sexta-feira, 27 de março de 2015

A experiência com o Pibid: contribuições essenciais para o docente em formação

Por: Flávia Vieira (ex-pibidiana. Atualmente é professora de Língua Portuguesa)

Ao ingressar no curso superior de Licenciatura em Letras Português, as expectativas eram muitas, desde a curiosidade de como seria o mundo acadêmico, “se” e “como” iríamos “aprender” a dar aula, se o curso baseava-se no ensino de gramática, etc. até os medos das falhas, os receios dos erros, as dúvidas em relação à forma correta de fazer as coisas, enfim, coisas novas, pessoas novas, ambiente novo... . Tudo isso para ser desvendado a cada aula, a cada dia, a cada semestre, a cada ano... .
Depois, já familiarizados com o universo acadêmico, a grande questão que veio à tona foi “e quando eu for para sala de aula?” Novamente surgiu "um mix" de sentimentos: medo, ansiedade, curiosidade. No entanto, esse contato com a escola demora um pouco a acontecer, além disso, o tempo de atuação não é muito longo, o que não nos permite entender, de fato, o funcionamento da escola, das aulas, e, principalmente, não proporciona muito contato com os alunos. É aí que o Pibid faz a diferença!
Minha experiência com o Pibid:
No segundo ano da faculdade ingressei no Pibid, logo que soube acerca do funcionamento (objetivos, modo de trabalho) fiquei interessada, pois sabia que seria importante para minha formação.
Já no início, me surpreendi com os relatos das pibidianas veteranas sobre como procediam em sala de aula, fiquei cada vez mais entusiasmada para chegar logo o dia de eu “debutar” na escola, não como aluna, mas como professora em formação.
Depois de um trabalho muito bem orientado, elaboração de planos de aula e observações realizadas na escola parceira, chegou o grande dia, a primeira aula ministrada por minha colega e eu (atuamos em dupla), e, ao final dessa aula, tive certeza de que era isso mesmo que eu queria, que ser professora era minha vocação e, certamente, eu ia amar tudo aquilo.
Os anos passaram, e eu continuei no projeto. Houve troca de coordenadora, de supervisora, de colegas, de duplas, porém, todos com suas competências. Durante esse período, fui acompanhada por planos de aula, os quais eram refeitos quantas vezes fossem necessárias até ficarem bons; participações em eventos, essenciais para “engordar” o lattes e nos ensinar sempre algo a mais; discussões acerca de temas importantes para nossa formação e que a grade do curso não dava conta, MUITO conhecimento adquirido, experiências que serão levadas para o resto da vida.
Outra contribuição importante do PIBID é que ele oportuniza aos bolsistas maior contato com os alunos, visto que, em nosso projeto, trabalhamos com uma turma o ano todo, preparamos, juntamente com a coordenadora e a supervisora e atendendo as necessidades da turma, os projetos temáticos e os aplicamos em um determinado tempo. Dessa forma, ampliamos nosso contato com a turma, participamos de todo o processo, desde a apresentação da temática até a reescrita, entendemos melhor o funcionamento da escola e não aprendemos somente a “dar aula”, mas adquirimos conhecimentos que nos permitem orientar nossa prática e fazer-nos sentir que é possível sim fazer um bom trabalho, ser uma boa professora e, sobretudo, acreditar na educação!
Durante os três anos que participei do projeto, aprendi muito, me decepcionei quando as coisas não deram certo, chorei, sorri, fiz laços de amizade, aprendi a valorizar o outro, especialmente os alunos, e quando digo que aprendi, não são apenas as teorias, as quais, aliás, foram essenciais, me refiro também a saber me posicionar diante das circunstâncias, a ser mais crítica, mais responsável, a procurar sempre melhorar e, especialmente, a amar e me dedicar cada dia mais à docência!
Por fim, posso dizer àqueles que tiverem a oportunidade de participar do Pibid “aproveitem cada momento, cada ensinamento, cada detalhe, pois, o projeto faz diferença em nossa formação, nos dá a sensação de que somos capazes de fazer um bom trabalho e de crescer cada dia um pouco mais”. E aproveitem também porque depois que acaba dá uma saudade que vocês nem imaginam!!!


sexta-feira, 20 de março de 2015

Ensino da ortografia

Por: Reguina K. Drewnowski

O texto “Ortografia nas séries inicias do ensino fundamental” de Romualdo e Cezar (2010) aponta que é preciso mudar a forma como se enxerga o ensino da ortografia. Uma das preocupações é com a didática.





 

Segundo o autor do texto, os professores devem fornecer e contribuir para o ensino e aprendizado da norma ortográfica. O ensino não pode ser visto unicamente como um conjunto de regras a serem seguidas; sem uma compreensão adequada das funções e relações existentes entre os conceitos, mas deve proporcionar reflexões de modo que as crianças desenvolvam habilidades por meio das situações lúdicas, no seu cotidiano. Também deve sistematizar os aspectos internos da linguagem escrita e de sua assimilação funcional, levando a criança a compreender como o mecanismo da escrita funciona.

O ensino da ortografia deve ser construtivo e o professor não pode descaracterizar as produções dos alunos, mas trabalhar os erros ortográficos dos alunos por meio dos textos produzidos por eles próprios, sugerindo encaminhamentos didáticos, memorização contextualizada para que o aluno tenha mais saberes e metodologias para corrigir e aprender com os desvios ortográficos cometidos.

Quanto à correção dos erros ortográficos de palavras regulares, o professor pode construir um mapa dos possíveis erros, antes de planejar o ensino da grafia correta, para que a ação pedagógica alcance os objetivos nos planejamentos, e para esse mapa é importante assinalar como são discriminados os erros, e acompanhar a necessidade e o desenvolvimento de cada aluno e de toda a turma.

Os quadros de regras podem ser grandes aliados no ensino da ortografia. Podemos chamar de “ladainhas prontas” de como algumas regras funcionam, como por exemplo: a regra funcionamento do uso do “i” e do “e” no final de sílabas. Poderá ser feito um quadro de palavras para que os alunos tenham uma ideia geral do funcionamento da regra.

Outra alternativa para o ensino da ortografia é tornar o dicionário um companheiro constante dos alunos, as dúvidas poderão ser sanadas e os alunos terão mais um apoio seguro de consulta.

Diante desta reflexão, podemos mudar as atitudes perante o ensino da ortografia. Aproveitando os erros dos alunos, não os vendo como ausência de raciocínio, fracasso e falta de atenção, mas sabendo aproveitar e propor atividades para que os alunos reconsiderem e compreendam as regras que estão em jogo em uma ou outra grafia irá garantir o entendimento das formas em seu uso. Por outro lado, o aluno poderá tornar-se mais autônomo, confiante, apto a buscar ajuda e a pesquisar, sempre, seja em dicionário, seja em quadros de regras, ou em outros recursos. Com isso, o ensino e a aprendizagem da ortografia será cada vez mais produtivo, postura que o projeto PIBID-Português da UNICENTRO/Irati defende e segue.

Referências
ROMUALDO, E. C.; CEZAR, K. P. L. Ortografia nas séries iniciais do ensino fundamental. In: SANTOS, A. R. dos; ROMUALDO, E. C.; RITTER, L. C. B. Letramento e escrita. Maringá: Eduem, 2010.

sexta-feira, 13 de março de 2015

Zeros do ENEM: parâmetros dos avaliadores e comentários acerca da tríade que deve existir entre pais, professores e estudantes

Por: Ana Caroline dos Santos





Há diversas especulações sobre os 529 mil zeros nas redações do ENEM, várias pessoas têm a deturpada visão de que isso se deve ao fato de o brasileiro não saber falar e muito menos escrever o português. Esse conceito ainda está muito arraigado na sociedade e muitos mitos a respeito de saber escrever e falar precisam ser derrubados, a maioria da população acredita que saber escrever está associado a usar a gramática que, por sua vez, é ensinada nas apostilas e livros didáticos como uma doutrina sagrada e aquele que se desvia dela merece o título de inculto.
Entretanto, os zeros do ENEM não advêm dos desvios gramaticais, o problema vai muito além disso. Existem alguns critérios de avaliação que se não forem seguidos pelo candidato o texto é anulado.
O primeiro parâmetro avaliado no ENEM é a fuga do assunto proposto na redação, o candidato terá nota zero se não tecer argumentos, no caso da dissertação-argumentativa, acerca do tópico textual pedido. O tema do ENEM de 2014 era “PUBLICIDADE INFANTIL EM QUESTÃO NO BRASIL”, ou seja, partindo desse dado não adiantaria escrever uma redação sobre a importância da contação de histórias para as crianças, por exemplo porque ela seria desconsiderada . Infelizmente a falta de criticidade faz com que muitos não tenham o que colocar no papel. Logo, precisa haver um trabalho da escola e também dos pais para que essas discussões sejam colocadas em voga e que façam parte do cotidiano dos indivíduos, a publicidade e seus artifícios para atrair consumidores é algo que envolve todas as pessoas.
        O segundo critério julgado para atribuir nota zero é se o candidato escrever em gênero discursivo que não é solicitado, no caso do ENEM o gênero pedido foi uma redação dissertativa-argumentativa isto significa que o candidato não pode fazer um desenho ou escrever uma notícia sobre o tema, por mais bem escrita que seja esta será desqualificada. Assim, cabe ao professor promover um trabalho sistematizado acerca dos diversos gêneros discursivos para que o estudante consiga perceber que todo texto tem uma finalidade, uma estrutura e um público-alvo.
Outro parâmetro que anula a redação é o fato dela ter menos de 8 linhas, se isso acontecer o texto é desconsiderado. Copiar do texto motivador também leva o sujeito a obter um zero na redação, porque se houve reprodução do texto disponibilizado na prova, a banca avaliadora não tem como avaliar a escrita do candidato.
O texto do aspirante a uma vaga no Ensino Superior não pode ferir os direitos humanos, isto é, não é aceito que aja discriminação racial e apologia à violência, por exemplo. Se for constatado que houve este tipo de "desvio" o candidato é penalizado com a anulação da redação.
Por fim, devido ao episódio da redação que continha a receita do miojo, o ENEM anula qualquer texto que apresente parte desconectada, ou seja, se ao longo da escrita o tema for modificado essa parte da prova será zerada.
Outro dado levado em consideração no momento da correção é que na redação precisa haver uma proposta de intervenção para o problema levantado. Se o candidato não souber desse fato sua redação terá 200 pontos a menos.
Muitos são os falsos especialistas em redações do ENEM que afirmam que a responsabilidade desses 529 mil zeros é apenas do professor ou do aluno ou mesmo dos pais. Mas e aí, de quem é a culpa?
Não temos como rastrear os "culpados" porque não conhecemos a realidade que circunda todos os sujeitos que fizeram a prova do ENEM. Não sabemos, por exemplo, se os candidatos levaram a sério esse exame e dedicaram seu tempo para o estudo, ou se não tiveram professores comprometidos com seu conhecimento.
Em virtude disso, afirmo que para mudar esses resultados encontrados não somente em redações do ENEM precisa haver uma tríade entre pais, professores e alunos. O pais precisam incentivar os indivíduos, desde a mais tenra idade, a questionar o mundo que os rodeia e estimular a leitura para que quando esses sujeitos cheguem à escola valorizem o conhecimento. Os professores (conforme é prática constante no PIBID português) têm a obrigação de mostrar caminhos para que o sujeito tenha autonomia para buscar aquilo que não aprendeu, para que o estudante leia, tire conceitos, perceba as intenções e o que está nas entrelinhas de textos informativos, explicativos e literários, por exemplo, que tenha alicerces para se comunicar em diferentes gêneros e para que saiba a influência que a linguagem exerce sobre as pessoas. E os discentes precisam estudar e levar a sério o que querem, assumindo as responsabilidades e dificuldades impostas e, acima de tudo, saber que o sujeito deve estudar ao longo da vida e não apenas para um vestibular.



sexta-feira, 6 de março de 2015

O pior analfabeto é o analfabeto midiático

“Ele imagina que tudo pode ser compreendido sem o mínimo esforço intelectual”. Reflexões do jornalista Celso Vicenzi em torno de poema de Brecht, no século 21

Celso Vicenzi, no Outras Palavras
Ele ouve e assimila sem questionar, fala e repete o que ouviu, não participa dos acontecimentos políticos, aliás, abomina a política, mas usa as redes sociais com ganas e ânsias de quem veio para justiçar o mundo. Prega ideias preconceituosas e discriminatórias, e interpreta os fatos com a ingenuidade de quem não sabe quem o manipula. Nas passeatas e na internet, pede liberdade de expressão, mas censura e ataca quem defende bandeiras políticas. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas. E que elas – na era da informação instantânea de massa – são muito influenciadas pela manipulação midiática dos fatos.
Não vê a pressão de jornalistas e colunistas na mídia impressa, em emissoras de rádio e tevê – que também estão presentes na internet – a anunciar catástrofes diárias na contramão do que apontam as estatísticas mais confiáveis. Avanços significativos são desprezados e pequenos deslizes são tratados como se fossem enormes escândalos. O objetivo é desestabilizar e impedir que políticas públicas de sucesso possam ameaçar os lucros da iniciativa privada. O mesmo tratamento não se aplica a determinados partidos políticos e a corruptos que ajudam a manter a enorme desigualdade social no país.
Questões iguais ou semelhantes são tratadas de forma distinta pela mídia. Aula prática: prestar atenção como a mídia conduz o noticiário sobre o escabroso caso que veio à tona com as informações da alemã Siemens. Não houve nenhuma indignação dos principais colunistas, nenhum editorial contundente. A principal emissora de TV do país calou-se por duas semanas após matéria de capa da revista IstoÉ denunciando o esquema de superfaturar trens e metrôs em 30%.
jornal nacional analfabeto midiático
Bancada do Jornal Nacional (Divulgação)
O analfabeto midiático é tão burro que se orgulha e estufa o peito para dizer que viu/ouviu a informação no Jornal Nacional e leu na Veja, por exemplo. Ele não entende como é produzida cada notícia: como se escolhem as pautas e as fontes, sabendo antecipadamente como cada uma delas vai se pronunciar. Não desconfia que, em muitas tevês, revistas e jornais, a notícia já sai quase pronta da redação, bastando ouvir as pessoas que vão confirmar o que o jornalista, o editor e, principalmente, o “dono da voz” (obrigado, Chico Buarque!) quer como a verdade dos fatos. Para isso as notícias se apoiam, às vezes, em fotos e imagens. Dizem que “uma foto vale mais que mil palavras”. Não é tão simples (Millôr, ironicamente, contra-argumentou: “então diga isto com uma imagem”). Fotos e imagens também são construções, a partir de um determinado olhar. Também as imagens podem ser manipuladas e editadas “ao gosto do freguês”. Há uma infinidade de exemplos. Usaram-se imagens para provar que o Iraque possuía depósitos de armas químicas que nunca foram encontrados. A irresponsabilidade e a falta de independência da mídia norte-americana ajudaram a convencer a opinião pública, e mais uma guerra com milhares de inocentes mortos foi deflagrada.
Disponível em: http://www.pragmatismopolitico.com.br/2013/08/o-pior-analfabeto-e-o-analfabeto-midiatico.html. Acesso em 06 de março de 2015.