sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Variação linguística em sala de aula

Por: Franciane Lava






Aquele estudo regrado, pautado apenas em apostilas e manuais gramaticais e que preconiza a ideia de que a língua é um fato homogêneo, vem sendo questionado há vários anos em virtude das pesquisas sociolinguísticas que apontam para a constatação de que qualquer língua é um conjunto de variedades. Assim, os professores, ao conhecerem essas pesquisas, têm condições de trabalhar a língua portuguesa, cientes de que precisam aceitar e ensinar o fenômeno da variação linguística, a fim de diminuir as atitudes preconceituosas que os alunos têm diante dos falares não-cultos.

Segundo Bagno (2007, p. 70),

[...] os preconceitos, como bem sabemos, impregnam-se de tal maneira na mentalidade das pessoas que as atitudes preconceituosas se tornaram parte integrante do nosso próprio modo de ser e de estar no mundo. É necessário um trabalho lento, contínuo e profundo de conscientização para que se comece a desmascarar os mecanismos perversos que compõe a mitologia do preconceito.

Atualmente, há diversas publicações que trazem novas metodologias para o trabalho com a língua, em conformidade com as pesquisas linguísticas, como o livro de Bortoni-Ricardo et al ‘Por que a escola não ensina gramática assim?’ (2014). Elencamos algumas atividades citadas pelas autoras:

  • “Um exercício interessante é o professor mostrar aos alunos as variantes de um fenômeno lingüístico, analisando-o em seu contexto e nas suas possibilidades de uso: em qual circunstância é utilizado, demonstrando a realidade da variação lingüística do português brasileiro. Sugerimos também trabalhar textos transcritos de falas reais, coletadas no cotidiano dos alunos. Desse modo, os alunos poderão verificar por meio de análises como a língua varia, principalmente no que se refere à coesão referencial. Além da análise de textos da fala, é aconselhável pesquisar na gramática normativa, em livros didáticos e também em outros livros como os autores tratam o fenômeno investigado. Dessa forma, os alunos não ficarão engessados em uma única perspectiva de conhecimento sobre a língua, mas terão visões diferentes do que seja o estudo lingüístico. Esse trabalho de investigação pode ser apresentado em sala de aula em forma de seminário, artigo coletivo ou até mesmo por encenação teatral.” (BORTONI-RICARDO et al, p. 41-42).

  • "Trabalhar os dialetos que possuímos nos estados brasileiros: os alunos terão que pesquisar um número de dialetos e fazer uma análise dessa fala, juntamente com o professor em sala de aula. Posteriormente, teriam que montar um vídeo que represente as características de cada estado; depois de o professor analisar o conteúdo os vídeos seriam passados para o restante da sala assistir. Ao final da aula, o professor comenta dessa diversidade linguística existente em cada região brasileira. Uma terceira opção, “peça a um aluno para contar uma história oralmente. Em seguida solicite à turma que a reconte por escrito. Recolha o material e verifique se há registros de estruturas marcadas e desprestigiadas na produção escrita da turma.” (BORTONI-RICARDO et al, p. 248).
Essas atividades fazem os alunos refletirem sobre os falares regionais e os falares populares, diminuindo o preconceito e deixando os alunos aptos a lidar com diversas situações de fala.

Também os documentos oficiais citam a importância de se trabalhar com a diversidade linguística. De acordo com as Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa do Estado do Paraná (2008), o processo de ensino-aprendizagem de Língua Portuguesa visa ampliar os conhecimentos linguísticos e os discursos dos alunos, para que eles possam entender os discursos que os cercam e terem condições de interagir com esses discursos.

Os professores precisam estar atentos a novos estudos e materiais para que o ensino de língua portuguesa seja condizente com o ambiente social em que os alunos estão inserido.

Referências
BAGNO, M. Preconceito lingüístico: como é, como se faz. São Paulo: Editora Loyola, 2007.

BORTONI-RICARDO, S. M. et al. (Orgs.).  Por que a escola não ensina gramática assim? São Paulo: Parábola, 2014.

PARANÁ. Diretrizes Curriculares da Educação Básica. Língua Portuguesa. Curitiba: SEED, 2008.




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