sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Onde está o problema: na escrita ou na falta dela?

Por: Rosana Taís Rossa



Uma das frases mais clichê em conversas sobre educação é “os alunos não leem e não sabem escrever”. Esta afirmação nos leva a uma série de reflexões: Por que escrevemos? O que e para quem eu escrevo? O que devo ler? Qual a importância da leitura e da escrita para minha vida? 

Estas são algumas das perguntas que podem ser feitas corriqueiramente por falantes de língua materna pertencentes ao grupo que chamamos de analfabetos funcionais. O que esses analfabetos conhecem? As letras. Apenas as letras! Juntar sílabas, formar palavras e, consequentemente, orações e períodos não significa que os sujeitos estão aptos para uma prática de leitura e escrita crítica e reflexiva. É preciso muito mais. 


Todavia, a falta de compreensão na leitura de um texto, de um discurso político moralista ou preconceituoso não é considerada, por alguns, um problema. Pelo contrário, é vista como algo comum a cidadãos que não têm o hábito da leitura ou não receberam uma formação adequada, já que os professores têm adotado metodologias tradicionais. Esse é um discurso muito comum quando se questiona as deficiências percebidas nas produções e interpretações de textos feitas por alunos de ensino básico e superior. 

Quando nos vemos diante de propostas para alterações na ortografia da nossa língua, nos vemos diante do seguinte dilema: o objetivo dessa reforma é unificar a língua para facilitar relações políticas e econômicas entre países lusófonos ou apagar as origens do português brasileiro deixando de lado toda a herança cultural que a constituiu? Porque é evidente que tais propostas, tidas por Bagno (2014) como ridículas, patéticas e desprezíveis, têm qualquer objetivo que não seja contribuir para a habilidade de escrita dos sujeitos.

Partindo da principal alegação para essas mudanças, que é a possibilidade de aproximar a nossa população da escrita de sua própria língua, compreendemos que essas medidas são totalmente equivocadas, visto que alterar a escrita não contribui para essa aproximação indivíduo/leitura/escrita. 

Ao tomarmos como exemplo o aprendizado de uma segunda língua, vemos o quão absurdas são as propostas apresentadas pela Comissão de Educação do Senado. Quando um sujeito vai aprender inglês, espanhol, francês ou qualquer outra língua, ele não solicita que sua ortografia seja alterada a fim de tornar seu exercício mais fácil. Da mesma forma ocorre com o português.  

É fato que muitos elementos têm sido modificados na nossa língua. A inserção de gírias, estrangeirismos e neologismos tem se tornado comum em nossos dicionários. No entanto, vemos a olho nu que as mudanças são progressivas, ocorrem lentamente e depois de um tempo significativo elas são adotadas como parte do nosso vocabulário e da nossa gramática. Por isso, não podemos compactuar com decisões que afetarão nossa forma de escrever, pois, se elas forem aprovadas, diversas regras que internalizamos durante nossa vida serão desperdiçadas. 

É nosso dever como professores zelar pelo desenvolvimento da leitura e escrita dos alunos com o intuito de formá-los enquanto cidadãos pensantes, críticos e reflexivos, a fim de propiciar uma compreensão completa e, a partir disso, construirmos uma sociedade mais preocupada com o que realmente importa. A forma mais eficiente para se chegar ao nosso objetivo não é reduzindo ou substituindo letras das palavras do nosso dia a dia, mas sim influenciando nossos adolescentes, jovens e adultos a praticarem a leitura crítica e a escrita, independente do contexto, a fim de desenvolver suas habilidades e enriquecer seu vocabulário.

Sites consultados: 

http://cabineliteraria.com.br/nova-reforma-ortografica-propoe-que-omens-comam-qeijos. Acesso em 28 de nov. de 2014.

http://educacao.uol.com.br/noticias/2014/08/20/senado-discute-fim-do-c-ch-e-ss-na-lingua-portuguesa.htm. Acesso em 28 de nov. de 2014.

http://www.gazetadopovo.com.br/vidaecidadania/conteudo.phtml?id=1492578&tit=Senado-estuda-abolir-c-ch-e-ss. Acesso em 28 de nov. de 2014.

http://literatortura.com/2014/08/omem-qeijo-novo-acordo-ortogra fico-propoe-suprimir-letras-de-palavras/. Acesso em 28 de nov. de 2014.

http://simplificandoaortografia.com/index.php/grupo-quer-descomplicar-ortografia/. Acesso em 28 de nov. de 2014. 

http://www.ivoviuauva.com.br. Acesso em 28 de nov. de 2014.


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