Por: Rosana Taís Rossa
Os
tempos
mudaram
e,
consequentemente,
nossa
linguagem
também.
Quando
paramos
para
observar
a
correria
que
circunda
nosso
cotidiano,
vemos
que
a
rapidez
com
que
as
coisas
acontecem
se
estende
para
todas
as
instâncias.
Os
tentáculos
da
pressa
abraçam
tudo,
inclusive
nossos
atos
de
fala.
A
necessidade
de
comunicar,
convencer,
explicar,
questionar
e
criticar
exige
esperteza
e
rapidez.
Se
sabemos
que
a
linguagem
é
a
forma
que
o
ser
humano
tem
para
existir
no
mundo,
fica
claro
o
quão
importante
é
que
ele
se
comunique. Esse
falar sofre grande variação linguística, como ocorre com o apagamento do
“r”
final
dos
verbos
no
infinitivo.
Mas
como
trabalhar
esse
fenômeno
na
sala
de
aula?
Talvez
essa
seja
a
pergunta
de
muitos
professores
de
língua
materna.
Como
trabalhar
a
dicotomia
fala
e
escrita
valorizando
cada
modalidade
e
explorando
seus
recursos?
Acerca
desse
ponto,
Bortoni-Ricardo
esclarece
que
Língua
escrita
é
uma
coisa,
língua
falada
é
outra.
Ninguém
fala
como
escreve,
exceto
em
algumas
situações
em
que
a
formalidade
exija
um
alto
grau
de
monitoramento
ou
cuidado,
e
vice-versa,
ou
seja,
ninguém
escreve
como
fala,
a
não
ser
em
situações
de
muita
informalidade.
Fala
e
escrita
têm
funções
e
usos
diferentes
na
sociedade.
(BORTONI-RICARDO,
2015,
p.
163)
A
letra
de
música
sempre
foi
um
recurso
interessante
para
explorar
os
recursos
linguísticos.
Podem-se
desenvolver
práticas
muito
produtivas
a
partir
desse
gênero
discursivo,
desde
que
selecionemos
os
materiais adequados.
Um
dos
maiores
sucessos
do
cantor
Gilberto
Gil,
“Andar
com
fé”,
traz
dois
exemplos
que
podem
ser
estudados
como
variação
linguística.
A
música
começa
com
“Andar
com
fé
eu
vou
/
Que
a
fé
não
costuma
faiá”.
Essa
construção
retrata
o
linguajar
interiorano,
falado
em
vários
lugares
do
país.
É
interessante
levar
aos
alunos
a
música
para
que
eles
ouçam
e
observem
se
há
alguma
coisa
estranha.
Quando
eles
identificarem
a
palavra
e
a
classificarem
como
“errada”,
o
professor
pode
interferir
e
fazer
considerações
sobre
o
preconceito
linguístico
e
as
variantes
regionais.
Em
outros
momentos
da
música,
o
cantor
repete
a
construção
tá,
uma
simplificação
fonética
de
está
“Que
a
fé
tá
na
mulher
/
A
fé
tá
na
cobra
coral”.
A
partir
desse
exemplo,
podem-se
abordar
outras
ocorrências
desse
fenômeno,
como
o
caso
do
vossa
mercê.
Pensando
no
Ensino
Fundamental,
é
possível
trabalhar
com
gêneros
discursivos
muito
interessantes,
como
a
tirinha
e
a
charge.
Nesses
textos
podemos
explorar
diversos
aspectos
linguísticos,
principalmente
de
variação.
Na
tira
do
Chico
Bento,
por
exemplo,
podem-se
promover
reflexões
com
os
alunos
através
de
perguntas
de
leitura.
Entre
estas, podemos citar:
1.
Você percebeu alguma coisa diferente na tirinha do Chico Bento? O
quê?
2.
O que você achou da linguagem empregada pelo personagem Zé Lelé no
primeiro quadro da tira?
3.
Você já ouviu alguém utilizar os termos “vo” e “tirá”
durante uma conversa? E na escrita, você já viu?
4.
O que provoca o efeito de riso na tirinha?
5.
Você acha certo falar e escrever como o personagem do texto? Se não,
onde está o equívoco na fala do personagem?
Acerca
da
linguagem
formal
e
informal,
uma
proposta
bacana
é
escrever
no
quadro
uma
sentença
quase
incompreensível,
como
“Excelentíssima
senhora
minha
mãe,
vossa
excelência
me
concederia
a
graça
de
realizar
o
magnífico
favor
de
passar
a
ferro
meu
traje
apropriado
para
me
dirigir
à
instituição
de
ensino
que
frequento”?
e
a
partir
dela
fazer
as
seguintes
perguntas
de
leitura:
1.
O que significa essa frase? Você teve facilidade para interpretar a
mensagem?
2.
Quem é o interlocutor desse texto?
3.
Você usaria uma frase como essa em casa? Como você falaria?
4.
Qual é o favor que o filho está pedindo pra mãe?
5.
Com quem você utilizaria esses termos?
6.
Você já conversou com alguma pessoa e usou essa linguagem?
7.
Essa é uma linguagem formal ou informal?
8.
Ela é certa ou errada?
Por
fim,
como
mais
uma
proposta
de
trabalho
com
a
adequação
linguística
o
professor
pode
valer-se
do texto a seguir e
explorar
as
mesmas
perguntas
de
leitura
feitas
anteriormente.
São
perfeitamente
praticáveis
essas
atividades
com
gêneros
variados
para
o
trabalho
com
variação
linguística.
Se
o
professor
tiver
disposição
e
interesse
é
possível
que
ele
desenvolva
práticas
muito
positivas
na
abordagem
das
variações
linguísticas.
Referências
BORTONI-RICARDO,
Stella
Maris.
Por
que
a
escola
não
ensina
gramática
assim?
1
ed.
São
Paulo:
Parábola
Editorial,
2014.
Música
Andar
com
fé,
de
Gilberto
Gil,
disponível
em:
http://www.vagalume.com.br/gilberto-gil/andar-com-fe.html
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