sábado, 26 de dezembro de 2015

A importância do trabalho de análise linguística na formação de uma sociedade mais isonômica e justa

Por: Lorena Reck Portela Rebesco

Muito se tem discutido sobre o que deve ser trabalhado nas aulas de português do ensino fundamental e médio. De um lado, professores mais tradicionais que defendem o ensino da gramática, também conhecida como estudos metalinguísticos, ou seja, um trabalho que consiste em dar nomes e estabelecer conceitos para cada fenômeno da língua, como, por exemplo, o que é um substantivo, adjetivo, pronome, etc., e qual a função de cada um desses elementos na frase. De outro lado, temos linguistas que acreditam que, antes de tudo, é essencial que o aluno domine a língua efetivamente, que ele saiba compreender o sentido do que ou ouve e consiga, também, transmitir seu pensamento a outras pessoas de maneira eficaz.
Cabe registrar ainda que, no ensino da metalinguagem, o professor analisa palavras isoladas de um texto, e seu objetivo, em geral, é corrigir erros de ortografia. Na análise linguística, o objeto de estudo são textos, analisados em sua completude, para muito além da grafia correta das palavras. São priorizadas, entre outras características, a coerência, coesão, clareza, adequação do gênero e objetividade das produções textuais.
A crise educacional nos mostrou que insistir em uma educação restrita a práticas metalinguísticas é insistir em um trabalho inócuo, que não tem rendido bons frutos. Prova disto é a quantidade de analfabetos funcionais, que decodificam as palavras de um texto, mas não compreendem a mensagem nele contida. Por isso, é importante que cada vez mais professores desenvolvam trabalhos em sala de aula voltados para análise linguística, mesmo porque tal prática está prevista e é recomendada pelas Diretrizes Curriculares de nosso estado (PARANÁ, 2008). Contudo, surgem muitas dúvidas: como trabalhar análise linguística em sala de aula? Quais são as atividades que podem ser desenvolvidas com essa finalidade? Afinal, a maioria dos livros didáticos ainda prioriza o ensino baseado na metalinguagem. E o trabalho com a análise linguística é muito mais complexo, pois não é algo estático, como a memorização de nomenclatura ou regras gramaticais.
Muito longe de tentar elencar as principais formas de se trabalhar esse assunto em sala de aula, mesmo porque muito ainda a ser descoberto nessa área, sugerem-se a seguir algumas práticas interessantes compartilhadas nos trabalhos de Geraldi (2003) e Antunes (2007). Em primeiro lugar, o professor precisa trabalhar a leitura e escrita de textos como práticas sociais significativas e integradas em vez de exercícios estruturais de gramática (normativa e teórica). Ele deve desenvolver mecanismos para que os alunos saibam fazer uso adequado da língua conforme a situação sócio-interativa e conforme o gênero textual exigido para determinada situação.
Isso não implica o abandono total da gramática, mesmo porque ela é necessária. O docente pode e deve ensinar regras de pontuação, grafia correta das palavras, maiúsculas, segmentação de palavras, frases e parágrafos, etc, mas tudo isso por meio de atividades de linguagem. Segundo Antunes (2007), deve ser realizada muita leitura/releitura, de reflexão e operação sobre a linguagem (reescrita de textos, reestruturação de frases e parágrafos).
O que podemos concluir é que o trabalho com a análise linguística nas aulas de português exige do professor maior dedicação e tempo, contudo, acreditamos que esse trabalho renderá bons frutos, não apenas na esfera escolar, mais principalmente na sociedade. Pois a partir do momento que todas as pessoas conseguirem efetivamente ler, interpretar e interagir com o mundo a sua volta (seja ao contratar algo, ler uma notícia, reivindicar um direito, manifestar uma crença, etc.), certamente nos tornaremos, todos nós, cidadãos mais comprometidos com a construção de uma sociedade mais isonômica e justa.

Referências:

ANTUNES, I. Muito além da gramática: por um ensino de línguas sem pedras no caminho. São Paulo: Parábola editorial, 2007.

GERALDI, J. W. Concepções de linguagem e ensino de português. In: GERALDI, J. W. (org.). O texto na sala de aula. 4 ed. São Paulo: Ática, 2003, p. 39-46.





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