sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Gêneros e tipologias textuais

Por: Elizandra Feld

Os termos “gênero textual” e “tipologia textual” geralmente são apresentados aos alunos no Ensino Médio, quando esses temas fazem parte da grade curricular; no entanto, estamos cercados por eles desde que nos reconhecemos como parte do mundo.

Vivemos cercados por textos; estes não precisam ser necessariamente textos escritos, mas podem ser também orais, como uma palestra, por exemplo, ou ainda, os logotipos que, por sua vez, transmitem uma ideia. Considerando que o texto deve ser uma unidade que transmite um sentido, ele pode ser expresso em uma palavra como S.O.S = SOCORRO, desde que traga consigo uma carga de significado.

Ao partirmos do pressuposto de texto como uma unidade linguística capaz de transmitir algum sentido dentro de um determinado contexto, empregamos dois conceitos distintos: o de gêneros textuais e o de tipologias textuais.

Os gêneros, segundo a definição bakhtiniana, são tipos relativamente estáveis de enunciados. Eles vão surgindo conforme as necessidades das pessoas; sendo assim, com o passar do tempo, novos gêneros vão surgindo e outros deixando de existir, visto que as necessidades de seus usuários vão mudando. É necessário considerar nesse aspecto a condição imposta pela tecnologia também, que a cada dia nos mostra novos horizontes e, também, nos impõe novas necessidades de criação de uma comunicação mais ágil e efetiva.

Além dos gêneros serem inúmeros, por surgirem a partir da necessidade das pessoas, eles, ainda, precisam de um meio de circulação, ou seja, cada gênero específico está inserido dentro de uma esfera social, por exemplo, na esfera religiosa temos os gêneros sermão, oração etc; na esfera jornalística: a reportagem, a notícia, a manchete, entre outros. Por fim, ainda é necessário que o gênero possua um suporte, isto é, o local onde o gênero é veiculado, sendo sua principal finalidade a de fixar e mostrar o gênero.

os tipos textuais, por sua vez, apresentam um número delimitado, com características específicas e fixas. Podemos identificar cinco tipologias: a descritiva, a narrativa, a argumentativa, a expositiva e a injuntiva. Como dito antes, as tipologias textuais possuem características mais fechadas, específicas de cada modalidade. Desse modo, seguem algumas dessas características:

- descritiva: geralmente apresenta verbos estáticos, como ser/estar, por exemplo. O tempo empregado é o presente ou pretérito imperfeito.

- narrativa: apresenta verbos de mudança no passado, situados no tempo e no espaço; é indicativa de ações.

- expositiva: utilizada para demostrar/identificar fatos ou fenômenos. Este tipo de texto tem como foco a transmissão de uma informação ao leitor. A linguagem apresentada pode ser classificada como bastante objetiva e precisa. Destaca-se, ainda, que essa tipologia não apresenta juízos de valor sobre a informação. Os gêneros em que esse tipo pode ser encontrado são: bulas de remédio, notícias de jornal, livros didáticos, editais, informativos.

- argumentativa: geralmente emprega o verbo ser no presente, sua principal característica são os argumentos ou opiniões expressas no texto.

- injuntiva: emprega-se o verbo imperativo. Ex.: Compre agora.

Embora saibamos que gêneros e tipos textuais são coisas distintas e que colocamos aqui separados para melhor compreensão, cabe ressaltar que os dois caminham juntos, ou seja, todo gênero é mesclado por tipologias textuais. Por exemplo, uma mesma propaganda pode apresentar as tipologias argumentativa, injuntiva, descritiva, expositiva e, se for bem elaborada, pode apresentar a narrativa também. Dessa forma, é importante estudá-los conjuntamente, visto que gêneros e tipos textuais se completam, um precisa do outro para garantir sua existência, bem como para serem melhor compreendidos.

Referências
GRECO, Eliana Alves. Gêneros Discursivos e Tipologias Textuais. In: SANTOS, Annie Rose dos; GRECO, Eliane Alves; GUIMARÃES, Tânia Braga (orgs.). A produção textual e o ensino. Maringá: Eduem, 2010.

texto expositivo. Disponível em: http://descomplica.com.br/portugues/tipologia-textual/texto-o-texto-expositivo#. Acesso em: 28 out 2014.

sábado, 25 de outubro de 2014

Identificando o gênero discursivo e as tipologias textuais em um texto da esfera jornalística

Por: Rosana Taís Rossa

É muito comum encontrarmos os termos “tipos” e “gêneros” textuais empregados como sinônimos. No entanto, sabemos que a diferença entre os dois elementos existe e é visível. Ao analisarmos a esfera jornalística, podemos ilustrar as características de um gênero textual e das tipologias que o compõem. A notícia abaixo relata o rumo tomado pelas manifestações ocorridas em junho de 2013 nas grandes capitais do país.

Os já habituais protestos do 7 de Setembro ganharam força neste ano, quase três meses após a onda de manifestações que varreu o país. Rio de Janeiro, Brasília e São Paulo foram palco dos protestos mais violentos. Houve confronto com a polícia e dezenas de detenções.

O protesto teve os manifestantes habituais, como os movimentos sociais em torno do Grito dos Excluídos (de inspiração católica). Mas, neste ano, foi engrossado por muitos dos manifestantes que em junho foram à ruas pela primeira vez, durante os protestos dos 20 centavos. E cenas de confronto voltaram a se repetir.
No Rio, manifestantes entraram na avenida do desfile cívico-militar pela manhã. Houve confronto, bombas de águas e feridos, entre manifestantes e público. À tarde, manifestantes, incluindo black blocks, seguiram ao monumento Zumbi dos Palmares, na avenida Presidente Vargas, e queimaram a bandeira do Brasil. O grupo seguiu depois ao palácio da Guanabara, sede do governo. Segundo informações oficiais, 27 manifestantes foram detidos.
Na capital de São Paulo, manifestantes chocaram-se com a polícia no centro antigo. Um grupo, com black blocks, tentou depredar a Câmara Municipal e seguir depois para a Sé. Ainda não há balanço oficial sobre o número de detidos.
Em Brasília, manifestantes se enfrentaram e foram dispersos pela polícia nos arredores do Congresso, do estádio Mané Garrincha e no Museu da República. Segundo informações oficiais, foram detidos 35 adultos e 15 adolescentes.
O protesto teve início em frente ao Congresso Nacional, com cerca de 3 mil manifestantes. A concentração se deu a pouca distância da tribuna onde a presidente Dilma Rousseff acompanhava o desfile cívico-militar em comemoração aos 191 anos da independência.
Parte do grupo dirigiu-se depois ao entorno do estádio Mané Guarrincha, onde a Seleção Brasileira enfrentou a Austrália em jogo amistoso.
A Polícia Militar do Distrito Federal bloqueou o acesso, com a tropa de choque e a cavalaria. Manifestantes entraram em confronto e a cena seguinte foi de corre corre em meio ao gramado seco da capital federal.
Bombas de gás lacrimogênio e spray de pimenta foram usados na dispersão dos manifestantes, que voltaram a se enfrentar com os policiais na rodoviária.
Os manifestantes seguiram pelo eixo monumental em direção ao Congresso. Foram contidos pela polícia, deram meia volta e seguiram ao Museu da República, onde se deram outras cenas de confronto.

Disponível em: http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/bbc/2013/09/07/black-blocks-cativam-e-assustam-manifestantes-mundo-afora.htm. Acesso em: 17/09/2013.


A partir desse texto, podemos observar que gênero e tipo se mesclam para que o conteúdo seja completo. O gênero discursivo “notícia” consiste no resumo de um acontecimento. Portanto, as informações nela impressas devem ser um tanto superficiais, sem muita riqueza de detalhes. Entre as características desse gênero podemos apontar que a notícia deve comunicar o fato e não traçar argumentos sobre ele, devendo responder algumas questões, como: qual é o acontecimento? Onde ele ocorreu: em que cidade, estado, país? Quando aconteceu: que dia, mês, ano? Por que aconteceu: o que está por trás? Quais foram as possíveis consequências?
Como estrutura composicional do gênero, vemos que ela é composta por duas partes, sendo elas a manchete e o texto. A manchete resume a notícia em poucas linhas (2 a 3) e tem o objetivo de atrair o leitor para ler o conteúdo como um todo, ao passo que o texto narra os acontecimentos em questão. A diferença entre notícia e reportagem é que a primeira informa fatos de maneira mais objetiva e aponta as razões e efeitos. A segunda vai mais a fundo, faz investigações, tece comentários, levanta questões, discute, argumenta.

Agora, ao pensarmos nas tipologias textuais, observamos que esse texto apresenta duas delas:

Narrativa: “No Rio, manifestantes entraram na avenida do desfile cívico-militar pela manhã.” (...) “À tarde, manifestantes, incluindo black blocks, seguiram ao monumento Zumbi dos Palmares, na avenida Presidente Vargas, e queimaram a bandeira do Brasil.”
(…) “A Polícia Militar do Distrito Federal bloqueou o acesso, com a tropa de choque e a cavalaria.”
A narração consiste no relato de um fato, um acontecimento. Para que esse fato ocorra, é necessário que existam seres executando ações, em determinado tempo e espaço. Os verbos aparecem predominantemente no passado e expressando ações. No excerto acima, percebemos que o texto está contando aos leitores que os manifestantes entraram em determinada avenida, queimaram a bandeira do nosso país e, em seguida, foram acuados pela tropa de choque.
Portanto, podemos considerar esse trecho como narrativo, já que temos:
- Seres que executam as ações: manifestantes, black blocks e policiais;
- Tempo e espaço: 7 de setembro (a data não aparece nesse trecho, mas o leitor tem essa informação ao ler a manchete da notícia), avenida Presidente Vargas;
- Verbos no passado que indicam ação: entraram, seguiram, queimaram e bloqueou.


Expositiva: “Na capital de São Paulo, manifestantes chocaram-se com a polícia no centro antigo. Um grupo, com black blocks, tentou depredar a Câmara Municipal e seguir depois para a Sé. Ainda não há balanço oficial sobre o número de detidos. Em Brasília, manifestantes se enfrentaram e foram dispersos pela polícia nos arredores do Congresso, do estádio Mané Garrincha e no Museu da República. Segundo informações oficiais, foram detidos 35 adultos e 15 adolescentes. O protesto teve início em frente ao Congresso Nacional, com cerca de 3 mil manifestantes. A concentração se deu a pouca distância da tribuna onde a presidente Dilma Rousseff acompanhava o desfile cívico-militar em comemoração aos 191 anos da independência.”
Na tipologia textual exposição, temos a transmissão de uma informação ao leitor. Uma das características desse tipo é que ele apresenta as informações em uma sequência. Outra característica importante é que ele pode trazer dados, mas sem expressar o posicionamento do autor.
Então, definimos esse trecho como expositivo, pois apresenta:
- O fato como ele aconteceu;
- Os acontecimentos estão narrados em sequência: Em São Paulo, manifestantes chocam-se com a polícia; Black blocks tentam depredar locais públicos; Não se sabe ao certo quantos foram detidos; Em Brasília, manifestantes iniciam tumultos, mas são dispersados por policiais etc.
- Dados são apresentados: Foram detidos 35 adultos e 15 adolescentes; O protesto teve início em frente ao Congresso Nacional, com cerca de 3 mil manifestantes.
Retomando o conceito de notícia, vemos que ela não apresenta argumentos, centrando-se apenas em relatar os fatos. A tarefa de argumentar, opinar e se posicionar diante de um acontecimento cabe à reportagem, o que acarreta no aparecimento da tipologia argumentativa no decorrer no texto, elemento esse que não é comportado aqui. Portanto, vemos que dentro de um gênero discursivo específico, a notícia, temos duas tipologias textuais diferentes, sendo elas a narrativa e expositiva. 

sábado, 18 de outubro de 2014

A escola e seus muros

Por: Lorena Reck Portela Rebesco

O filme “Entre os muros da escola” (Direção: Laurente Cantet. Produção: Caroline Benjo e Carole Scott. Paris Imovision, 2008, DVD) descreve a realidade de uma escola francesa nos dias atuais. Embora se trate de um colégio francês, os fatos ali retratados poderiam ocorrer em qualquer escola brasileira.
O enredo aborda as dificuldades vividas na sala de aula em decorrência da diversidade cultural, econômica e social existente entre os alunos, professores, diretores e sua equipe. Na sala do professor Marin existem alunos imigrantes, chineses, africanos, etc. A maioria dos conflitos é decorrente da comunicação truncada que ali se estabelece, pois cada um, além de possuir uma língua, também possui um léxico diferente e, principalmente, culturas distintas. O professor fala francês e utiliza a variedade padrão para se comunicar com os alunos. Os adolescentes falam outras línguas e possuem seu próprio idioleto, cheio de gírias. Dessa forma, não fica difícil imaginar os conflitos que se instalam.
Também ocorrem conflitos relacionados à sexualidade, racismo e preconceitos de modo geral. O telespectador tem a impressão de que o cotidiano escolar é um vulcão prestes a entrar em erupção a qualquer momento, devido ao clima tenso estabelecido entre a equipe.
De um lado, os professores acreditam que a solução para esses problemas é aumentar a punição, criando um código com condutas e penalidades para os alunos. Entendem que assim estes terão mais interesse e respeito pela escola. Do outro lado, os alunos criticam a conduta dos professores, dizendo que estes não respeitam seus direitos e opiniões. Fatos embaraçosos corroboram essa argumentação, como, por exemplo, a ocasião em que o professor Marin quis obrigar uma aluna a fazer uma leitura, ou quando disse que outra aluna estava se comportando como uma “vagabunda”.
O interessante é que a história em nenhum momento é tendenciosa, pois não faz juízo de valor em relação aos alunos, professores ou diretores. Ora parece que estes cometem erros, ora aqueles. O que fica claro é o constante atrito e dificuldades na convivência e educação escolar.
Como já foi dito, embora o filme retrate o dia a dia de uma escola francesa, verifica-se que os fatos ali retratados também estão presentes na realidade das escolas brasileiras. Esses conflitos denunciam que há problemas estruturais em nosso sistema de ensino, principalmente em relação à qualidade deste.
Contudo, a constatação desses problemas já é um grande passo para que seja repensado o papel da escola. Afinal, a construção de uma instituição democrática que, acima de tudo, aceite as diferenças sociais, econômicas e culturais de seus integrantes, necessita de tempo e de uma análise minuciosa por parte dos professores e equipe. Cabe salientar que qualquer trabalho a ser desenvolvido após essa análise coletiva precisa levar em conta o respeito à história e à origem dos alunos, bem como os princípios contidos na Declaração Universal dos Direitos Humanos.



sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Entre os muros da escola

RESENHA

Entre os Muros da Escola. Direção: Laurent Cantet. Produção: Caroline Benjo e Carole Scotta. Paris: Imovision, 2008.

Elizandra Feld


O filme Entre os muros da escola, do diretor Laurent Cantet, traz a história de François, professor de uma escola da periferia parisiense. Com boas intenções, François e seus colegas se apoiam para tentar manter vivo o estímulo de dar a melhor educação a seus alunos.
   Na sala de aula, na França contemporânea, há um choque entre as diferentes vivências e culturas dos jovens. Nesse contexto, os professores têm dificuldade de manter o domínio de turma, devido às frequentes conversas e atritos entre os estudantes.
O filme nos faz refletir sobre nosso papel de professores, faz pensar as dificuldades e limitações do nosso trabalho. Como ensinar em uma turma que, aparentemente, não se interessa em aprender os conteúdos propostos? Ou, ainda, como ensinar aqueles alunos que não respeitam aos professores? Essas e outras questões vêm a nossa mente, quando analisamos as salas de aula da atualidade.
É necessário pensar no nosso comportamento diante dos alunos, visto que eles, muitas vezes, espelham-se nos seus professores. Sendo assim, aquilo que dizemos pode atuar de forma decisiva para a formação dos alunos. No filme, temos um mau posicionamento do professor François, quando se refere as suas alunas com o termo pejorativo de “vagabundas”. Tal fato corroborou para que a relação professor-aluno ficasse ainda mais complicada. Analisando esse comportamento do professor em relação as suas alunas, entende-se que enfrentar o aluno nem sempre é a melhor solução a ser adotada, mas é o caso de propor conversas, diálogos com os alunos.
Além de tudo, é necessário reconhecer que o aluno sempre tem algum conhecimento e que nenhum ser humano é desintegrado do saber, isto é, todo e qualquer indivíduo é dotado de algum conhecimento, não importa se é científico, empírico ou do senso comum, todos possuem sua validade. Muitos professores atuam ainda no modelo de educação bancária, criticado por Paulo Freire, grande contribuinte para os estudos na área da educação. Nesse modelo, os alunos são meros recipientes que precisam ser “enchidos” e aqueles que mais se permitirem serem preenchidos são considerados os melhores. Não existe a preocupação de fazer do aluno um ser pensante, mas sim aquele que deve apenas decorar e assimilar datas e conteúdos.
François tinha grandes desafios. Um deles era o ensinar a língua francesa de forma a fazer os alunos falar fluentemente. Além disso, o desafio de atingir todos os alunos na mesma proporção, visto que vinham de diferentes países e, assim, carregavam diferentes culturas. Isso se torna também um desafio para nós, visto que no Brasil também temos um pluralismo de culturas. Precisamos, enquanto professores, reconhecer a cultura, valorizar o aluno, sua língua e, principalmente, integrar esse aluno no meio social em que vive.
Nós, professores, necessitamos estar preparados para enfrentar as diferentes realidades vivenciadas em cada escola. Cada aluno é singular naquele meio, apresentando diferentes histórias, qualidades e necessidades. É imprescindível, também, atuar de forma imparcial, sem olhar a classe social dos nossos alunos, adotando uma postura adequada diante deles.
O filme Entre os muros da escola é recomendado aos professores da atualidade, tanto de Língua Portuguesa, quanto de outras licenciaturas, já que apresenta as dificuldades vivenciadas por um professor numa escola de periferia, bem como a dificuldade dos alunos em relação aos métodos aplicados pelo professor. Serve, também, para que possamos fazer uma auto-avaliação, ou seja, refletir acerca de nossas práticas de ensino e nosso papel enquanto mediador do conhecimento.