sexta-feira, 31 de maio de 2013

Ao ensinar também aprendemos

Por Elizandra Feld


Após trabalharmos durante algumas aulas com o projeto temático consumismo com o 2º ano do Ensino Médio, foi possível aprendermos juntamente com os alunos um pouco mais sobre o tema, bem como fazer uma reflexão quanto à nossa própria vida, percebendo o quanto somos consumistas. Ao conversar com os estudantes acerca da temática proposta, nós professores também aprendemos, pois as aulas permitiram que enxergássemos que não necessitamos de tanto para sobreviver e que muitas coisas consumidas são supérfluas.
Estamos vivendo em uma sociedade altamente consumista, muitas pessoas tornam-se escravas desse consumismo exacerbado. Na verdade, as necessidades são criadas pelos meios de comunicação que, por sua vez, introduzem na cabeça das pessoas o pensamento de que elas necessitam de algo que antes talvez nem conheciam. Assim, a par dessa sociedade consumista está a mídia que, através de seus recursos bem utilizados, induz as pessoas a comprarem determinado produto, utilizando-se de recursos como a propaganda que, através de imagens e slogans muito bem elaborados, consegue convencer as pessoas a consumirem. Ou seja, os meios de comunicação têm a capacidade de criar a necessidade nas pessoas de comprarem os produtos por eles oferecidos.
Em uma das últimas aulas do PIBID-Português, em que trabalhamos com a temática consumismo, foi proposto aos alunos que  desconstruíssem uma propaganda, utilizando a mesma para produzir uma ideia contrária à propaganda anterior, alterando seu conteúdo e o foco de atingir determinado público. A proposta era para que os alunos apontassem com um olhar mais crítico o que estava por trás da ideologia que determinada propaganda transmitia. Após realizarem a produção, os alunos apresentaram as novas propagandas, pois agora eram eles quem deveriam 'vender seu peixe'. Os trabalhos ficaram ótimos! Acredito que os alunos alcançaram o objetivo proposto.
Assim, por meio de 'projetos temáticos' trabalhamos os vários gêneros discursivos e também as modalidades de oralidade, leitura, escrita e reescrita. Na última atividade que realizamos em sala, por exemplo, trabalhamos com a modalidade oral, na qual os alunos apresentaram as novas propagandas que foram por eles produzidas. Nós, professoras, discutimos e explicamos a importância da oralidade e também a necessidade de adequar nossa fala aos diferentes momentos vivenciados, ou seja, o discurso deve ser adequado às circunstâncias.
Com o projeto já concluído, resta a sensação de dever cumprido e o ânimo para que novos projetos sejam elaborados e aplicados com êxito.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Alunos: personagens principais do espaço escolar

Por Carla Micheli Carraro

Os alunos são um dos principais motivos pelos quais a escola existe. E é de fundamental relevância que pensemos em nossos alunos, afinal, quem são eles?
Pensar em nossos alunos é levar em conta a heterogeneidade desses sujeitos que frequentam a escola, cada um com seu modo de pensar, de agir, com sua bagagem cultural, com sua maneira particular de lidar com o conhecimento, ajudando também na construção do espaço escolar.
Para nós, professores em formação pelo PIBID, é importantíssimo esse contato com os alunos, visto que é para eles que levamos o conhecimento, por meio do diálogo, da interação, conhecimento este que vai sendo construído gradativamente entre aquele que ensina e aquele que aprende.
Refletir a respeito de nossos alunos implica também refletir acerca de nosso perfil de profissional da educação: Que modelo de profissional estamos nos tornando? Que alunos estamos formando?
Neste sentido, observar a maneira com que os estudantes nos veem é bastante interessante. Foi pensando nisso que, em uma das salas em que ministramos aulas pelo PIBID, no Colégio Estadual João XXIII, solicitamos que os alunos fizessem um comentário dizendo o que estavam achando das aulas.
Expomos abaixo alguns dos comentários de alunos do 2° ano B do Ensino Médio. (Cabe lembrar que os comentários foram digitalizados da maneira que os alunos escreveram, sendo arrumados apenas alguns aspectos ortográficos):

Aluno 1: “É uma aula mais descontraída em relação às outras aulas de Português, o jeito de ensinar, pois interagem mais com os alunos, há mais diálogo, é mais fácil de expressar nossa opinião, nós estamos aprendendo o que está a nossa volta e a gente não percebe, algo que dá para levar para a vida lá fora, com um ar mais crítico para as coisas.”

Aluno 2: “Eu acho que as aulas do PIBID são boas, por causa das dinâmicas apresentadas nelas e é uma oportunidade tanto dos alunos quanto dos estudantes do programa terem conhecimentos diferentes sobre os assuntos trabalhados na sala de aula.”

Aluno 3: “O PIBID está sendo muito bom, pois é uma das formas que nós paramos e refletimos em conjunto, para rever atos da nossa sociedade, tanto coisas boas, quanto ruins.”

Aluno 4: “Nós achamos as aulas do PIBID muito legais, conseguimos aprender várias coisas que nós não conhecíamos. O que a gente aprende nas aulas do PIBID, vivemos lá fora.”

Aluno 5: “Estou achando muito bom, porque com o PIBID nós estamos elevando mais nossos conhecimentos. E estamos aprendendo novas coisas interessantes e isso é muito bom para nosso futuro.” 
 
Com estes comentários percebemos que os alunos avaliam positivamente as aulas, visto que a maioria deles afirma gostar da “maneira diferente e dinâmica” com que as aulas acontecem. Nos comentários, os alunos destacam o olhar crítico que nós bolsistas trazemos para as questões discutidas nas aulas por meio do trabalho com projetos temáticos rotativos.
Portanto, a opinião dos alunos interessa-nos para que possamos orientar cada vez mais nosso trabalho em sala de aula, visando sempre a troca de saberes, momento em que professores e alunos aprendem.
Creio que o PIBID, ao trazer o espaço escolar para nossa vivência de formação profissional, permite-nos que ajudemos na formação dos alunos, que, ao nosso olhar, mais que alunos, são cidadão que se formam principalmente na escola e atuam no meio social.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Afinal, o que é a produção escrita?

Por Carla Micheli Carraro


Um dos eixos do ensino de Língua Portuguesa está pautado na produção escrita.
Como solicitar uma produção escrita para seus alunos, professor?
Antes de mais nada, é necessário destacar que a concepção que o professor tem sobre o que é escrever e como escrever implicará na maneira como este professor irá proceder o ensino de produção escrita e em como o aluno vai entender o que é e como escrever seu texto.
Segundo Antunes (2003), o trabalho com a escrita, na escola, tendo por base a concepção tradicional, não considera o papel do aluno na condição de sujeito do que escreve e do que diz. Além disso, a escrita é entendida como sendo mecânica, para reproduzir sinais gráficos e verificar se houve a memorização e aprendizado das regras de ortografia, observando se não ocorreram erros ortográficos, que são, na maioria dos casos, os únicos aspectos corrigidos nas produções escritas dos alunos pelo professor.
Na visão tradicional em relação à produção escrita (ou como é mais conhecida: a redação) trabalha-se com uma escrita artificial, sem ligação com um determinado contexto, fazendo o aluno escrever uma redação sem função e finalidades, sem interlocutor, sem contexto, sem interação, sem condição de produção, concebendo o texto apenas como um espaço para palavras e frases soltas. Neste caso, o aluno escreve porque lhe pediram para escrever, sem nenhum porquê, é a redação do tipo “Minhas férias”. Assim, o aluno escreverá somente para o professor, visando alcançar uma nota. Portanto, vemos uma escrita sem planejamento, totalmente improvisada e sem vinculação com a prática. Além disso, a correção do professor muita vezes é esta: passa os olhos na folha, coloca um “V” de visto e encerra a atividade de escrita desta forma.
Veremos agora a produção escrita pelo viés interacionista, que é o indicado pelos documentos oficiais de ensino:
A concepção interacionista, segundo Antunes (2003), concebe a escrita sob o prisma da interação, da relação entre sujeitos e dos diálogos que surgem desta relação. Assim, toda escrita pressupõe um interlocutor, um alguém para estabelecer a interação e para dividir o momento da escrita, ainda que, na escola, este outro alguém seja fictício, mas é de grande relevância a sua presença nas produções textuais dos alunos.
O professor deve fazer o aluno compreender que se escreve para cumprir uma função comunicativa, isto é, a escrita tem um porquê. E, assim, há uma diversidade de textos circulando socialmente, os gêneros discursivos.
Escrever também implica em etapas:
1ª. planejar (“ter o que dizer”): pesquisar sobre o tema, estipular objetivo, o gênero, organizar ideias, pensar no leitor do texto;
 2ª. operar/escrever: por as ideias no papel, escolher palavras, estrutura das frases, pontuação, coerência, coesão;
3ª. reescrever: fazer uma autoavaliação, revisar o que foi escrito, melhorar as ideias, rever conteúdo e forma, é neste processo que se visualizam adequações textuais que levam a melhorias da escrita. Contudo, nem sempre a reescrita é trabalhada no espaço escolar.

Assim, na abordagem interacionista o aluno é sujeito do que escreve; os textos trabalhados são diversificados e têm funções sociais; há interlocutores; há um contexto para a escrita; há a presença das etapas de planejamento, escrita e revisão; há a preocupação com o conteúdo, forma e coerência global, resultando, enfim, em melhorias relacionadas à produção escrita.

Nas aulas realizadas por nós, professores em formação pelo PIBID, buscamos sempre trabalhar com produções escritas (pautadas na concepção interacionista) com os alunos. Estas produções são realizadas após um período de leituras com os alunos, de debates, de conhecimento da temática e do gênero a ser produzido.

Referência
ANTUNES, Irandé. Aula de português: encontro e interação. São Paulo: Parábola Editorial, 2003.

sexta-feira, 10 de maio de 2013

E a TV pen drive, professor? Se ligue nesta ideia!

Por Carla Micheli Carraro


              Nesses últimos anos, todas as escolas públicas do Paraná receberam a TV pen drive. Em todas as salas de aula há a “TV laranja”, como é conhecida pelos alunos. É um instrumento que pode auxiliar positivamente nas aulas.
            Assim, para enriquecer a aula, o professor pode trazer imagens, músicas vídeos relacionados à temática trabalhada, ou seja, é um complemento para a aula. Além disso, sabemos que aulas extremamente tradicionais, em que o professor apenas transmite conteúdo para seus alunos, é uma metodologia que vem sendo combatida, podemos confirmar esta questão nos próprios documentos oficiais de ensino – PCNs; DCEs – os quais postulam que o aluno é um sujeito ativo, que deve participar criticamente da construção de seu próprio aprendizado. Portanto, as aulas devem estar pautadas na interação e, desta forma, a TV pen drive, se bem utilizada, atua como um fomento às discussões em sala.
            Porém, não é raro escutarmos por aí alguns professores dizendo que a TV foi um mau investimento, outros afirmam nunca a ter utilizado, alguns ainda se apoiam na idade, dizendo que não sabem lidar com essas novas tecnologias...
            Ora, um professor interessado, preocupado e que queira acompanhar o ritmo dos alunos sempre pode aprender, e usar a TV pen drive não é um bicho de sete cabeças. As novas tecnologias estão chegando no espaço escolar, ainda que lentamente. E isso é só o começo, pois hoje, o perfil dos alunos é diferente dos do passado e dificilmente se contentem (e nem devem se contentar!) apenas em escutar o professor repassando o conteúdo.
            Uma escola que queira estar sintonizada com a sociedade contemporânea e não à margem dela, terá que começar a pensar em tecnologias, não para substituir o papel do professor, mas para complementar a sua atuação.
            Agora fica a questão: Se a TV está nas salas de aula e pode contribuir para o ensino, então por que não utilizá-la?

A TV pen drive nas aulas do PIBID-Português
            Durante as aulas que ministramos na escola pública, nós, bolsistas-PIBID, procuramos sempre estabelecer o diálogo com os estudantes, buscando a troca de conhecimentos e, para isso, muitas vezes, fazemos uso da TV pen drive. Percebemos que os alunos aprovam a ideia.
            Em nossas aulas, com a utilização da TV, já trabalhamos com análise de músicas, clipes de músicas, imagens diversas, curtas-metragens, notícias de jornais em vídeo, propaganda em vídeo, fragmentos de filmes, sempre com um objetivo maior que é despertar cada vez mais a criticidade dos estudantes.
            Um exemplo são os clipes das duas músicas abaixo, que utilizamos como complemento para discutir questões relacionadas ao projeto temático que estamos desenvolvendo na escola: Consumismo. Essas músicas trazem em seu conteúdo um alto teor de crítica e isso foi discutido em sala de aula.

-        Música: Geração Coca-cola de Legião Urbana:

-        Música: Terceira do Plural de Engenheiros do Hawaii

            O interessante é que quando pensamos em TV logo nos vem em mente a ideia de alienação e, de fato, se os alunos não têm um olhar crítico, a televisão é um dos instrumentos mais alienantes que existe. Porém, na escola, ela exerce um papel totalmente contrário a este, visto que, se o professor planejar o que irá apresentar na TV pen drive, ela servirá como um despertar crítico para diversas discussões.
            Clic! Se ligue nesta ideia!

sexta-feira, 3 de maio de 2013

É sempre bom saber: O que é a concepção normativa de linguagem?

Por Carla Micheli Carraro


Pensar em uma concepção normativista de linguagem é pensar em uma atitude prescritiva, ou seja, na presença de regras indiscutíveis, observando, segundo Faraco (1997), a presença de uma divisão maniqueísta entre certo e errado para os fatos da língua. No normativismo, todos aqueles que não utilizam a língua “corretamente” estão cometendo um erro, assim, os falantes estão submetidos a esta língua. Então, “o normativismo concebe a língua como uma instituição pétrea: pronta, fixa, externa aos falantes” (FARACO, 1997, p. 49). Esta concepção traz uma visão estática da realidade linguística.
Embora se tenha hoje reflexões modernas acerca da língua, como a Linguística que postula a existência de variedades linguísticas conforme o contexto, o normativismo ainda continua fortemente no ensino e é por esta razão que podemos afirmar que a modernidade não chega à escola. O normativismo “continua arraigado no senso comum e a ele está presa a escola” (FARACO, 1997, p. 54). Sendo assim, a concepção normativa fecha os olhos para a modernidade, para a dinâmica da vida social e prega uma visão de linguagem estática.
Um aspecto importante em relação à modernidade e à escola é a democratização do ensino, em que a educação não é mais elitizada, mas um direito de todos. Neste sentido, passam a frequentar a escola falantes de todas as variedades do português, ocorrendo então um encontro entre a fala prestigiada e a fala de menos prestígio e junto a isso, há um choque de valores, uma vez que:

se alia, nas representações da escola, a depreciação da linguagem com a depreciação das capacidades intelectuais daqueles falantes. E, quando o lado mais poderoso no ambiente escolar acha o outro incapaz, pecebe-se que ele acaba por transformá-lo em incapaz, abrindo o rombo da repetência e da exclusão. (FARACO, 1997, p. 58)
 
Percebemos, então, a presença de um paradoxo: a escola diz ser democrática como exige a modernidade, mas com a postura normativista em vigor, ela acaba sendo um forte espaço de exclusão e preconceito linguístico.

Pensando em tudo isso, qual seria a concepção de linguagem coerente com a Modernidade?
Quando pensamos em modernidade, vem à tona a ideia de democratização. Assim, a concepção de linguagem coerente com a modernidade é aquela que respeita e constrói o aprendizado e a autonomia de todos os alunos, contribuindo para a cidadania. E no campo da educação linguística, Faraco (1997) comenta que é preciso de práticas que cessem com a visão fixa do normativismo, trabalhando com a linguagem oral ou escrita, não como algo descontextualizado e submetido ao falante, mas como um conjunto de atividades socioverbais, que considerem o contexto e as práticas sociais e o próprio falante.
    É importante destacar que a função da escola é ampliar o repertório linguístico do aluno, levando-o a conhecer cada vez mais a língua formal, mas não é função da escola julgar e mudar totalmente o repertório do aluno em bases normativas.
No normativismo não há contexto, mas a modernidade exige isso. Logo, as concepções precisam ser inovadas. Quando muda-se a concepção de linguagem, mudam-se os conteúdos, muda-se a visão do aluno e do professor mudando também a ideia que se tem a respeito de o que é aprender e o que é ensinar.

Texto de apoio:
FARACO, C. A. Linguagem, escola e modernidade. In: GHIRALDELLI Jr, P. (Org). Infância, escola e modernidade. São Paulo: Cortez; Curitiba: Editora UFPR, 1997.