acordo
com
Cezar
e
Romualdo
(2010),
a
escrita
é
a
representação
gráfica
que
permite
a
leitura
e
a
unidade
básica
é
a
palavra.
Assim,
a
ortografia
serve
para
facilitar
a
leitura
do
texto,
serve
também
para
neutralizar
a
variação
linguística,
já
que
as
línguas
variam
devido
ao
processo
de
transformação.
A
escrita
é
um
meio
permanente
de
registro
da
fala,
ou
seja,
embora
as
palavras
variem
na
fala,
na
escrita
não
variam.
Ela
foi
criada
como
forma
de
registro
das
vivências
humanas,
a
história
e,
acima
de
tudo,
como
meio
de
comunicação
entre
os
seres
humanos.
Sendo
assim,
entendemos
a
escrita
como
uma
convenção
humana.
Além
disso,
a
escrita
é
construída
também,
historicamente,
pois
tem
mudado
muito
com
o
passar
dos
anos.
No ano de 2009 ocorreu
o
Primeiro
Acordo
Ortográfico
da
Língua
Portuguesa.
Foi
um
grande
acontecimento
para
as
Letras.
Esse
acordo
foi
realizado
entre
todos
os
países
que
possuem
a
Língua
Portuguesa
como
língua
oficial.
A
partir
desse
novo
acordo
ortográfico
muitas
mudanças
ocorreram,
por
exemplo,
o
alfabeto
ganhou mais
três
letras
k,
w
e
y,
passando
então
a
ser
constituído
por
26
letras.
Outra
mudança
foi a
queda
do
trema
em
palavras
como
linguiça,
Linguística.
Houve
também
o
desuso
do
acento
nos
ditongos
abertos
éi
e
ói
das
palavras
paroxítonas,
por
exemplo,
assembleia,
heroico,
joia
etc.
Só
para
citar
alguns
exemplos.
Entretanto,
essas
novas
regras
ainda
não
foram
assimiladas
por
todos
os
falantes
e
escreventes
da
Língua
Portuguesa,
foi
exigida
somente
para
os
escritores
mais
renomados
que
publicam
cotidianamente,
mas
para
os
falantes
em
geral,
estabeleceu-se
o
prazo
para
assimilação
até
o
ano
de
2016.
Sendo
assim,
se
alguém
num
concurso
público,
eventualmente
escrever
“idéia”,
esse
candidato
não
será
punido
ou
desclassificado
por
isso,
pois
ainda
está
no
tempo
permitido
para
o
contato
com
a
nova
forma
“ideia”.
Pois
é,
até
aí
tudo
bem,
falantes
tendo
que
se
acostumar
ao
novo
acordo
ortográfico,
tendo
um
tempo
até
considerável
para
a
adaptação.
Mas
de
repente
surge a
ideia
de
uma
NOVA
REFORMA
ORTOGRÁFICA. Como
assim?
De
novo?
A
notícia
tem
causado
desagrados
aos
profissionais
e
professores
da
área
das
Letras,
que
seriam
os
primeiros
afetados
com
a
nova
“onda”.
Mas,
se
pensarmos bem,
todos
seríamos
afetados
se
essa
“moda
pega”.
Sem
sombra
de
dúvidas
essa
nova
reforma,
nesse
momento,
só
virá
atrapalhar
o
nosso
sistema
de
escrita,
suas
regras
e as
famosas
exceções,
pois
fomos
alfabetizados
até
agora
dessa
forma,
ao
longo
de
anos
e,
simplesmente,
inventam
essa
moda
desconstruindo
tudo
o
que
foi
escrito
e
assimilado
até
hoje.
De acordo com o professor Ernani Pimentel:
“Quase
ninguém sabe a ortografia em nosso País. Encontrar quem saiba usar
hífen, j, g, x, ch, s, z, é algo raro. Até professores precisam
recorrer a dicionários para confirmar como se escreve uma palavra ou
outra, de tão complexo que é o nosso sistema.” (Ernani Pimentel)
Assim,
a "solução"
para
o
problema
elencado
acima
estaria, de
acordo
com
o
site
do
Senado, na promoção de algumas mudanças:
Reforma
ortográfica: o que mudaria?
Veja
abaixo uma lista de palavras que sofreriam mudanças com a nova
reforma ortográfica proposta, dados retirados do site do Senado:
Homem
– Omem
Hotel – Otel
Hoje – Oje
Humor – Umor
Harpia – Arpia
Harpa – Arpa
Guerra – Gerra
Guitarra – Gitarra
Chá – Xá
Flecha – Flexa
Macho – Maxo
Analisar – Analizar
Blusa – Bluza
Exemplo – Ezemplo
Exuberante – Ezuberante
Êxito – Êzito
Exigente – Ezigente
Exame – Ezame
Executar – Ezecutar
Existir – Ezistir
Amassar – Amasar
Açúcar – Asúcar
Moço – Moso
Pescoço – Pescoso
Auxílio – Ausílio
Asa – Aza
Brasília – B razília
Base – Baze
Paralisar – Paralizar
Avisar – Avizar
Música – Múzica
Meses – Mezes
Deuses – Deuzes
Pegajoso – Pegajozo
Hotel – Otel
Hoje – Oje
Humor – Umor
Harpia – Arpia
Harpa – Arpa
Guerra – Gerra
Guitarra – Gitarra
Chá – Xá
Flecha – Flexa
Macho – Maxo
Analisar – Analizar
Blusa – Bluza
Exemplo – Ezemplo
Exuberante – Ezuberante
Êxito – Êzito
Exigente – Ezigente
Exame – Ezame
Executar – Ezecutar
Existir – Ezistir
Amassar – Amasar
Açúcar – Asúcar
Moço – Moso
Pescoço – Pescoso
Auxílio – Ausílio
Asa – Aza
Brasília – B razília
Base – Baze
Paralisar – Paralizar
Avisar – Avizar
Música – Múzica
Meses – Mezes
Deuses – Deuzes
Pegajoso – Pegajozo
Como
podemos analisar nos exemplos acima, o que está proposto é que na
escrita utilizemos a letra para o seu respectivo som, ou seja, se
falamos [muzika], [peskizar], por que então escrevemos "música" e "pesquisar"?. Sendo assim, a proposta que os idealizadores da nova
reforma têm é de neutralizar as regras da Língua Portuguesa, não
admitindo mais as exceções.
Na
concepção desses líderes do novo projeto, tal reforma contribuiria
para um ensino mais produtivo e sairia mais barato para o governo,
pois os indivíduos seriam alfabetizados mais rapidamente,
assimilando apenas as regras, esquecendo-se das exceções que
deixariam de existir.
Essa
discussão ainda vai longe: de um lado está o Senado, tendo como consultores os professores Ernani Pimentel e Pasquale Cipro Neto
com seus argumentos e para o governo
é de extremo interesse cortar gastos com a educação; de outro, por
sua vez, estão os linguistas que veem mais essa mudança como inoportuna e desnecessária.
A
questão que fica é: devemos nos munir de informações e de argumentos para sabermos conscientemente de que lado ficaremos. E você, já sabe de que lado vai ficar?
Referências:
Disponível
em:
http://educacao.uol.com.br/noticias/2014/08/20/senado-discute-fim-do-c-ch-e-ss-na-lingua-portuguesa.htm.
Acesso
em:
23
nov
2014.
Disponível
em:
http://cabineliteraria.com.br/nova-reforma-ortografica-propoe-que-omens-comam-qeijos.
Acesso
em
23
nov
2014.
Disponível
em:
http://educador.brasilescola.com/trabalho-docente/principais-alteracoes-reforma-ortografica.htm.
Acesso
em
23
nov
2014.
CEZAR,
K.
P.
L;
ROMAULDO,
E.
C.
Ortografia
nas
séries
iniciais
do
ensino
fundamental.
In:
SANTOS,
Annie
Rose
dos;
GRECO,
Eliane
Alves;
GUIMARÃES,
Tânia
Braga
(orgs.). A
produção
textual
e
o
ensino.
Maringá:
Eduem,
2010.
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