Por: Flávia Vieira
De tempos em tempos surgem
discussões a respeito da ortografia. No entanto, os mais
interessados no assunto, os usuários da língua, não são
consultados a esse respeito e, a partir de certas mudanças, um caos
pode se formar.
Os problemas iniciam-se já
na infância, visto que uma criança, levando em consideração que
deve ser alfabetizada até os oito anos, já com quatro vai à escola
(algumas, até antes) e são estimuladas a aprender, desde cedo, a
ortografia e suas regrinhas... A professora ensina que microônibus
se escreve junto, que lingüiça tem trema e, lá pelas tantas tudo
muda, a professora, então, precisa dizer que aquilo não vale mais e
que agora se escreve micro-ônibus com hífen e linguiça sem o
trema, entre outras coisas. A criança até estranha, porém se a
professora disse, está dito, assim, aprende-se de uma forma e é
necessário “desaprender” para aprender outra, passam alguns anos
e novamente vem a professora e fala que houve mudanças novamente...
Como fica a cabeça das crianças que acabaram de ser alfabetizadas?
E os adultos que já nem sabem se sabem escrever? No mínimo,
confusas.
Além disso, as pessoas,
muitas vezes, ainda nem associaram as mudanças que houve
recentemente na ortografia, algumas coisas ainda causam estranheza.
Ao se falar em outra reforma ortográfica, parece que certos
estudiosos (ou não estudiosos!), para tentar simplificar, por
exemplo, ao tirar o “h” inicial (homem: omem;
hoje: oje),
vão complicar ainda mais. Eles partem do pressuposto de que quanto
mais a escrita se aproximar da fala, será mais fácil aprender a
escrever, todavia, esquecem que a leitura é uma ferramenta essencial
para formar bons escritores e que se o trabalho com ortografia for
bem realizado pelo professor, de forma contextualizada, os
alunos terão capacidade para aprender, inclusive que precisam
adequar a linguagem às situações discursivas e, por intermédio do
professor, entender as diferenças entre a oralidade e a escrita.
Se ao invés de o governo
optar por uma nova reforma e assim gastar fortunas com as trocas de
livros, além, é claro, de fazer com que nos sintamos analfabetos,
investir mais na formação dos professores, valorizar o profissional
que acredita na educação e levar em consideração que a língua
tem sua história e identidade e que a sociedade pode sim adequar-se
linguisticamente, os resultados serão mais positivos.
No entanto, enquanto alguns
puderem decidir pela maioria e meia dúzia de pessoas sentadas para
tomar um café tiverem o poder de “reformar” a ortografia
novamente, a democracia está cada vez mais longe de acontecer e o
país cada vez mais distante de tornar-se “excelência” ou, ao
menos, “competência“ em educação.
Sendo assim, uma reforma
ortográfica a essa altura não seria viável, visto que os
professores têm condições de ensinar e os alunos, de aprender.
Além disso, as diferenças entre a fala e a escrita sempre vão
acontecer, pois as variedades da nossa língua são inúmeras e não
teria como escolher uma apenas para ser utilizada como “padrão”
na escrita.
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