sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Reforma ortográfica. Mais uma?

Por: Flávia Vieira

De tempos em tempos surgem discussões a respeito da ortografia. No entanto, os mais interessados no assunto, os usuários da língua, não são consultados a esse respeito e, a partir de certas mudanças, um caos pode se formar.

Os problemas iniciam-se já na infância, visto que uma criança, levando em consideração que deve ser alfabetizada até os oito anos, já com quatro vai à escola (algumas, até antes) e são estimuladas a aprender, desde cedo, a ortografia e suas regrinhas... A professora ensina que microônibus se escreve junto, que lingüiça tem trema e, lá pelas tantas tudo muda, a professora, então, precisa dizer que aquilo não vale mais e que agora se escreve micro-ônibus com hífen e linguiça sem o trema, entre outras coisas. A criança até estranha, porém se a professora disse, está dito, assim, aprende-se de uma forma e é necessário “desaprender” para aprender outra, passam alguns anos e novamente vem a professora e fala que houve mudanças novamente... Como fica a cabeça das crianças que acabaram de ser alfabetizadas? E os adultos que já nem sabem se sabem escrever? No mínimo, confusas.

Além disso, as pessoas, muitas vezes, ainda nem associaram as mudanças que houve recentemente na ortografia, algumas coisas ainda causam estranheza. Ao se falar em outra reforma ortográfica, parece que certos estudiosos (ou não estudiosos!), para tentar simplificar, por exemplo, ao tirar o “h” inicial (homem: omem; hoje: oje), vão complicar ainda mais. Eles partem do pressuposto de que quanto mais a escrita se aproximar da fala, será mais fácil aprender a escrever, todavia, esquecem que a leitura é uma ferramenta essencial para formar bons escritores e que se o trabalho com ortografia for bem realizado pelo professor, de forma contextualizada, os alunos terão capacidade para aprender, inclusive que precisam adequar a linguagem às situações discursivas e, por intermédio do professor, entender as diferenças entre a oralidade e a escrita.

Se ao invés de o governo optar por uma nova reforma e assim gastar fortunas com as trocas de livros, além, é claro, de fazer com que nos sintamos analfabetos, investir mais na formação dos professores, valorizar o profissional que acredita na educação e levar em consideração que a língua tem sua história e identidade e que a sociedade pode sim adequar-se linguisticamente, os resultados serão mais positivos.

No entanto, enquanto alguns puderem decidir pela maioria e meia dúzia de pessoas sentadas para tomar um café tiverem o poder de “reformar” a ortografia novamente, a democracia está cada vez mais longe de acontecer e o país cada vez mais distante de tornar-se “excelência” ou, ao menos, “competência“ em educação.

Sendo assim, uma reforma ortográfica a essa altura não seria viável, visto que os professores têm condições de ensinar e os alunos, de aprender. Além disso, as diferenças entre a fala e a escrita sempre vão acontecer, pois as variedades da nossa língua são inúmeras e não teria como escolher uma apenas para ser utilizada como “padrão” na escrita.



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