sábado, 10 de outubro de 2015

O TRABALHO COM A VARIAÇÃO LINGUÍSTICA NO CONTEXTO ESCOLAR

Por: Jociane de Paula

Por meio da língua, as pessoas podem expressar sentimentos, expor opiniões, interagir com o meio social e com o mundo. Entretanto, essa língua não é única, não é homogênea, mas caracterizada como um conjunto de variedades, as quais são decorrentes de vários fatores, como o tempo, o espaço, o nível cultural e o contexto em que o indivíduo se encontra inserido.

Sabemos que nossos alunos desde sempre, quando vêm para a sala de aula, têm a convivência e experiência de um contexto social: a família. É por intermédio dela que a criança passa a ter contato com outras pessoas, com outros meios sociais (igreja, cinema, banco, etc.) que possibilitam a interação dela com o mundo. A partir desses diversos meios que a socializam, a criança passa a criar a sua própria identidade, podendo ser identificada através da variedade linguística utilizada .

Assim, quando a criança chega à escola, possui bagagens e conhecimentos de mundo que foram adquiridos ao longo dos anos. Logo, o contato com a escola passa a ser uma nova oportunidade de conhecimentos, ideias e condutas que serão apresentadas aos alunos e que deverão ser adquiridas para sua melhor inserção social.

É na escola, também, que a criança passa a ter maiores conhecimentos da língua portuguesa, amplia a competência comunicativa, adquire uma nova variedade linguística: a norma culta, tanto na modalidade oral, como na modalidade escrita.

Por muito tempo, foi trabalhada no contexto escolar uma fala idealizada, como se a língua fosse uma só, homogênea, mostrando-se para o aluno  “o certo X o errado, não sendo valorizado, assim, o que o aluno sabia e a variedade linguística que ele trazia da sua convivência não escolar. Com o surgimento da sociolinguística, que visa a analisar e descrever os fenômenos de variação e mudança da linguagem humana, os documentos oficias de ensino passam a defender um trabalho com a língua mais democrático, partindo do pressuposto de que:

A variação é constitutiva das línguas humanas, ocorrendo em todos os níveis. Ela sempre existiu e sempre existirá, independentemente de qualquer ação normativa. Assim, quando se fala emLíngua Portuguesaestá se falando de uma unidade que se constitui de muitas variedades. Embora no Brasil haja relativa unidade linguística e apenas uma língua nacional, notam-se diferenças de pronúncia, de emprego de palavras, de morfologia e de construções sintáticas, as quais não somente identificam os falantes de comunidades linguísticas em diferentes regiões, como ainda se multiplicam em uma mesma comunidade de fala. Não existem, portanto, variedades fixas: em um mesmo espaço social convivem mescla das diferentes variedades linguísticas, geralmente associadas a diferentes valores sociais. Mais ainda, em uma sociedade como a brasileira, marcada por intensa movimentação de pessoas e intercâmbio cultural constante, o que se identifica é um intenso fenômeno de mescla lingüística (PCNs, 2008).

Assim, a sala de aula é identificada como uma pluralidade de falas, oriundas de contextos diferenciados. Cabe ao professor de língua portuguesa mostrar aos alunos essas diferenças existentes em cada contexto, não desvalorizando as variedades de fala, mas trazendo para o discente as mudanças que ocorrem na língua, conforme o tempo, o espaço, os níveis sociais, entre outras situações que ocasionam esse fenômeno heterogêneo da língua, e oferecendo para os alunos a oportunidade de aprendizado da variedade culta, requisitada em situações mais formais:

(...) não se trata, portanto, de substituir uma variedade por outra, mas reconhecer as outras modalidades expressivas e, assim, conseguir diminuir as atitudes discriminatórias resultantes de se considerar a variedade culta como única, correta. (CUNHA, 2012).

Mas, para que haja essa valorização e reconhecimento da variação da língua, é necessário que esse trabalho seja realizado nos primeiros contatos do indivíduo com a escola e que se prolongue ao longo de sua vida escolar, mostrando as variações culturais e sociais presentes em cada contexto, discutindo a necessidade de respeito pelo próximo, debatendo que cada um traz consigo a experiência do contexto em que vive e que essa experiência deve ser preservada e, principalmente, respeitada por todos.

Referências:
CUNHA, Lucia Aparecida Albuquerque. O trabalho com a variação linguística: uma proposta de sequência didática para o ensino médio. Olivedos/pb, 2012.
PARANÁ, SEED. Diretrizes Curriculares da Educação Básica- Língua Portuguesa. Paraná, 2008.
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: língua portuguesa. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília, 1998.

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